Capítulo 8

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*Lia

Termino de passar uma base e ouço risadas. Vejo minha mãe e meu pai na escada.

-Tracy, não era para a senhorita estar na escola?-minha mãe diz aflita.
-Era, e chegamos a ir para a escola, mas uns garotos resolveram me beijar e agarrar. O Lucas apareceu e me defendeu. A gente levou uma surra mas conseguimos sair dali.-respondo serena.
-Vocês levaram uma surra?-o meu pai se aproxima.

Balanço a cabeça afirmativamente e ele olha bem pro meu rosto. Ele vê os poucos roxos estampados na minha cara, mesmo com a base, não deu pra esconder muito. Minha mãe vai até o Lucas e observa seus machucados.

-Mãe, vocês poderiam ir buscar o carro dele?-pergunto.
-Tá, mas nunca mais passe por aquele caminho... Principalmente com essa roupa.-meu pai aponta para minhas roupas.

Reviro os olhos e eles sobem para colocarem uma roupa. Me aproximo do Lucas.

-Você está bem?-pergunto.
-Vou ficar.-ele responde sorrindo.

Retribuo com um sorriso de lado.

-Você não é como as pessoas dizem.-ele diz.
-Não? Por que?-pergunto preocupada, não quero perder minha pose.
-Porque você se preocupa com as pessoas. Você só não é muito acostumada a demonstrar esse tipo de preocupação.
-Você não sabe de nada.-digo irritada.
-Viu? Você já se incomoda só de tocar no assunto.
-Você já está melhor.-eu digo acabando com o assunto.

O ajudo a se levantar e o arrasto até a porta. Bato na porta dele e o irmão atende.

-Oi, então, o Lucas se meteu em uma briga com uns garotos mas eu já cuidei das feridas dele tá?-digo.
-Ok. Mas não foi só ele não é?-o irmão diz desconfiado.
-Ah, é, na verdade, ele me defendeu de uns garotos que queriam me agarrar, mas é só isso.

O irmão assente e afasta a porta para que entrássemos. Coloco o Lucas no sofá e cochicho em seu ouvido.

-Não se meta em encrencas.

Ele sorri e eu saio. Entro em casa e subo para meu quarto, quando vejo a Rachel, minha prima.

-Gostosaaaaaa!!!!!- corro em sua direção.
-Vacaaaaa!!!!-ela me abraça.

Sempre tivemos essa relação de gostosa e vaca, tipo como a minha e a da Kah. Nós sempre fomos um quinteto. Eu, a Kah, a Rachel, a Priscila e a Elena. Quando a Rachel foi pros Estados Unidos com a minha tia e meu tio, ficamos muito tristes.

Daí crescemos e acabou que a Priscila provou ser uma piranha que não ligava pra mim. A Rachel voltou meses depois e agora somos o quarteto mais popular da escola, se não for do bairro.

-Por que não me disse que vinha?-pergunto.
-Ah, foi de ultima hora. Tia Am disse que você se machucou. Que uns caras queriam te agarrar e beijar.
-É... Mas o vizinho me salvou da garra deles.
-Tio Felipe disse que vocês estão se pegando.

Meu rosto deveria estar roxo de vergonha com isso.

-Ah... Meu pai não sabe o que fala.-respondo disfarçando.
-Sei.... Mas ele é gato?
-Tira o olho.
-Sabia...

Reviro os olhos e vou até a minha mesinha de estudo.

-Tracy, você gosta dele?-a Rachel pergunta virando a cadeira para que eu olhasse para ela.
-Não.
-Certeza?
-Por que a pergunta?
-Tracy... Lembra do que aconteceu da última vez? A Priscila te roubou o João.
-Mas isso não vai acontecer tá?
-Você que sabe...
-Por que você não acredita em mim? -pergunto alterada.
-Tracy só não quero que acabe que nem das últimas vezes que se apegou e se ferrou.
-Você e mais todo mundo acham que eu sou uma pessoa fraca. Não é porque eu já me desapontei uma vez, que signifique que eu vá me desapontar de novo.

