O casamento

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Carmen aperta com mais força os fios do meu corpete, fazendo-me ficar sem ar e segurar com força a borda de ferro de meu espelho. Respiro o mais fundo que posso. Ela puxa mais três vezes e dá um nó. Minha cintura está fina e meu quadril, largo. O corpo que minha mãe acha perfeito, o corpo ideal para uma dama e blá blá blá.

Encaro minhas mãos e coloco as luvas azuis brilhantes, mas sou interrompida por Carmen que joga o vestido sobre mim. Passo meus braços sobre as alças enfeitadas. Calço os saltos lilases e coloco o colar de pérolas. Me olho no espelho. O vestido azul que estou usando é lindo, com grandes babados da cintura para baixo, diamantes brilham em volta de meu decote enfeitado com algumas flores.

Carmen me faz sentar em uma cadeira e começa a pentear meu cabelo, puxando-o de um lado para o outro. Tenho vontade de partir para cima dela e socar sua cara, odeio que mexam em meu cabelo. Ela demora alguns minutos para terminar o lindo coque feito de tranças em minha cabeça e, de toque final, coloca a coroa em mim.

Sou uma princesa. É tudo o que eu tenho a dizer e é tudo o que eu não queria ser. São deveres e mais deveres, regras que precisam ser cumpridas, sempre manter a postura e nunca falar o que pensa. Resumindo, eu não vivo, eu sobrevivo. Tem diferença!

A única coisa que me deixa feliz nesse fim de mundo é a minha melhor amiga, Emma. Ela mora comigo no castelo porque é a noiva do meu irmão mais velho. O príncipe.

Na verdade, eles vão ter um casamento arranjado, que por sinal, é hoje. Ela o odeia. Emma veio morar aqui há cinco anos, pois seus pais queriam que ela se acostumasse, o casamento já estava planejado há muito tempo para juntarem os reinos.

- Princesa Aislin, sua maquiagem. – Diz Carmen.

- Já falei que pode me chamar de Lin. – Digo. – Não me considero uma princesa.

Ela expõe um pequeno sorriso no seu rosto gorducho e assente com a cabeça, logo depois, pede para eu fechar meus olhos e começa a passar a sombra em mim, o pó de arroz em minhas bochechas e por último, o meu batom rosa.

- Você está linda! – Exclama Carmen batendo as mãos. Sorri e me olhei novamente no espelho. Meus olhos verdes ficaram realçados, a sombra azul com prata estava muito bem feita e meus lábios brilhavam.

- Sou rica, linda e poderosa. – Falo apontando para o meu reflexo, e piscando um olho. Carmen dá uma risada e me entrega os brincos de ouro em forma de sóis. Os coloco em minhas orelhas.

- Dê uma voltinha Lin. – Diz ela. Reviro os olhos e dou uma voltinha desengonçadamente, não sei andar muito bem de salto. Batem em minha porta.

- Entra! – Grito. Meu irmão mais novo aparece sorrindo. Ele veste um terno avermelhado e amarelo, com uma camiseta branca e uma gravata- borboleta azul marinha. Estava usando também, uma daquelas calças apertadas, típicas de príncipes.

- Olha... Que belezura. – Ele ergue uma das sobrancelhas e me olha dos pés à cabeça.

- Cala a boca Philip. – Falo com desprezo e vou andando até ele. O babado do vestido se mexe muito e eu tenho que flexionar um pouco os joelhos para me equilibrar. Tropeço e me apoio em Carmen.

- O que tem de linda, tem de desastrada. – Diz Philip sorrindo. Dou um tapa em seu ombro. Mesmo ele sendo mais novo, é mais alto. Tenho dezoito e ele quinze, e eu nem sou tão baixinha. 

- Já está pronta para o casamento? – Pergunta ele, estendendo o braço levemente dobrado para mim.

- Sim. – Falo com um sorriso falso e seguro seu cotovelo, passando minhas mãos em seu braço.

- Divirtam-se. – Diz Carmen indo em direção a escada da torre que leva até a cozinha.

Eu e Philip andávamos pelo corredor do castelo, cheio de quadros, com paredes de pedras, janelas que deixavam o Sol iluminar o local. Meu salto fazia barulho ao pisar no chão. Ao longe vi dois príncipes vindo em nossa direção.

- Sorria e fique com postura. São os príncipes de Aurim. – Diz meu irmão entre os dentes e sorrindo, expondo seus lindos dentes brancos. Sorri e fiquei com as costas eretas, ajeitando minha postura, e por conta disso, tive que me apoiar com mais força no braço de Philip.

Depois de falarmos com os príncipes, encontramos mais reis, rainhas, lordes, condes e condessas pelo caminho, todos indo em direção à igreja do castelo. Eu sorria para todos, mas por dentro eu me corroía, xingando quem eu via mentalmente.

Na hora de descer as escadas, Philip me ajudou um pouco e consegui chegar viva na igreja. Me sentei nas cadeiras da frente, e minhas pernas agradeceram. Meu pai e minha mãe estavam sentados na fileira de cadeiras ao lado, conversando alegremente com um conde e uma condessa que eu nunca tinha visto na minha vida.

- Meu sutiã está me matando. – Sussurro para Philip. Que sorri, fazendo suas covinhas da bochecha aparecerem. Ele ficava tão fofo quando sorria.

- Aguenta que ainda tem o baile. – Diz ele.

- Mereço. – Falo com ironia. Philip tem lindos olhos azuis iguais ao da minha mãe, uma pele bronzeada e cabelos castanhos ondulados.

- Eu vou dançar com você.

- Sempre assim. Acha que eu sou seu escravo é?

- Eu não quero ficar dançando com esses reis velhos e safados.

- Mas tem os príncipes. Você precisa começar a procurar pretendentes.

- Eu não preciso de homem nenhum. – Falo e cruzo os braços.

-  Vai morrer virgem? - Ele pergunta. O encaro surpresa.

- Não. Não vou.

- Então precisa de um homem. 

- Vai catar coquinho Phil. – Digo dando um empurrãozinho em seu ombro. As trombetas começam a soar. Meu irmão mais velho já está no altar, vestido de noivo e esperando em pé por Emma.

Começam a tocar os pianos e todos se levantam, olhando para a enorme porta. Um grande "Ohhhhh" pode ser escutado. Estico meu pescoço e vejo Emma. Ela está magnífica.


Gente, essa é uma das histórias que eu queria postar a muitooooooo tempo. Eu mesma criei. Espero que gostem. Não sei se está muito boa, mas qualquer coisa, aceito opiniões. 

Não se esqueçam de votar e comentar o que acharam.^^

O reino de AurionOnde histórias criam vida. Descubra agora