Pratos quebrados

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Acordei lentamente, piscando várias vezes. Eu não sentia mais dor nenhuma e vi que eu não estava nem usando curativos. Olhei em volta e vi Lana encarando o lado de fora da janela e quando percebeu que eu acordei, deu um suspiro.

- Por que não sinto mais dor...? – perguntei com a voz rouca.

- Usei feitiços.... – Ela deu um pequeno sorriso. – Me diga o que aconteceu, por favor.

Demorei um pouco para responde-la, mas expliquei tudo o que acorreu dentro daquela sala de combate. Expliquei o quanto todos estavam insanos e também falei do homem de capa preta e da névoa em seus dedos. A Rainha ficou assustada e completamente preocupada. Se despediu e saiu de meu quarto, pedindo para que eu relaxasse e que iria informar a Kamura e aos outros. Fiquei encarando a porta fechada por bastante tempo, pensado em absolutamente nada até que uma batida na madeira trouxe-me de volta.

- Quem é...? – perguntei, ainda com a voz rouca.

- Aislin... É... Sou eu, Root. – ouvi a voz atrás da porta. – Na verdade, Phoenix, Titânio, Sky e Caren também estão aqui.

Engoli um seco e a imagem de seus olhos insanos veio em minha mente. Uma grande parte de mim ainda estava com medo e assustada. As garras me perfurando, a vontade de me matar... Meu amigo tentou me matar.

- Lin? - ouvi a voz de Phoenix. – Podemos entrar?

- Não. – falei com a voz falhando.

- Por favor. – pediu Titânio.

- Não... – falei mais uma vez. Meus lábios começaram a tremer.

- Eu não queria te machucar. – Root continuou.

- Não parecia. - Comentei.

Após longos minutos de silencio, me levantei e, lentamente fui até a porta, encostando meu ouvido na madeira, tentando escutar o que ocorria no lado de fora. Ouvi sussurros, eles ainda estavam ali na frente.

- Vocês não podem ficar aí a vida toda. – Falei.

- Se minha vida pelo menos valesse a pena, eu não ficaria. – Disse Caren– Mas como não vale, prefiro desperdiça-la aqui mesmo. Então, sim, eu posso ficar aqui a vida toda.

- Abre a porta, por favor... – Ouvi Root. – Eu não vou te machucar.

- Não, Root. – Minha voz ecoou firme- Eu só tenho essa porta para me proteger. Quem garante que, ao entrarem, não vão me matar? Eu vi claramente do que são capazes de fazer. Provavelmente foram controlados, mas e se não foram? Será que apenas perderam o controle? Vocês são demônios e é isso o que fazem, matam, e eu que fui tola e acreditei que, de alguma forma, poderiam ser diferentes... Menos perigosos. – Meus olhos lacrimejaram – Ao tentarem me matar, fiquei apavorada. Eu vi a insanidade nos olhares de vocês, vi a sede por sangue, estavam bem ali na minha frente, prestes a matarem qualquer um que aparecesse na frente de vocês. Então, por favor, não venha com essa história de que não irá me machucar porque você pode muito bem acabar comigo. E eu... Eu estou com medo.

Uma lágrima escorreu de meus olhos. Meu coração apertou e me deu uma vontade imensa de gritar.

- E se eu te disser que também estou com medo? – Disse Root. – Medo de te machucar. Eu não quero isso... Nunca quis.... - Ouvi ele respirar fundo – E sim, nós somos perigosos, sempre fomos. Afinal, é da nossa natureza. E, para ser sincero, nunca pensei que alguém pudesse acreditar em um lado bom em nós, mas apareceu você. A princesa desastrada, dramática e um pouco louca – Ele deu uma pequena risada -, que mesmo sendo diferente, conseguiu se enturmar com a gente. Rindo de coisas idiotas que sempre fazíamos, mas que antes, ninguém percebia. E então, também tentei enxergar um lado bom em mim mesmo. E quando eu me vi tentando te matar, eu quis desaparecer, não conseguia acreditar. Comecei a me odiar, afinal, você não merecia nada do que aconteceu contigo, Aislin. Não consigo imaginar machucar um coração tão bom quanto o seu...

O reino de AurionOnde histórias criam vida. Descubra agora