Sala Fria.

13 2 0
                                    

Acordei em algum lugar gelado, extremamente gelado. Eu estava com roupas de hospital, acessos nos meus braços e soro pingando na minha veia. Era uma sala fria, bem menor do que a anterior, com uma tevê e muitos aparelhos ligados à cama em que eu estava deitada, não tinha janela, só uma porta. Minha cabeça rodava um pouco e os olhos doíam, pude ouvir alguns barulhos que vinham lá de fora, pessoas falando. Levantei devagar, tive receio de tirar aqueles tubos do soro, mas agarrei aquela bengala metálica onde o soro ficava pendurado e coloquei os pés no chão. Ele estava tão frio e úmido, senti como se eu estivesse pisando em gelo. Minhas pernas estavam fracas e eu mal podia andar. Com esforço cheguei na porta, segurei a maçaneta e puxei, como eu podia, aquele pedaço de madeira que me separava da liberdade. Coloquei o rosto para fora do quarto e com dificuldade vi pessoas passando de um lado para o outro em vestes brancas. Uma moça que passava segurou meu braço e disse em tom baixo e delicada:

- Você não pode ficar aqui. Tem que voltar para a cama.

Eu quis responder, mas minha voz não saía. Ela me colocou na cama e perguntou como eu me sentia. Fiz um okay com a mão. Ela sorriu. Ajeitou minha coberta e disse:

- Agora descanse um pouco, eu vou chamar o médico e seus familiares.

Segurei, com a força que me restava, sua manga e balbuciei:

- Ra-rach-rachel...
- O quê?
- Rachel...

Ela engoliu a seco e voltou a ajeitar minha coberta:

- Não se preocupe, eu já volto.

Ela saiu e eu me perguntava onde a Rachel estava.
O tempo passou e meus olhos fechavam, o frio era a temperatura necessária para meu corpo entender que eu deveria descansar, então eu dormi.
Não sei exatamente quanto tempo se passou, mas quando abri os olhos de novo, vi alguns borrões que pareciam pessoas. A imagem foi ficando nítida aos poucos. Vi a enfermeira conversando com uma moça que estava de costas, ela usava jaleco branco e um estetoscópio pendurado no pescoço. Não era muito alta, tinha cabelos castanhos escuros e uma voz que me era familiar. A enfermeira me viu e disse:

- Ela acordou.

Então aquela moça misteriosa virou-se:

- Olá, Tina! Como você está se sentindo?

Eu semicerrei os olhos tentando reconhecer de quem era aquela voz. Olhei uma, duas, três vezes. Ela sorriu e disse para enfermeira:

- Pode ir, eu cuido dessa senhorita aqui.

E por um instante me recordei do cheiro de Lisboa, da sensação das pedras que cobriam a rua e de me sentar à mesa de uma pequena lanchonete:

- Natalie?
- Você me reconheceu!
- Mas, você estava em, eu fui para, e você foi para...

Ela deu uma risada e se aproximando disse:

- Calma, calma. Vamos pegar leve. Você ainda está em recuperação.
- O que você está fazendo aqui?
- Pouco tempo depois de você ir embora, eu recebi uma chamada de casa, um amigo antigo precisava da minha ajuda, então eu vim visitá-lo e acabei ficando mais do que imaginava.
- Mas então eu vim parar no mesmo hospital que você trabalha por coincidência?

Com um sorriso delicado no rosto ela respondeu:

- Não. Eu recebi um chamado...
- Pera...Por que eu estou no hospital? Eu estava em um avião.
- Tina, o avião que você estava...

Ela respirou fundo e antes que pudesse continuar eu a interrompi para que poupasse suas explicações:

- O avião caiu.
- Sim.
- Onde estão todos? Estão bem? Cadê a Rachel?
- Calma, Tina! Por favor, se acalme!
- Cadê a Rachel?
- Eu não sei.
- Como você não sabe? Cadê o piloto? Ele deve saber cadê a Rachel. Ele tem que saber.

Meus olhos lacrimejavam e a Natalie me abraçou, minha cabeça ficou encostada em seu colo enquanto ela tentava abrandar minha respiração que havia ficado acelerada:

- Eu vou procurar novamente pela Rachel, tá bom? Fica calma. Vou perguntar aos bombeiros e todos que eu puder, tá? Mas eu preciso que você se cuide e se recupere.
- Tá bom.

Confusões Amorosas de uma Garota Perdida.Onde histórias criam vida. Descubra agora