- O que estava tentando fazer? -ele a puxou pelo braço violentamente e a jogou no chão- Quem estava querendo que entrasse em minha casa? Conte ou eu vou lhe bater até que você morra.
Rosa não disse nada. Permaneceu calada diante das palavras dele,e Lorenzo cumpriria sua promessa, descarregou nela uma série de golpes com aquele chicote feito para bater em cavalos. Era inútil, ela não dizia nada, apenas aguentava em silêncio aquela surra enquanto sentia sua pele se romper sob os estalos do chicote e o sangue escorrer pelo corpo. Quando tornou-se insuportável, ela mentiu.
- Eu...Ia deixar ladrões entrarem...E ia ficar com metade do dinheiro.
Lorenzo revirou os olhos e largou o chicote.
- Eu devia mandá-la para a polícia enforcá-la por isso. Mas vou resolver do meu jeito. Vou mandá-la passar um tempo na casa de Cesário, vai reviver seus velhos tempos. Se tentar fugir, eu mato você. Esteja pronta amanhã, pela manhã e lave essas feridas, vai ficar muito mais barata do que você já é ,desse jeito.
Rosa entrou porque não havia alternativa. Quando se afastou da presença de Lorenzo, ela começou a chorar. Estava assustada e machucada, mais uma vez. Cruzou Beatrice, pelo caminho, quando a mulher ia na direção do portão, ela simplesmente olhou em seus olhos, e Beatrice certamente poderia entender a gravidade do resultado de sua tentativa de fuga daquele lugar. Entender que Rosa não havia exagerado nem um pouco quando a advertira. Mas agora era tarde.
-Volte para o quarto. Ele me viu tentando abrir o portão, se não a encontrar lá ele vai descobrir porque eu fiz aquilo e vai me matar.
O rosto dela estava coberto de sangue, e seus dentes rangiam de ódio. Não era aquele um bom momento para contrariá-la. Rosa não quis mais sequer olhar para Beatrice e seguiu para o próprio quarto.
Beatrice ficou extremamente chocada. Nunca imaginara tamanha barbárie acontecendo dentro das muretas de uma casa tão bela, de uma família tão rica. Seguiu para o seu próprio quarto e sentiu seu estômago revirar. Tirou a capa que a cobria e a jogou por sobre a cama, se aproximando da janela e fechando os olhos, respirando fundo e tentando acalmar seu coração. Não funcionaria muito bem, não tardaria para cair no choro mais profundo que um dia chorara. Fitava o jardim e a noite, sentindo-se impotente e culpada. Culpada do recente sofrer de uma mulher já tão sofrida. Não conseguiria dormir e veria o sol nascer de sua janela, sentada ao chão. Se algum criado viesse a despertar, não receberia resposta alguma. Ficaria alí, inerte.
Quem adentrou o quarto não foi uma criada, mas Francesca. Ela ainda não sabia o que acontecera com Rosa naquela noite, talvez por isso estivesse calma como sempre. Trazia uma bandeja com chá e alguns pedaços de pão para a cunhada. Pousou-as na mesinha perto da janela e se sentou ao seu lado.
-Eu imaginei que não tivesse conseguido dormir noite passada depois do que viu. E eu acho que lhe devo algumas explicações.
Finalmente Francesca Sforza admitia que tinha de lhe contar alguma coisa, de lhe explicar minimamente. A jovem lhe estendeu a comida e o chá.
- Coma. Uma mulher grávida não pode ficar tanto tempo sem se alimentar.
Beatrice moveu seus olhos minimamente, fitando a cunhada com um olhar vidrado, perdido. Por fim voltou a desviar o olhar, ficando um bom tempo calada. Em seguida sua voz soou baixa, rouca da garganta seca.
- A única explicação que quero é...Por que não me avisou que esse lugar era o inferno? - Vociferou, ainda sem olhá-la. - Estive aqui durante o noivado, você...Você teve todas as chances de sinalizar. Não sei se vou aguentar viver aqui. Vou carregar culpa daquela mulher ter sofrido tamanha violência por toda minha vida. Eu que pedi para ela sair do seu quarto, eu! Agora pode contar ao seu irmão, garanto que as chicotadas em mim doerão bem menos que essa dor que sinto na minha consciência.
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Sob o Signo da Serpente
Mystery / ThrillerUm segredo de família guardado a sete chaves, em um teto onde alguém pode não ser o que parece. A história de um clã que carrega uma sina maldita. Em meio a luta pela sobrevivência e o amor encontrado entre as frias paredes da mansão de Veneza, uma...