Depois dessa conversa eu me foquei no teatro e não queria mais saber de nada. A Fernanda resolveu ficar na casa dela ao invés de voltar pra república, não sei o motivo, dizia dona Joanna que ela tinha assuntos sérios de trabalho pra resolver, mas não acredito muito, seria muita coincidência isso, não? Mas quem se importa?
No horário do almoço fui à casa daquela senhora (lembram?) como eu havia prometido, dona Maria José. Logo ao chegar ela me recebeu com um sorriso e muita simpatia. Ajudei-a com a preparação para o almoço e conversamos bastante, ela ria e se divertia com as histórias do teatro, seus olhos brilhavam, tudo era muito mágico:- Vocês aprontam tudo isso é?
- Sim senhora! E mais ainda.
- Nossa! Deve ser muito divertido viver com vocês, meu sonho de rapariga era ser atriz.
- E por que a senhora não tentou?
- Naquela época não se tinha essa liberdade de hoje em dia. Papai era muito rígido com algumas coisas e fazer teatro não era coisa de moça de família, só as moças de rua faziam, sabe?
- Sei sim.
- Depois logo me casei com Emanuel e hoje sou viúva. 42 anos de casamento e hoje seriam 72 anos juntos, foram 1 ano de janela, 3 anos de namoro e ele resistiu a tudo isso.
- Ele teve o quê?
- Coração. Emanuel tinha o coração frágil, mas o amor forte, gostava de viver. O doutor ainda disse que ele viveu muito.
- Desculpe a indiscrição, mas a senhora me disse que logo faria aniversário, quantos anos a senhora vai fazer?
- Toda mulher vai até o 35 e para, depois de certa idade não importa mais, até paramos de contar. Os filhos que fazem a malcriação de nos lembrar. 96 anos no fim de semana, sexta-feira agora.
- Não é por nada não, mas a senhora está muito bem pra idade que tem, eu te daria... Humm! Deixa eu ver. 35.
- Você é um doce, minha filha!Ficamos ali conversando a tarde inteira, só fui embora por causa da apresentação. Mas com o convite pra voltar e almoçar de novo outro dia. O engraçado é que toda vez que eu voltava ela era cada vez mais gentil, até dava vontade de saber como seria ter uma família:
- Obrigada pelo almoço, Dona Maria José!
- Já vai?
- Tenho que ir ensaiar. Mas amanhã gostaria de levar a senhora pra ver uma coisa, posso?
- Ai ai! Eu estou um pouco velha pra estripulias, minha filha!
- Ahhh! Para de bobagem! A senhora está ótima! Aposto que tem mais fôlego que eu.
- Certo, certo! Ora pois, então amanhã é por sua conta.
- Até amanhã!Peguei a bicicleta e fui pro ensaio. É, bicicleta. O Gáh disse que não queria que eu ficasse de carro (alugado) pra não poder ir muito longe e sumir. Odeio quando ele adivinha as coisas que vou fazer! Mas era bom andar de bicicleta, parece que dá outro mundo pra gente e até mais vontade de correr e energia.
Cheguei no ensaio e fui falar com o Diretor, eu queria levar Dona Maria José lá pra participar do ensaio. Dia seguinte era aniversário dela e eu já tinha falado com o seu filho pra fazermos uma surpresa lá no teatro. O Diretor não entendeu muito bem, mas me deu liberdade pra fazer o que quisesse, disse que uma surpresa para uma senhora em um dia não faria mal nenhum ao grupo, pelo contrário, achava a ideia ótima e que poderia ajudar muito na união e no trabalho de todos.
Estava tudo certo. Saí do teatro correndo pra falar com a Vic e pedir ajuda pra montar a surpresa, bolo, salgado, refrigerantes, suco, tudo que tinha direito.
Na rua com a bicicleta eu corria muito, muito mesmo, tanto que nem vi quando um carro quase me atropelou, um carro preto freou bem em cima da bicicleta, eu cheguei a cair no chão. De repente sai uma moça alta do carro, óculos escuros, cabelos longos, ruivos e um salto 15, fino, uma roupa bem arrumada e cara daquelas executivas importantes que não dão a mínima pra ninguém:- Você está bem?
- Não sei, acho que sim.Ela estendeu a mão pra eu levantar, quando fui ficar de pé não consegui, a perna doía muito e não dava pra mexer direito:
- Aiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!
- Hum! Acho que você torceu o pé. Vai precisar ir no médico. Venha, vou te levar!
- Não, não! Não deve ser nada, só dor da batida, logo passa, eu preciso ir.
- Desse jeito? Nem pensar. Entra no carro que vou te levar no hospital pra ver esse pé.Não tive como discutir, entrei no carro estranho e ela foi dirigindo pro hospital:
- Qual seu nome?
- Tina e o seu?
- Meu nome é Violeta.
- Violeta?
- Sim. Estranho, né?
- Hã? Não! Bonito nome!
- Obrigada! Tina é nome ou apelido?
- Ér! Digamos que é um nome artístico.
- Interessante! Você é artista então?
- Tento! Tô estudando pra ser atriz.
- Muito bom!
- E você faz o que?
- Eu me formei agora e trabalho como Diplomata.
- Uau! Maneiro!
- Por que é maneiro?
- Ahhhh! Sei lá! Só achei maneiro. Parece ser interessante, legal. Você veio a trabalho?
- Não!
- Passeio?
- Também não.
- Família?
- Não!
- Poxa! Veio a que?
- Tentar resgatar um velho amor.
- Nossa! Que louco isso!
- Louco?
- É! Resgatar um velho amor. Você veio, de longe pelo visto, pra tentar ver essa pessoa. Sabe se ela ainda mora aqui?
- Sim! Eu liguei pra mãe dela antes pra saber se ela estava bem. Costumo tentar ligar pra ela, mas cai sempre na caixa postal, acho que mudou de número pra não falar comigo.
- Poxa! Que chato! Mas espero que fique tudo bem entre vocês. Você parece legal!
- Obrigada! Você também, mocinha!
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Confusões Amorosas de uma Garota Perdida.
Cerita PendekBom, não sou o tipo de menina padrão que se encontra por aí. Talvez, até mesmo pra minha idade, eu seja bem diferente das demais. Começa pelo fato de que gosto de seduzir pessoas e faço isso muito bem. Carioca, vinte anos de praia, alta (1,73m), al...