Vilarejo do Inverno e seus agasalhos velhos

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Droga, eu já tinha me esquecido. Tô ferrada.

- Será que a gente pode adiar o treino? – perguntei nervosa.

- Não. – Disse Kamura com um sorriso torto, pegando sua mochila de couro e duas espadas. – Pensa rápido.

Ele jogou a espada para mim, fiquei desesperada por alguns segundos e deixei o objeto cair no chão. Segurei a empunhadura da espada e a ergui. Meu braço doeu um pouco, era um tanto pesada.

- Me siga e não deixe a espada cair. – Pediu Kamura começando a correr em direção a floresta. Respirei fundo e comecei a correr. Se você acha que é fácil correr com uma espada que possui uma lâmina maior que seu braço, está enganado. Fiquei morrendo de medo daquele negócio me perfurar. Do jeito que eu sou desastrada, tenho que tomar cuidado extra.

Eu estava parecendo uma garça correndo com uma espada na mão, com os dois braços abertos, distanciando o objeto de mim, e saltitando, sobressaltando os troncos caídos. Comecei a ficar cansada rapidamente. Kamura a minha frente, corria cada vez mais rápido, pulando e se esquivando lindamente nos obstáculos à sua frente, segurando com força a espada em sua mão.

Depois de correr bastante, ele parou. Sem perceber, esbarrei em suas costas e cai para trás.

- Nossa! Você parece uma árvore. Nem se moveu. – falei tentando me levantar. Ele me encarou com raiva e limpou os ombros, como se dissesse "Não toque em mim sua humana imunda."

Kamura me fitou de canto de olho e foi em direção a uma árvore. Segurou a espada com as duas mãos e acertou o tronco, dando vários golpes ao mesmo tempo. Depois que terminou, disse:

- Faça.

Recuperando ainda o fôlego da corrida que dei, fui em direção à árvore. Ergui a espada e acertei a árvore. Meus braços sentiram o impacto e estremeci. Tentei tirar a lâmina do tronco e quase cai, de tanta força que fiz.

Fiquei nessa de golpear a árvore por, pelo menos, meia hora, meus braços doíam de tanto esforço. Senti o suor escorrer pela minha testa. Os raios de Sol passando por entre as folhas e esquentando as minhas costas. Kamura ficou observando, sem dizer nada até que eu parei.

- Eu não quero que você corte essa árvore, Aislin. – Começou ele. – Eu quero que você a veja como seu adversário e a atinja. – Ele golpeou uma parte mais baixa – Cintura – acertou mais acima -, tronco e o mais letal. Pescoço. Isso é o básico.

Ele fazia aquilo sem esforço nenhum, seus músculos de contraiam a cada movimento.

- Faça isso rápido e com força. Agora!

Ergui a espada e tentei acertar nos mesmos lugares que Kamura acertou. Minha coordenação motora não ajudava, assim como a dor em meus braços. Não aguentei por muito tempo e parei para respirar. Kamura não facilitou e veio em minha direção.

- Cintura! – Gritou ele. Arregalei os olhos e tentei acertar seu corpo. Kamura se protegeu. – Tronco. – Tentei novamente. Ele se aproximava, protegendo-se com sua espada. – Pescoço!

Dei vários passos para trás, tentando acertá-lo nos pontos que dizia. Era impossível e eu ia ficando cada vez mais cansada. Eu caia várias vezes e ele me mandava levantar. Cada vez que Kamura me "derrotava", ele dizia "morreu". Morri umas cem vezes!

Senti os cortes em meus braços ardendo com o suor. O coração acelerado e a respiração ofegante. No final, Kamura me deu uma rasteira e cai de costas no chão.

O reino de AurionOnde histórias criam vida. Descubra agora