A Enfermeira.

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Segui para o quarto e não me importei em ter uma resposta verbal da enfermeira que ainda me olhava assustada. Antes que eu pudesse chegar ao meu quarto um homem de uns 35 anos, alto, moreno, com roupa de paciente abriu a porta com ar malicioso:

- Meu bem, volta pra cá, ninguém preci...

Quando ele me viu no corredor ficou pálido, voltou para o próprio quarto e fechou a porta.
Eu segui meu caminho, entrei em meu quarto e ajeitei-me para ver um filme na TV enquanto esperava o jantar.
Não tanto tempo depois a porta abriu devagarzinho, a enfermeira trouxe meu jantar, serviu na bandeja, deu um sorriso e parecia na dúvida se falava comigo ou não. Eu pude perceber que ela queria muito falar alguma coisa, mas que ao mesmo tempo estava evitando puxar conversa:

- Fala logo! Eu sei que você quer dizer alguma coisa.
- Desculpa! Como?
- Olha, se aquele cara é seu namorado eu não tenho nada a ver com isso, desde que quando eu precisar te pedir algo você esteja ali para ajudar. O resto não me interessa.
- Ele não...eu...
- Era só isso?
- Não acontecerá de novo.
- Como falei, não tenho nada a ver com isso.

Alguns segundos em silêncio e ela retrucou:

- Ele não é meu namorado!
- Por mim tanto faz, namorado ou não, o corpo é seu, faça o que bem entender com ele. Se isso não atrapalhar o meu jantar, por mim tá ótimo.
- Você é sempre tão estúpida assim.
- Na maior parte do tempo.

Ela ainda tentou balbuciar algo, mas se irritou com o meu desprezo pelas desculpas dela e saiu. Não tive mais problemas em ouvir gemidos no quarto ao lado ou meu jantar não chegar quando precisava dele. Mas em compensação, passei a sofrer olhares raivosos da enfermeira e toda vez que ela ía trocar meu acesso fazia de forma bem dolorosa. De qualquer forma não me importava, uma dor física não incomodava, mais nada me incomodava.

Todos os dias a Nathalie vinha me visitar, sempre com um sorriso alegre e um bombom escondido no jaleco. Ainda não sei porquê ela resolveu vir para o Rio e ficar nesse hospital que eu estava. O parente dela já havia recebido alta, o caminho dela estava livre para ir para qualquer lugar, até voltar para Portugal se quisesse.
Eu estava assistindo Bob Esponja na TV, ela entrou no quarto, sem dizer nada sentou-se ao meu lado, tirou o bombom do bolso e me deu, pegou uma pequena barra de chocolate, abriu e começou a comer, muda, sem dizer uma palavra. Passamos a tarde assistindo Bob Esponja na TV. Às vezes uma das duas fazia um comentário ou outro sobre o desenho, mas não paramos de assistir.
Depois de um bom tempo perguntei:

- Você não tem outros pacientes pra visitar?
- Não! Hoje só você.
- Tenho médica exclusiva?
- É, nas quartas-feiras sim.

Parei por um momento e pensei, calculando os dias que ela me contou que tinha plantão no hospital:

- Quarta não é sua folga?
- Não, não, não. Quinta é minha folga.
- Sério? Achei que era quarta.
- Não, tenho certeza, quinta.
- E o que vai fazer na sua folga?
- Visitar alguém que gosto muito.
- Legal! Ele mora onde?
- Numa casa na Tijuca. Você quer ir?
- Eu? Mas eu não sei se posso.
- Eu falo com a sua médica. Ops! Acho que essa sou eu. Eu te libero para ir com a sua amiga super gata visitar o tio dela.
- Mas o quê?
- Não esquece de falar pra sua amiga que ela é muito gata, se ela já não gostasse de alguém eu investia, hein?
- Que amiga você tá falando?
- Ai, Tina! Tô falando da sua amiga que vai te levar amanhã pra visitar o tio...

Ela fez algumas expressões, eu tentei assimilar a história:

- Mas essa é você.

Ela se levantou, guardou os papéis dos bombons e disse sorrindo:

- Amanhã, esteja pronta se arrume às 9h que às 10h estou aqui.

Confusões Amorosas de uma Garota Perdida.Onde histórias criam vida. Descubra agora