Sob o Signo da Serpente

IV - Estorvo

 Um presente chegava endereçado a Gaetana. O criado fora pago para entregar em mãos. O embrulho ocultava uma caixa de veludo de tamanho médio, quando a jovem a abriu se deparou com algo que ela jamais pudera sonhar em ter. Um colar de rubis e ouro. Dispunha-se no formato de folhagens e flores feitas daquelas pedras preciosas. Era possivel que o colar custasse o valor daquela casa. E uma coisa era certa : o rubi era a jóia dos Sforza. Estava em jóias de família e brasões. Eles presenteavam pessoas ilustres com aquelas pedras. Para confirmar, um bilhete.

"Minha bela, espero que goste de meu pequeno agrado cuja beleza é infinitamente inferior á sua. Eu a espero numa carruagem negra, nos fundos do palacete. Do seu L.S"

Gaetana recebeu o presente de maneira efusiva. Ele a buscara bem no dia seguinte da noite de núpcias com sua irmã. Riu ao imaginá-lo entediado com Beatrice. Ergueu-se do sofá onde preguiçosamente e se vestiu com esmero, vestindo um belo vestido de passeio róseo.

- Onde vai, Gaetana? - Disse Letizia, ainda de camisola e completamente despenteada, a observando maquiar-se de frente ao espelho.

- Não te interessa. - Gaetana sorriu para o próprio reflexo. - Mas...Pode-se dizer que arranjei um admirador na festa de ontem.

 É mesmo? - A mocinha sentou-se no sofá, olhando a irmã com admiração.

- Sim. Agora me vou!

Gaetana guardou o colar em seu baú particular, o trancando com o cadeado e escondendo a chave entre os seios. Sorriu para a irmã e saiu do aposento, indo encontrar-se com seu admirador. Felizmente, Beatrice - que lhe cuidava da virtude - e Elena, sua odiosa irmã, não estavam lá. Não tinha motivos para se esconder. O que não reparou é que o bilhete que veio com o presente caiu ao lado do baú e Letízia, naquele instante, já o lia com bastante atenção.

Lorenzo estava de fato la fora. Quando Gaetana se aproximou ele não saiu da carruagem para não ser visto com a jovem. Um criado bem vestido fez uma mesura e abriu a porta para ela. Lorenzo estava la dentro, sempre muito belo e bem apessoado. Havia também um inebriante perfume masculino. Ele pegou a mão da Gaetana e a beijou demoradamente.

Seguiriam para um lugar um pouco afastado. Uma espécie de casa de campo ainda que fosse nos limites da cidade. O criado abriu a porta. A casa tinha um belo jardim, era um pequeno palacete iluminado pelo sol. O tipo que não sugeria qualquer espécie de caso tórrido, mas a existência amena de uma família. A bela casa branca circundada por parreiras e rosas não parecia ter sido feita para o adultério tão vil. Fazia uma brisa fresca, a despeito da tarde quente, e Lorenzo conduziu a jovem com o braço em seus ombros delicados, pela alameda do jardim, até a porta entalhada de madeira clara.

- Gostou daqui, minha linda dama?

Gaetana não oferecia impedimento nenhum a Lorenzo. O que ele lhe oferecia era o suficiente para ela. Os homens que lhe ofereceram matrimônio não eram nem de longe belos e atrativos como seu cunhado. Sua irmã de certo não saberia se deleitar nos braços de alguém assim. Ela não. Ela iria aceitar de bom grado o que lhe era oferecido pelo homem.

- Como poderia não gostar...? É muito bonito. - Sorriu. Tirou o chapéu , fazendo com que os cachos loiros caíssem feito cascata até sua cintura. Fechou os olhos e respirou o ar puro do jardim, visivelmente satisfeita. - Só me surpreendi com sua rapidez. Casou-se ontem e já me procurou hoje... - O censurou de maneira travessa e maliciosa.

Quando entraram, Lorenzo gentilmente pegou o chapéu de Gaetana e o pendurou na entrada. Então ele pegou a mão da jovem, sorrindo ao ouvir aquela pergunta que soava um pouco atrevida.

-Senhorita Gaetana, pensei ter ficado claro que no dia em que fui conhecê-las, eu a escolhi. E por ter me apaixonado pela senhorita a primeira vista eu quis lhe dar algo mais do que um papel tolo declarando-a mãe dos meus filhos. Qual seria o sentido de esperar em silêncio?