VII - Não Durma

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Lorenzo sairia da casa pouco antes da chegada da irmã. Tinha algo a fazer. Dirigiu-se à casa de campo que cedera a Gaetana. O homem ordenou que a carruagem parasse em frente a casa e entrou sem aviso. Após pendurar o chapéu e o casaco, chamou por sua jovem amante

- Senhorita Gaetana, vim vê-la! - Quando encontrasse a jovem, a abraçaria e lhe daria um beijo ensaiado para parecer muito apaixonado.- Gostaria de lhe trazer boas novas, mas trago notícias tristes a respeito de sua irmã...Francesca a envenenou. E ela perdeu o bebê.

A jovem loura recebeu seu amante de maneira carinhosa, mas pouco efusiva. Estava distraída demais arrumando a casa da maneira que bem entendia, provando suas roupas e desfilando na frente do espelho. Por fim lhe correspondeu o beijo de maneira enérgica e então se afastou, quando ouviu as palavras deste.

- Francesca...? Céus...

O pouco de humanidade que Gaetana tinha surgiu naquele momento. Esta se afastou e sentou-se no primeiro banco que encontrou, pálida. Respirou fundo, com uma expressão desolada. Evitava pensar em Beatrice e no quanto lhe devia, mas naquele momento se sentiu evidentemente mal.

- Beatrice queria tanto um filho. Sempre quis...Deve estar sofrendo muito. - Olhou para Lorenzo, imaginando se ele ficara por algum momento com sua pobre irmã. Se a consolara. Afastou aqueles pensamentos perigosos de sua mente, erguendo-se novamente. - Precisa dar um jeito na sua irmã, senhor Sforza. - Falou num tom afetado, como se aquela declaração fosse óbvia. 

Lorenzo tentou parecer transtornado com aquela informação. Balançou a cabeça e disse com a voz quase embargada.

-Minha esposa está inconsolável e é da mesma opinião que nós, senhorita. Eu vim hoje não para desfrutar dos prazeres da carne. Mas porque precisamos de sua ajuda para findar as maldades dessa mulher. Eu...Não poderia matar minha própria irmã. Mas talvez mantê-la longe da sociedade seria mais apropriado...A senhorita estaria disposta a me ajudar a pelo menos...Interná-la? Uma pessoa tão cruel só pode sofrer de algum transtorno.

Com Gaetana que no momento não sentia tanto ódio, suas palavras eram mais sutis. A loira arqueou as sobrancelhas, cruzando os braços e lhe dedicando um sorriso malicioso.

- Ora, o que quer que eu faça eu farei. Não só por esta vagabunda ter feito minha irmã passar por mais uma provação terrena, mas por que é um pedido seu.

Gaetana estava tão feliz com a vida que Lorenzo lhe proporcionava que parecia não ter muitos escrúpulos para mantê-la. Somente quando se tratava de Beatrice e Letizia surgia algum conceito de moralidade em suas ações, mas era tão ínfimo em comparação com o que recebia de Lorenzo que logo era esquecido. 

- Queres que eu ajude a mandá-la a um manicômio? - Falou num tom frio, como se Lorenzo tivesse pedido para ela ir até uma venda comprar qualquer coisa ordinária.

Lorenzo sorriu ao vê-la aceitar uma ideia tão sinistra como era trancar uma mulher sã em um manicômio com tanta energia e prontidão, mas balançou a cabeça.

-Tenha calma, minha bela, sou um homem de negócios e não será bom para mim mandar minha irmã a um lugar desses sem provas de sua loucura. Podem pensar que estou tentando roubar a parte dela de nossa fortuna. Isso me faria perder credibilidade.

Ele também comentava aquilo com indiferença , como um fator comercial qualquer.

- Primeiro eu lhe darei dinheiro para comprar uma substância que confunda a razão de minha irmã. Ela tem que acreditar que está louca mais do que todos. Também pensei em...Aproveitar suas perversões reais.- Hoje nenhuma mulher em Veneza se compara a ela. Pobrezinha, irá virar uma doente trancada em uma casa de dementes, mas que não tivesse feito mal à minha pobre Beatrice.

Sob o Signo da SerpenteDonde viven las historias. Descúbrelo ahora