Estátuas de jardim

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Será que alguém escutou? O que deve estar acontecendo lá fora? Fico de pé e bocejo. Ando lentamente até a porta, destranco-a e saio de meu quarto. Está uma escuridão, apenas algumas tochas estão acesas O castelo todo parece dormir.

Começo a andar na ponta dos pés para não causar nenhum barulho. Olho para a janela, e lá em cima do muro vejo o enorme felino novamente. Ele anda de um lado para o outro, para, senta-se e fica me encarando, exatamente como fez na noite passada. Desvio o olhar e continuo a andar. O que será que aquele animal está fazendo lá em cima?

Percebo que o grande felino está me seguindo, isto é, consigo ver ele andando em cima do muro e indo na direção que estou indo. Ele parece inquieto e se senta, mexendo sua cabeça de um lado para o outro, como uma coruja. Paro mais uma vez para observá-lo, escuto ele soltar uma espécie de rugido, parecido com um miado.

Os gritos parecem perturbá-lo e então sai correndo, vejo-o se afastar e quando chega no final do encontro dos dois muros, meu coração dispara. Eu pensava que ele iria virar, porém ele apenas pulou e sumiu de minha vista. Fico alguns minutos olhando o nada, completamente impressionada com o pulo daquele animal. Será que ele sobreviveu? Pular uma altura daquelas mata qualquer um.

Respiro fundo, sacudo a cabeça e ando até as escadas. Desço um degrau de cada vez, bem cautelosamente. A escuridão sempre me assustou um pouco, nunca gostei de ficar no escuro, causa-me um certo temor. Coisas podem aparecer do nada sem você perceber.

Desviei esse pensamento de minha mente e, quando cheguei no andar de baixo, fui até a cozinha, tateei as mesas e encontrei o que eu queria. Peguei um fósforo e acendi a lamparina. A luz do fogo causava sombras que se mexiam, deixando o lugar com um aspecto macabro. Sai da cozinha e fui até a porta principal.

Um arrepio percorre meus braços, não estava acreditando no que eu ia fazer, estava prestes a sair do castelo e me direcionar aos portões, coisas que eu sempre tentei fazer, mas sempre me impediam. Agora, não tem ninguém acordado e não parecem escutar os barulhos do lado de fora, que agora estão mais altos.

Segurei as maçanetas e as empurrei, por sorte a enorme porta da entrada estava destrancada. Respirei fundo e abri uma pequena brecha, passei por ela e.... Eu estava do lado de fora! Meus pés estavam descalços e frios, causando-me arrepios. Ergui a lamparina e encarei a minha frente. A pequena chama iluminava o enorme caminho de pedra que ia até os enormes portões.

Engoli um seco e dei um passo atrás do outro, olhando para os lados. A entrada de nosso castelo tem flores e estátuas, que de noite, possuem expressões assustadoras. Uma chama a minha atenção, e foco a luz nela. É uma estátua de um ser em pé com enormes olhos, um chifre no meio da testa, orelhas pontudas e um rosto com uma enorme boca que vai de orelha a orelha, é uma criatura que eu nunca ouvi falar na minha vida. Ela possuí um par de asas enormes e, em seus braços, carrega uma mulher, que parece estar morta.

Vou até os pés da criatura a procura de seu nome, não encontro. É estranho, por que todas as outras tem o nome embaixo. Ando mais alguns passos em sua direção e piso na grama. Não estou muito perto, mas tenho a impressão de que ela está respirando. Paro e fico encarando-a.

A mulher cai de seus braços e ela abre os olhos. Dou um grito, meu corpo ficou gélido. A estátua abriu os olhos, eram vermelhos. Sacudiu o corpo e mostrou uma enorme calda pontuda. Ela bateu as asas e olhou para mim. Percebi que não era mais uma estátua, e sim, algo de carne e osso.

A criatura expõe um sorriso maligno e mostra seus enormes dentes afiados. Olho para a mulher jogada no chão, também é de verdade. Era Maya, a arrumadeira, seu vestido estava rasgado e seu corpo ensanguentado. Dou alguns passos para trás, estou tremendo dos pés à cabeça.

O reino de AurionOnde histórias criam vida. Descubra agora