Ótimo. Era minha primeira aula como professor de música da irmã do Diego e eu chegaria atrasado. Mas era um atraso justificado. Verena havia me mandado mensagem pedindo para que eu comprasse um remédio de dor de cabeça para ela a caminho da escola. Ela tinha passado o almoço na Biblioteca estudando para as provas finais, enquanto eu, apesar de precisar de mais nota que ela, fora almoçar com os meus amigos depois da última aula. E, obviamente, eu não podia negar aquele favor à ela, então passei na farmácia e comprei-lhe o remédio.- Nossa, quem pode ser? - ela brincou, quando eu me aproximei em silêncio e cobri seus olhos com minhas mãos. Ri e beijei sua testa, entregando-lhe o remédio. - Obrigada, minha cabeça tá estourando.
- Por nada... - eu disse pausadamente, considerando o que iria lhe dizer em seguida. - Vê , você não acha melhor procurar um médico? Você tem reclamado de dor de cabeça há dias!
- Eu tenho estudado demais, é só isso. Não se preocupa. - ela sorriu, tomando o comprimido. Acariciei sua bochecha e ela fechou os olhos. Ainda estava linda, mas tão abatida e cansada que o brilho tão comum emanado por ela tinha diminuído.
- Você deveria diminuir o ritmo, amor. O mundo não vai acabar se você não fechar o ano com nota máxima em todas as matérias, sabia?
- Ei, você não tinha tutoria agora? - ela disse um tanto quanto alto, fazendo com que recebêssemos um olhar feio da bibliotecária.
- Tenho, mas é só às 15h. - dei de ombros e ela gargalhou.
- Já são 15h15, Rafa. - ela apontou para o grande relógio da Biblioteca.
- Caralho! - gritei, esquecendo completamente onde estávamos. Joguei meu violão por cima do meu ombro e saí correndo. - A gente se fala mais tarde, amo você!
Pude ouvir sua risada enquanto descia as escadas que levavam à sala de música e sorri. Era meu som favorito no mundo, melhor que qualquer música. Abri a porta da sala com força, assustando a menina que se encontrava ali. Ela era a versão feminina do Diego. Os cabelos pretos contrastavam com sua pele alva, caindo até o meio de sua cintura em ondas largas. Ela certamente era alta para seus 14 anos, batendo em meus ombros. Como sempre convivera com Diego, eu já vira Fabiana várias vezes, mas nunca tivemos qualquer contato. Talvez por isso ela tenha ficado vermelha da cabeça aos pés quando me viu e passou a encarar os tênis.
- Oi, Fabiana! Desculpa o atraso. Eu estava ...
- Com a Verena. - ela me interrompeu e eu a olhei confuso, acenando com a cabeça.
- Como você sabia ?
- Minhas amigas me mandaram mensagem. - ela apontou para o celular. - Falaram que você levou remédio para ela e que foi uma das cenas mais fofas que elas já viram.
- Puxa... Obrigado, eu acho. Não sabia que minha vida era motivo de fofoca. - brinquei e ela riu baixinho.
- Vocês são meio que O casal daqui. - ela deu de ombros, suspirando.
- Enfim, desculpa. Prometo que serei pontual nas próximas aulas. - abaixei-me para retirar meu violão da capa e peguei também a ficha escolar de Fabiana que a professora de música do fundamental me passara.
- Esse é meu boletim? - ela apontou para o papel que eu segurava. - Você vai ficar surpreso ao perceber que eu não sou nem um pouco inteligente quanto meu irmão.
Ela não disse isso com um tom resignado ou amargurado, era uma piada e eu ri de seu bom humor.
- O Diego que passou do ponto, mesmo. - ela riu, concordando com a cabeça. - Mas, música... Você não gosta, ou... Qual o problema?
- Eu faltei em quase todas as aulas, não sei se gosto ou não.
- Você faltou na única matéria suportável daqui? Espero que tenha um bom motivo!
- Eu tenho. - ela disse simplesmente e senti que ela não queria falar sobre aquilo.
- Ahn, então pelo que eu conversei com a sua professora você tem um ato musical para apresentar até dia cinco de dezembro. Vai valer setenta por cento da sua nota, então temos muito a fazer nesse período. Você toca algum instrumento musical?
- Não que eu saiba.
- Canta? - ela simplesmente riu e eu coloquei as mãos na cabeça. Eu realmente tinha me metido em uma roubada.
- Eu sei, não vai ser nada fácil. Por que você não toca alguma coisa no seu violão pra eu ver como é mais ou menos e depois eu posso tentar aprender. - ela sugeriu e eu concordei com a cabeça, não tinha ideia melhor mesmo. - Eu sempre quis assistir a um show de sua banda. Mas em nenhum dos lugares que vocês tocam eles liberam a entrada para menores de 16 anos.
Ela parecia inconformada e eu ri. Ela era muito mais falante do que eu imaginava, mas ainda assim parecia um tanto quanto intimidada e envergonhada.
- Ok. O que você quer ouvir?
- Jorge e Mateus.-ela sorriu e eu sorri junto. Era bom poder tocar algo que estava fora do repertório de nossos shows. Sim, apesar de tocar em uma banda de rock, eu gostava de sertanejo. E era bom também ela pedir um artista que eu conhecesse. Verena sempre sugeria cantores ou bandas de quem eu nunca tinha ouvido falar e eu acabava me sentindo um completo idiota.
- Qual? - sentei-me na mesa em sua frente, apoiando o violão em minha perna.
- Uma que te faça pensar em algo bom.
Ri um pouco de sua resposta. Fabiana parecia não querer complicar nada e madura para sua idade. Ainda era uma criança, mas não agia como uma.
- Ok, Fabiana. - concordei, antes de começar a tocar Logo Eu, pensando em - adivinha ! - Verena.
- Me chama de Fabi.
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VERENA - concluída
Fiksi RemajaVerena e Rafael são amigos desde o berço.E essa é a história de como eles passaram de melhores amigos inseparáveis a algo a mais. Algo grandioso. Algo que algumas pessoas passam a vida inteira procurando. Juntos, eles descobriram a raiv...