A chegada

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Lorenzo não dizia o nome de Francesca, em compensação, cotidianamente perguntava a Beatrice se tinha notícias de Rosa. Chegara ele próprio a procurar Elena para tratar diretamente sobre como fazer para evitar que ela fosse para a prisão quando chegasse na Itália. Gostava dela como costumava gostar de seus irmãos.Disponibilizou todo o dinheiro necessário com advogados, papéis e até subornos. E por fim, faria algo que ajudaria a jovem cigana pelo resto de sua vida.

- Ela me disse uma vez que sua mãe lhe deu o nome de Rosa Amaya e que a mãe se chamava Soledad, com este mesmo sobrenome. Nasceu perto da cidade de Málaga. - disse ele, na embaixada da Espanha no país - Quero que façam uma busca por qualquer registro da existência dessas pessoas. Esta é a primeira parte do pagamento por isso. Se conseguirem mais alguma coisa, pagarei mais. O façam com mais urgência do que qualquer outro caso...Se puderem, descubram se esta mulher ainda é viva.

Lorenzo fazia tudo aquilo porque agora que tudo passara, sentia a mais legitima vontade de reparar o que o pai havia feito a Rosa, depois o que aquele demônio havia feito. E ele sabia bem que aquele talvez fosse seu ponto mais sensível. A resposta viria um mês depois, ele já estava de volta à Itália. Um telefonema da embaixada da Espanha.  

- Encontramos uma certidão de batismo. Alguns padres por caridade passavam pelas estradas batizando crianças ciganas. Ha sim o registro dessa moça. Quanto à mãe, é viva. O padre dessa paróquia disse que ela mora sozinha numa casa simples. Perdeu a razão porque lhe roubaram a filha.

- Eu quero essa mulher aqui em duas semanas.

- Mas senhor Sforza.

- Eu quero essa mulher aqui em duas semanas. - ele repetiu, com firmeza.

*******

Era um dia quente em Málaga. As pessoas procuravam lugar para se abrigar do sol. Algumas entravam na pequena igreja, ainda que não fosse horário de missa. Outras procuravam uma saída menos santa e adentravam os bares. A única pessoa que parecia não se importar com o sol era uma mulher que caminhava pela rua, incansável.

Tinha os cabelos negros cobertos por um discreto lenço. Era magra , a compleição de alguém que havia sido derrubado pela vida. O rosto que já fora bonito estava enrugado e marcado pelo trabalho e pelo sofrimento. Usava roupas simples, de uma cigana, feitas por ela. Soledad trazia nas mãos uma foto em sépia, que um estrangeiro fizera de sua filha, poucas semanas antes de seu desaparecimento. Ela parava os pedestres e dizia.

- Senhor... Gostaria de saber se já viu essa moça em algum lugar. Ela é minha filha...Foi roubada. Por favor se souber de qualquer coisa, me ajude.

Diziam que a mulher estava louca, porque ha mais de dez anos lhe haviam roubado a filha e ela nunca parara de procurá-la. Se afastara dos demais porque diziam que ela tinha de parar, que a menina devia estar morta. Todas as delegacias e hospitais da região pararam de recebê-la, fartos de sua insistência. Alguns transeuntes paravam para escutar sua história, alguns passavam reto. Outros lhe jogavam moedas sem entender que ela não queria esmolas, pois vivia de seu trabalho com bordados. Soledad cansou e se sentou num dos bancos da praça em frente a igreja. Também estendeu alguns lenços bordados que vendia. Subitamente ergueu o rosto e se deparou com um homem de terno.

- Soledad Amaya?

- Sim?

- Sou Fabrizio Mancini, agente do senhor Lorenzo Sforza. Vim da Itália porque meu patrão tem informações de sua filha. Posso ver esta foto?

A mulher engoliu em seco. Apesar de sua procura incansável, ela mesma não conseguia acreditar no que ouvia. Soledad ficou pálida e se levantou.

- Senhor se isso não for verdade eu não vou aguentar...por favor...vamos conversar em algum lugar onde eu possa tomar água...

Sob o Signo da SerpenteDonde viven las historias. Descúbrelo ahora