Os dias correram normalmente até o casamento. Nada estranho ou incomum acontecera na casa dos Sforza. Rosa evitava Francesca ainda mais, porque queria evitar o sentimento de piedade e quase ternura que tivera por ela. Lorenzo zombara da irmã mais algumas vezes em particular. Seriam três semanas de intervalo até que por fim a casa estivesse arrumada de modo elegante, porém não exagerado.
Poucas pessoas foram convidadas pelos Sforza pois eram de fato poucos que aceitavam frequentar aquela casa. Não mais do que cinco famílias que possuíam negócios muito estreitos com Lorenzo. Na noite anterior ele fizera uma orgia com algumas prostitutas, como de hábito, e como zombaria enviara uma ao quarto da irmã, que amargurada, apenas aceitou o agrado que era provocação.
No dia seguinte Francesca fez um enorme esforço para parecer bem. Estava mais linda do que de costume, num vestido de veludo vermelho, suntuoso e um grande colar de rubis no pescoço. Esquecia sua tristeza organizando os detalhes da festa. O irmão mais novo, Cesare, voltara afinal para o casamento do irmão, após noites tocando nas ruas da cidade. Era um rapaz de seus vinte e dois anos, muito mais moreno que os irmãos, era o único que não tinha os cabelos tão pretos, eram castanhos e ligeiramente desalinhados. Usava roupas simples e a irmã o arrumara carinhosamente para a festa. Ele era seu único amigo em todo o mundo. O casamento aconteceria no final da tarde, e por volta das cinco horas os carros começavam a chegar.
Por parte dos Delatorre tudo ocorrera pacificamente, o que foi uma surpresa para Cesário. Gaetana o repudiou por alguns dias, queria ser ela a primeira a se casar e sair logo dali. Por fim tratou-se de providenciar sua vestimenta para o casório como se fosse ela a própria noiva, o que irritou Elena. Beatrice cuidou de seu enxoval com cuidado, tinha poucas coisas e quase tudo tivera de ser renovado. Felizmente tinha algumas economias da herança pífia que recebera de seu falecido marido. O vestido de noiva fora costurado por ela e Letízia, Gaetana surpreendentemente se ofereceu para arrumar a noiva.
- Você está linda! - Felicitou Letízia ao ver a irmã pronta.
Beatrice trajava um vestido colado ao corpo elegante, todo feito em rendas com um forro róseo. Os cabelos castanhos estavam soltos, caindo até a altura da cintura. Tinha uma discreta coroa de flores que envolvia sua cabeça feita por uma das moças que trabalhava no "palacete" e que nutria profunda simpatia pela primogênita dos Delatorre. Seus olhos estavam pintados em tons de pérola, seus lábios tingidos de carmim. Fitou-se no espelho surpresa. Era como se não reconhecesse a sua própria figura.
- Muito obrigada, meninas. Estou muito feliz com a gentileza de todas.
Elena, sentada no canto do quarto, a única que ainda não havia se trocado. Não havia ajudado em nada nos preparativos, algo que até Gaetana fizera. Começou a bater o pé por sobre a madeira do piso e então se ergueu de supetão, se aproximando da irmã e a segurando entre os braços. Tinha lágrimas teimosas nos olhos.
- Beatrice, não faça isso! Eu suplico! Vamos fugir. Eu, você e Letízia. Não precisa disso, não precisa se sacrificar novamente.
- Minha querida, eu estou fazendo o que é certo. Felicidade no casamento é uma questão de sorte. - Engoliu seco, tentando ser prática. Já fora emotiva e passional como sua irmã, mas tal faceta havia morrido nos primeiros dias que se tornara uma mulher casada, anos atrás. - Eu estou motivada a ser feliz e o senhor Lorenzo já se comprometeu em manter o máximo de distância de mim. Assim salvarei vocês e quem sabe consiga algum dinheiro para melhorar suas vidas.
- Não precis...
- Eu insisto que aceite, Elena. - Beatrice foi firme. Tentou segurar as lágrimas e mudou de assunto. - Você vai assim no casamento?
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Sob o Signo da Serpente
Gizem / GerilimUm segredo de família guardado a sete chaves, em um teto onde alguém pode não ser o que parece. A história de um clã que carrega uma sina maldita. Em meio a luta pela sobrevivência e o amor encontrado entre as frias paredes da mansão de Veneza, uma...