V - O Enforcado

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Elena receberia a noticia de que alguém tinha uma mensagem a lhe entregar. Rosa a esperava, e ela certamente reconheceria a criada insolente dos Sforza. A cigana não tinha qualquer cerimonia, sem mesuras e pronomes de tratamento ,simplesmente se aproximou da jovem e lhe entregou o bilhete.

- É de sua irmã. Eu não sei o que ele diz porque não sei ler, então se tiver alguma coisa para perguntar a ela, escreva outro que eu o levarei.

Elena sorriu para Rosa com real animação, puxando-a pela mão para dentro do bordel. Estavam limpando o espaço, demoraria muito para que começasse a noitada e a ruiva permitia-se andar livremente por ali. Fez um sinal para que a cigana se sentasse ao seu lado numa das mesas e abriu o envelope. Parecia realmente animada em ter notícias da irmã. Por fim sua face foi tornando-se séria ao ler cada palavra escrita ali e então, ao findar a leitura, ela amassou o papel entre as mãos. Ergueu o rosto na direção da criada e praguejou feito um marujo.

- Diabos! Sabia, sabia que tinha algo de errado ali.

Ergueu-se de supetão, se aproximando do bar e servindo dois cálices de um vinho feito de mel. Não perguntou se Rosa queria ou não, apenas serviu para esta e sentou-se na sua frente. Trajava uma calça masculina e uma camisa branca feminina, usava sapatos confortáveis. Era como se tivesse feito algum exercício antes de atender a mulher.

- Não vou responder em papel. Do jeito que os Sforza são, certamente irão interceptar a anotação. - Era evidente que Elena exagerava na demonização daquela família, o que certamente agradaria Rosa. - Diga a ela que...Vou providenciar o que me pediu. Logo a tirarei de lá. Nem que seja viúva. 

Saber que a ruiva estava disposta a fazer aquilo,lhe deu vontade de abraçá-la. Mas não o fez. Apenas arqueou uma sobrancelha e disse

- Sim certamente aqueles porcos interceptariam se soubessem. Mas eu conheço aquela raça miserável bem o suficiente para que não percebam, caso precise escrever. - sentiu-se grata por beber depois de toda a tensão da manhã. - E também se precisar de minha ajuda para qualquer outra coisa que envolva prejudicar aquela gente, conte comigo.

A ruiva sorriu para Rosa, erguendo um brinde e então buscou a garrafa e colocou por sobre a mesa, caso a outra desejasse se servir de mais bebida. Cruzou os braços de fronte ao busto, evidenciando ainda mais seus seios por baixo da camisa. Não deveria se portar assim, mas era evidente que com a distância de Beatrice a jovem perdera totalmente a compostura. 

A cigana mantinha-se atenta às palavras de Elena, mas tirou das vestes uma pequena trouxa de pano branco, e começou a embaralhar as cartas de modo displicente, e desviou os olhos da outra apenas quando uma carta fora escolhida. O enforcado. Rosa sorriu.

- Pois então tenho boas notícias para tí, minha cara. Conheci um homem muito importante e proeminente na região que...Aparentemente tem algumas contas a acertar com a família Sforza. Já somos três. - Tirou do bolso de sua calça um canivete e o fincou sobre a mesa. Parecia não se importar com o patrimônio daquele bordel, não era mais nada seu. - Não sei quanto a tí, mas a alcunha de assassina já não me parece ser tão ruim. Se assim for necessário...

Algo na conversa com Dionísio havia despertado um lado ainda mais agressivo na ruiva. Ela agia com total liberdade, talvez esse fosse o seu diferencial para com Rosa. Mas ter a criada como aliada era muito importante. Estava dentro do território do inimigo, estava entre eles.

- A de puta eu já tenho, creio que para uma mulher talvez isso seja pior do que a de assassina, para nós. Eu sem dúvida os mataria com prazer, sendo bastante sincera. Motivos e vontade não ne faltam e talvez eu só não o tenha feito ainda porque as consequências para uma criada que mata seus patrões são grandes. Mas agora vejo que posso começar a pensar nisso.

Sob o Signo da SerpenteDonde viven las historias. Descúbrelo ahora