28. A bomba ( parte 2)

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-E então?

- O que você espera que eu diga, Rafael? - Verena gritou, após alguns minutos de silêncio. Seu rosto estava vermelho, a veia de seu pescoço pulsava.- A Aisha não devia ter te falado porra nenhuma!

- Você realmente acha que eu não deveria saber? Ou que eu não ficaria sabendo? Caralho, Verena, a gente mora em uma cidade de quarenta mil habitantes, quanto tempo você acha que eu demoraria para saber que você...

- Que eu estou doente, que eu posso morrer? Eu não quero isso. Não quero a piedade de ninguém, muito menos a sua. Não quero que você se sinta obrigado a permanecer comigo.

- Obrigado?? - agora eu também gritava, e cheguei a quase rir do absurdo de sua fala. Joguei as mãos para o alto e balancei a cabeça, incrédulo. - Verena, essa semana... Eu não vivi, Vê. A possibilidade de você deixar de me amar acabou comigo.

Ela olhou para baixo, mas eu dei um passo à frente e segurei seu queixo, obrigando-a a me encarar.

- Eu te amo.

Uma lágrima escorreu de seu rosto e ela a limpou rapidamente, balançando a cabeça.

- Rafael, você tem 17 anos. Eu tenho a droga de um tumor na cabeça em um lugar que pode comprometer minha visão para sempre. Você não quer isso pra você.

- Isso o que?!

- Isso! - ela apontou para si mesma. - Uma menina doente, talvez com câncer, uma bomba prestes a explodir, uma responsabilidade que não é sua!

- Mas você não é isso, Verena! Você é a minha melhor amiga, meu primeiro amor, minha companheira... Você é muito mais do que um punhado de células defeituosas na sua cabeça!

- Você não entende, Rafael... Eu não posso fazer isso com você, caralho! - ela chorava compulsivamente, lágrimas grossas caindo no chão e ela nem se dava ao trabalho de tirá-las de seu rosto.

- O que você não pode é me afastar desse jeito, Verena. Eu tenho voz nessa decisão, sabia?!

- Você está prestes a assinar um contrato com uma gravadora de verdade. Sua carreira está prestes a acontecer. Você lutou por isso e eu não posso viver com a culpa de ter tirado isso de você.

- Mas, Vê...

- Não, Rafael. Minha decisão já está tomada. - ela me interrompeu, caminhando em direção à porta de seu quarto e abrindo-a.

- Verena.

- Vai embora, por favor.

- Olha para mim e diz que não me ama mais. E então eu vou.

Ela balançou a cabeça e respirou fundo.

- Vai embora, Rafael. Eu não te quero aqui.

Sua voz beirava à exaustão. Abri a boca para tentar convencê-la, mas ela me olhou como se estivesse implorando.

- Por favor. - ela pediu tão baixo que eu não tinha certeza se ela realmente tinha dito algo.

Bufei irritado e fui em sua direção.

- Eu não desisti Verena. - eu disse antes de sair do quarto.

Tia Flavia estava no pé da escada, seu rosto contorcido em dor.

- Rafael... Eu, eu sinto muito. Falei que ela deveria ter te contado, mas ela é geniosa e teimosa.

- Ela não pode fazer isso, tia. E eu não estou falando só sobre mim. Ela só contou para a Aisha... O Lucas, a Gabi, o Diego, o Sapo, todos os amigos dela... Eles merecem saber, porque eles a amam e tenho certeza que a presença deles é importante, vai ajudar. Conversa com ela, já que pelo visto eu não posso mais fazer isso.

VERENA - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora