Como Um Casal.

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Corremos para mostrar a foto pra Dona Joanna e o mais incrível era que a foto realmente tinha ficado boa, apesar de alguns pequenos errinhos no enquadramento, mas ela tinha personalidade. D.Joanna e todos adoraram a foto, logo pediram pra ela tirar mais fotos.
Passaram algumas horas, começou a escurecer e eu precisava voltar para o hotel. Fui me despedir de todos, agradeci a tarde maravilhosa, Dona Joanna me levou até a porta, mas a Tina havia sumido, estranhei, não a encontramos na casa toda, quando coloquei os pés para fora da casa ela estava na frente do táxi com uma mochila nas costas:

- E aí? Você demora, hein?
- Mas, hã?
- Tô te esperando tem o maior tempo.
- E a gente estava te procurando pela casa toda. O que você está fazendo aí?
- Ué! Achou que iria te deixar sozinha por essa cidade perigosa, num hotel perigoso como aquele, com malucos a solta?
- Não, não achei!

Dei um sorriso e a Tina dirigiu-se para Dona Joanna:

- Eu vou ficar no hotel com a Rach por esses dias, Dona Joanna, mas venho aqui falar com vocês e se quiserem podem ligar pro meu celular, tá?
- Claro, rapariga! Vocês duas se cuidem!
- Pode deixar! Eu vou cuidar da Rach direitinho.
- E quero fotos pra saber se divertiram-se muito.
- Tá bom! Vou tirar um montão. Diz pro pessoal que deixei um beijo, por favor.
- Digo.
- Tchau!
- Tchau!

As duas se despediram e entramos no táxi. Passamos num mercado pra comprar algumas coisas, nem sempre o hotel tem tudo que queremos. Fomos pro hotel e eu fui trabalhar em alguns produtos enquanto a Tina escutava música e perturbava as camareiras. Ela não parava quieta um minuto, parecia uma criança e eu morrendo de vontade de me juntar às suas travessuras, mas tinha que terminar o trabalho. Por que a vida é tão injusta? Poxa! Eu também quero ir brincar com elas:

- Ainda trabalhando?
- Preciso terminar essa ideia até amanhã.
- Hum! Deixa eu ver como você está indo, lê pra mim.
- Hã?
- Lê pra eu ver como tá.
- Ok! É um trabalho pra uma empresa de cosméticos que tá abrindo filial aqui em Lisboa.
- Qual o nome do produto?
- A empresa se chama Devon e o produto é o Bio.
- Serve pra que?
- É um perfume.
- Hmmm! "Bio, cheiro de vida em você!" ou "Devon, devoção total a você!".
- Gostei.
- Gostou?
- Gostei! A ideia precisa ser trabalhada, mas eu gostei. Como você fez isso?
- Isso o que?
- Como pensou nisso tão rápido?
- Sei lá! Você falou e a ideia veio.
- Uau! Uma Tina que eu não conhecia.
- Tá achando o que? Sou só um rostinho bonito não! Tá, mesmo assim eu tenho um charme que...
- Tô vendo.
- Eu não.
Eu tive que rir quando ela falou isso:

- Vem curtir um pouco!
- Não posso.
- Pode sim. Larga isso aí e vem comigo.
- Pera! Deixa anotar o que você falou.
- Vou cobrar, hein?
- E qual o seu preço?
- Caro, muito caro.
- Certo! Eu pago.
- Então eu deixo.

Ela me deu um beijo e saiu. Engraçado que ela ía com uma calça de pijama e descalça, só fiquei escutando as risadas, as camareiras passaram a adorar arrumar o nosso quarto, todo dia apareciam pelo menos umas três pra carregar a Tina pelo hotel. E quando eu ía procurá-la ela estava no andar de trabalho dos funcionários. Ela fez café, implicou com o guarda e até se enfiou na cozinha. Teve um dia que ela sumiu, eu já estava preocupada, perguntei pra Maria, uma das camareiras, que me disse pra procurar pela copa que ela daria uma olhada na sala dos seguranças. Eu fui procurando, entrei numa sala e escutei risos, quando olhei lá estava ela com panelas, uma roupa branca e chapéu, a Cheff do lado ria muito, todos pareciam se divertir tanto que nem quis interromper. Até que Sr. Croff, segurança, me viu, deu um sorriso e perguntou o porquê de eu não entrar. Respondi que não queria atrapalhar, ele me deu outro sorriso e com um empurrãozinho fui porta a dentro, todos pararam pra me olhar:

- Ér! Oi?!
- Rach?

