Can't stay at home, can't stay at school

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Nem sempre nossos infernos pessoais são originados da combinação de ocorrências aleatórias - e, leitor astrólogo amador, perdoe-me, mas confesso professar um certo ceticismo quanto à influência das constelações e posições planetárias nas tragédias de cada um. Atos têm consequências, sejam operados por terceiros ou pela própria pessoa.

Sabe esses tapas corriqueiros que a vida dá na nossa cara, vestindo luvas metálicas enfeitadas com unhas pontiagudas? Num dia você se vê reclamando de uma banda, e no outro, você a defende com unhas e dentes.

Não se pode dizer que no cosmos há muito de gratuito. Os personagens acumulam uma espécie de karma ruim por suas ações e, geralmente, o efeito cobrado pelas entidades roteiristas fica para a vida na temporada atual, não em uma reencarnação futura. A remuneração do destino surge na forma de balas, os tiros que você dá na cabeça de seus rivais praticamente voltam para você.

Brasil, 15 de dezembro de 2015

- Exato pai, creio que pensamos igual. Talvez você não seja tão hipócrita quanto parece. - resmunguei para meu pai do outro lado da linha. Na minha frente, uma incrível vista de um parque e a movimentação do Brasil.

- Hipocrisia? Desde quando você entende isso? - respondeu aos risos.

- Mudando de assunto... Quanto deu no jogo?

- Vencemos. - sorri involuntariamente. - Queremos que você volte, filho.

- Queremos... no sentido?

- No caso, eu e a sua mãe.

- Tenho umas coisas para resolver, mas faça um favor para mim e expulse a Phoebe do meu quarto. - escutei sua risada.

- NÃO! - escutei os gritos de uma menina, andei para fora da minha suíte e olhei uma garota morena sendo carregada - arrastada - pelos seguranças.

- EU QUERO VER ELE! - gritou ela. - EU TE AMO TEDDY GREY! - encarei a cena com as sobrancelhas franzidas, que patético.

- Vou desligar, tchau pai.

- Se cuida. - revirei os olhos e encerrei a ligação enquanto assistia a garota ser levada para fora.

Eu deveria ir até ela, pedir desculpas por não ter feito nada da sua crítica situação e dar um autógrafo, normalmente é o que eu faria.

Mas hoje não estou com essa disposição toda.

Ao meu lado, Cody apareceu com uma garrafa de vinho.

Cody é um grande amigo, ele tem por volta dos trinta anos, mas consegue me animar ainda.

Guardei meu celular e coloquei minhas mãos no bolso da minha calça.

- Eu nunca conheci esse seu lado megera. - comentou aos risos enquanto tentava em vão abrir a rolha.

- Quero voltar para Miami.

- E eu quero ser mulher. - para ele, nunca foi um problema assumir seu homossexualismo, e diferente de muitos, eu não me importo em ser amigo dele por isso.

- O Brasil é um saco.

- Eu estou gostando! Por que você não pode aproveitar uma vez na vida uma viagem? - suspirei e olhei para o hall do hotel em que estamos hospedados, pelo preço que pagamos ele deve ser o melhor da cidade.

- Eu estou com tédio.

- Por que você não vai correr?

- Já fiz isso.

- Johnny disse que você abandonou um show...

- Sim.

- Por quê?

- Porque o John é um babaca.

- Foi por causa da sua ex? Opa! Olha a cabeça - gritou a última frase quando finalmente conseguiu abrir o vinho, a rolha bateu no teto e caiu no chão.

- Foi.

- Você foi atrás dela?

- Não. E não pretendo fazer isso.

- Você gosta dela?

Ri e bati duas vezes no seu ombro.

- O que foi? - perguntou com a sobrancelha franzida. - O que eu falei de mal?

Ignorei-o e andei de volta para minha suíte, fechei a porta, deitei na cama e batuquei meus dedos no lençol.

Peguei meu celular e haviam algumas mensagens de fãs que por sorte descobriram meu número, haviam mensagens da minha mãe e de algumas garotas que eu fiquei na balada.

Às 15:00 eu iria ver a Duda, e às 21:00 fui convidado pela amiga da Bruna para uma festa que ela iria.

Eu estava ansioso para isso.

Mas até lá, irei morrer de tédio.

Ted GreyOnde histórias criam vida. Descubra agora