Me levanto e saio correndo porta afora. Quando meus pais me veem eles gritam por mim mas eu ignoro e corro pro meu carro.

-Tracy!-a Rachel gritava.

Abaixo o vidro e mostro o dedo, ninguém mandou me ofender dessa maneira. Dirijo sem rumo algum. Avisto uma praia e estaciono o carro. A praia estava vazia, deve ser porque é quase 17:00. Saio do carro e avisto algumas pessoas lendo livros, fazendo piqueniques e até mesmo apenas observando a beleza do mar.

Me sento em uma pedra bem grande. Fico observando os movimentos do mar. Ninguém os impede. O mar é apenas... Livre. Ele não tem complicações, ele não tem obstáculos, ele faz o que bem entende e ainda é algo que todos gostam. Mas a sua complicação, é simplesmente ser sujo pelas pessoas. Ele se afeta tão facilmente, mas depois ele acaba com aquela sujeira. Ele tem amigos morando lá e ainda tem uma água fresca. Acho que estou ficando louca, ficar dando características para o mar... Sou interrompida pelos meus pensamentos com a chegada de um garoto.

-O que uma garota tão bonita faz sozinha observando o mar?-ele pergunta sorrindo.
-Refletindo sobre as propriedades do mar.

Ele balança a cabeça para frente e fica em silêncio.

-E o que um garoto tão atraente quer com uma garota bonita mas nem um pouco certa?-pergunto quebrando o silêncio.
-Conhecê-la.

Dou um sorriso meio fraco. Alguns diriam: "O que todos os homens querem", mas ele não, ele só quer me conhecer.

-Você parece triste.-ele diz ainda me fitando.
-Talvez seja porque eu estou.
-E por que está tão triste?-ele pergunta.
-Por que eu matei minha mãe.

Ele arregala os olhos e eu me seguro para não rir, em vão.

-Estou sendo irônica.-digo ainda rindo.
-Ah bom....-ele diz me acompanhando.
-Eu jamais mataria minha mãe, eu a amo.

Ele sorri. E abre a boca para falar, mas o meu celular toca. Vejo no ecrã que é a minha mãe. Atendo, se não eu vou chegar em casa e encontrar uma viatura de polícia.

Ligação On:

-FILHA!!!-ela grita.
-Calma... Calma... Eu estou bem, não se preocupe.
-Volta pra casa Tracy, a Rachel não disse por mal...
-Mãe, eu estou esfriando a cabeça, pode ficar tranquila que eu não estou aprontando nada.
-Eu espero. Não volte tarde.
-Não voltarei, fique tranquila.
-Eu te amo.
-Também te amo.

Ligação off

Vejo que havia 3 mensagens novas, ignoro-as.

-Desculpa, era minha mãe.-digo.
-Tudo bem. Era importante?
-Não, ela apenas queria saber onde eu estava.
-Hum...
-Qual é o seu nome?-pergunto.
-Qual é o seu nome?-ele dá entonação ao "seu".
-Eu perguntei primeiro.
-Arthur.
-Tracy.
-Tracy, você é muito bonita.

Sorrio para ele e ele retribui o sorriso com outro. Vejo o horário e já se passaram 30 minutos desde que eu cheguei.

-Arthur, infelizmente, tenho de ir.
-Adeus!
-Tchau.

Me levanto mas ele me segura.

-Tracy, qual é o seu número?-ele pergunta.

Penso um pouco se devo ou não dar meu número. Ele é um desconhecido, mas... O que poderia dar errado? Ele não tem cara de perigoso. Ele me entrega o celular e eu coloco o número. Me despeço mais uma vez e corro pro meu carro a caminho de casa.

P.S. Eu Não Ligo Pra Você Onde histórias criam vida. Descubra agora