XVII - Lar

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Dois meses depois

- Senhor, tenho boas notícias. A sua senhora está esperando um filho.

O médico parabenizou Dionisio longe do quarto de Elena, que estava medicada e dormindo profundamente. O "arauto da morte" arqueou ambas as sobrancelhas, surpreso. Pelo que sabia a jovem era intocada, a menos que...

- Aquele moleque...

- Senhor...? - O doutor parecia surpreso com a reação de Dionisio. Este deu de ombros e pagou o homem, deixando combinado que este voltasse no dia seguinte para ver a saúde da jovem.

Dionisio retornou para o quarto com passos lentos, como se organizando seus pensamentos. Assim que adentrasse se sentaria ao lado da moça na cama e a fitaria com carinho. Por fim esta moveria a cabeça e ele lhe tiraria os cabelos que se emaranhavam por sobre o rosto.

- Dionisio, por acaso vou morrer?

- Vai. Mas não hoje. - O homem sorriu. Elena também sorriria e então suspiraria, ainda tomada pela medicação forte. - Descanse, moça.

Ele não precisaria pedir duas vezes, a ruiva voltou-se para o lado e tornou a dormir, tranquila. Não a imaginava pronta para ter um filho.

Dionisio chegaria ao quarto depois de algumas horas e veria Elena já com as roupas trocadas. Vestia seu vestido prático em tons de cobre e o cabelo estava preso num rabo de cavalo. A face ainda estava pálida, os olhos envoltos por olheiras. Ainda assim era a mulher mais atrativa que já havia conhecido.

- Onde pensa que vai? - Indagou.

- Vou para casa. Já fiquei aqui muito tempo. Agora que Letizia foi embora com Ce...- Respirou fundo. - Com aquele rapaz, posso voltar para lá e não te dar mais problemas.

- Você nunca me dá problemas.

- É muito gentil da sua parte, mas... - Se sentaria na cama, fechando os olhos e comprimindo os lábios, como que tentando conter alguma emoção triste que sentia. 

O homem sentou-se do seu lado e tocou-lhe a mão. Como não viu resistência, entrelaçou seus dedos calejados entre a mão macia da jovem professora. Esta baixou a cabeça, ainda tentando esconder a tristeza que sentia.

- Oh, meu amigo. Estou tão triste. Rosa se foi, nunca tive...Nunca tive a menor chance. - Sorriu, um sorriso cansado. Ergueria o rosto e o fitaria entre a cortina de lágrimas que cobria as íris esverdeadas. - Pensei que Cesare pudesse... Nem sei o que pensei. Só sei que o vi tão sozinho e perdido quanto eu, eu sabia que ele era um bom rapaz e que, quem sabe...

- Shh. - Dionísio interrompeu a moça. Sabia tudo que a jovem sentia. Não pretendia contar como vira os dois casais partindo no porto, tão alheios ao sofrimento daquela jovem. - Eu sei, Elena. Eu sei. Mas...Você precisa se cuidar.

- Eu sei me cuidar.

Elena postou-se em pé, como que afastando toda aquela tristeza de si. Dionisio tentou segurá-la para que não partisse, ela precisava saber que estava grávida, tinha que contar. A moça compreenderia tudo errado e o empurrou com força, partindo com passos rápidos da casa e montando o primeiro cavalo que encontrou pela frente. 

******

Gaetana havia retornado para o bordel. Agora era, definitivamente, a mulher mais bem vestida e bela do lugar. Trajava-se com extremo luxo e agora vagava entre os salões como se fosse a dona do lugar. Naquela noite tivera uma boa surpresa. A carta de Letizia informando que ela chegara na América com o jovem Sforza. Achou bom. Ao menos alguém teria um final decente naquela família desgraçada. O difícil foi lidar com o temperamento de Cesário.

Sob o Signo da SerpenteDonde viven las historias. Descúbrelo ahora