Eu estava morrendo de vergonha, então tentei falar bem rápido pra sair dali o quanto antes:
- Oi Tina, eu tava te procurando, mas já achei, vi que você tá bem, então, eu vou indo.
- Espera!

Ela foi até onde eu estava, me levou para o meio da rodinha e disse:

- Gente, essa é a Rach, minha namorada. Tá, eu sei que ela é linda, mas não se enganem com essa carinha meiga, ela é altamente perigosa, principalmente com portas e cabeças.
Algumas pessoas começaram a rir e a Cheff veio até mim:

- Você é a famosa Rach. É um prazer conhecê-la!
- Que isso? O prazer é meu!
- Já ouvimos muito sobre você.
- Já?
- Tina disse que é uma grande publicitária.
- Exagero dela.
A Tina se meteu na conversa:

- Exagero nada, ela arrasa.

E a Cheff continuou:

- Você podia nos ajudar a fazer uma propaganda aqui, né?
- Mas do jeito que seus pratos são deliciosos vocês já são a própria propaganda.
- Obrigada!
- Peço licença a vocês agora, mas tenho que voltar ao trabalho. Obrigada pela recepção carinhosa, foi um prazer conhecê-los!

Todos sorriram e quase em coro responderam:

- O prazer foi todo nosso.
- Tchau!
- Tchau!

Eu saí da sala e ía subir, quando a Tina veio correndo, deu-me um beijo daqueles de tirar o fôlego:

- Pronto! Agora você pode ir.
- Hã? Como? O que?
- Até mais tarde!
- Tina, espera!
- Oi?
- Ér! Posso te perguntar algo?
- Claro!
- Quando você me apresentou pro pessoal você disse que eu era sua namorada.
- Aham!
- Por que?
- Porque eu sou cega, mas não sou idiota de deixar a oportunidade de namorar uma mulher maravilhosa como você passar.
- Isso é um...
- Rach.
- Oi?
- Tenha calma.

Ela me deu outro beijo, dessa vez mais delicado:

- Até mais tarde!

Eu fui para o quarto voltar ao trabalho, mas mal me podia conter para descobrir o que ela quis dizer com aquilo tudo. Fiquei pensando e pensando e pensando e pensando e ainda não conseguia decifrar as palavras de sua boca.
Quando bateram à porta, eu atendi, era Maria a camareira, pedi pra que entrasse, ela sempre muito educada arrumou o que tinha para arrumar e antes que saísse perguntei:

- Maria?
- Sim?
- Você tem conversado bastante com a Tina, né?
- Sim. A senhorita Tina é, particularmente, uma das hóspedes que mais gosto. Sem querer ofender.
- Não ofendeu.
- Mas por que a pergunta?
- É que ela me falou algo hoje e estou um pouco...
- Agitada?
- Sim.
- Compreendo a senhorita. Mas afinal o que ela falou?
- Ela me apresentou como sua namorada.
- E vocês não são namoradas?

Nesse momento eu dei um sorrisinho de canto de boca, como quem devaneia com algo bom. Mas durou poucos segundos até eu recobrar a consciência:

- Não! Não que eu não queira isso, na verdade eu quero, muito, eu acho.

Maria sorriu e com uma voz serena disse:

- A senhorita me parece um tanto quanto confusa.
- Creio que sim, Maria.
- Senhorita.
- Hã?
- Basta escutar o seu coração e perceber o que quer e então vá em frente sem medo.
- Mas eu não consigo. É como se eu não visse nada a minha frente.
- Bom, agora consegue entender um pouquinho de como a Tina se sente, não é verdade?
- É verdade! Obrigada Maria!
Não sei o que me deu nesse momento que eu sem perceber dei um pulo e abracei a Maria com vontade e apertei. Quando a percebi dura e sem jeito a soltei devagar, um pouco encabulada, dei um sorriso e agradeci mais formalmente. Ela sorriu de volta, pegou as coisas, despediu-se e saiu.
Mas agora já imaginava o que fazer. Corri para o laptop e voltei a trabalhar enquanto explodia de ansiedade e felicidade por dentro a espera que a Tina voltasse.



Confusões Amorosas de uma Garota Perdida.Onde histórias criam vida. Descubra agora