O urso polar...

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Eu o vi. Estava me encarando, sentado em seu trono de bronze. As sombras impediam que eu visse seu rosto. Seus dedos batiam no braço do trono, anéis reluzentes podiam ser vistos. A escuridão nos rodeava. Ele juntou as mãos sobre as pernas disse:

- Princesa Aislin, você deve morrer, porém preciso de ti também. Você é maior que seu corpo, acredite em mim.

A angústia de não poder ver seu rosto me perturbava. Sua voz é familiar, mas não me lembro de onde.... Ele colocou as mãos em cima dos braços do trono novamente. Por que estava falando aquilo?

- Você ainda não sabe o que tem dentro de você. – continuou. – Deixe-me mostrar.

- Quem é você? – perguntei. – O que quer dizer com isso...?

- Aislin, você me conhece, não preciso apresentar-me. – Comentou o homem.

- Diga seu nome, pelo menos. – pedi.

- Não preciso....- deu uma risada- Logo, logo iremos nos reencontrar. – e se levantou, transformando-se em um animal de pelagem branca. Suas roupas de rei rasgaram no meio e ele ficou enorme. Deu alguns passos para frente e ficou de quatro. Era um enorme urso polar, com um arranhão de garras no focinho e uma orelha mordida. Os pelos em seus braços eram mais amarelados, e em seu pescoço, correntes enferrujadas sujavam seu pelo branco com ferrugem.

Dei alguns passos para trás, o urso era do mesmo tamanho que Kamura, mas parecia mais fraco. Ele bufou e arranhou o chão de pedras com suas garras prateadas. Seus olhos negros me fitaram e um brilho violeta passou por eles. Senti um arrepio me percorrer.

- Você é minha... Sempre foi.... Lin... – falou ele com sua voz pesada. Ele me chamou de Lin....O urso deu um pulo em minha direção. Dei um grito, horrorizada com aqueles dentes vindo em minha direção.

Arregalei meus olhos, apavorada. Meu coração estava disparado, parecia que ia explodir. O que foi aquilo?! Que urso era aquele? Quem era ele?! Olhei a minha volta, foi tudo um pesadelo, todos estavam ali, dormindo. Engoli um seco e passei minha mão pelos meus cabelos.

A única luz que iluminava a caverna fria em que estávamos, era a das estrelas. Estavam todos encolhidos em seus cantos, protegendo-se do frio. O vento do lado de fora assoviou ao entrar na caverna. Escutei uma respiração forte e uma silhueta de urso apareceu na entrada, soltei um pequeno gritinho, até perceber que era Kamura. Seus olhos violetas fitaram-me e ele entrou na caverna. Suas patas pesadas eram silenciosas.

- O que você estava fazendo lá fora? – perguntei.

O urso me encarou e bufou, indo para um canto da caverna, deitando no chão, virado de costas para mim. Kamura apoiou sua cabeça nas patas e respirou fundo. Revirei os olhos, com raiva de ter ficado sem a minha resposta. Levantei e caminhei até ele lentamente, ficando de pé ao seu lado.

- Nossa! Você é grandão. – comentei, encarando aquele urso pardo enorme. Kamura ergueu a cabeça e me fitou com repugnância, mexendo suas orelhas com o vento.

- Sai... – disse ele.

- Antes, eu posso fazer uma pergunta? – perguntei, nervosa.

- Não...

- Vou perguntar do mesmo jeito. – falei – Você tem algum irmão...?

Kamura abaixou a cabeça e voltou a ficar de costas para mim, sem me responder, fazendo com que eu ficasse encarando suas costas peludas de urso.

- Responde. – pedi, empurrando-o. Kamura não moveu um músculo. – Por favor... Me diz se você tem algum irmão.

- Por quê....? – a voz pesada e grossa do urso ecoou pela caverna.

O reino de AurionOnde histórias criam vida. Descubra agora