Traição

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O tempo passou rápido até que Rosa fosse inocentada. Não mais de duas semanas após a visita de Cesário. Lorenzo não lhe contara os pormenores do processo, não queria estressá-la. Deixou tudo por conta de seu advogado que fez um ótimo trabalho.A cigana preferira não contar a Soledad que quase perdera o bebê. A mãe já havia sofrido demais e precisava descansar. As duas almoçavam quando Lorenzo entrou, sorrindo e pousou alguns papéis sobre a mesa.

- Suas passagens para o Brasil, seu visto e de sua mãe. E os documentos que comprovam que foi inocentada.

Rosa sobressaltou e pulou no pescoço de Lorenzo, abraçando-o e arrancando risos da mãe.

- Obrigada! Obrigada! Vou voltar para Francesca, mamá!

Por fim ela se afastou, Lorenzo ainda sorria e tentou se recompor.

- O navio parte em três dias. Veja o que falta para a viagem. Roupas, remédios, dinheiro. Vou pedir que Bea cuide de tudo isso. - Lorenzo andava de um lado para o outro, com uma imensidão de coisas na cabeça.

Soledad não pedira nada a Lorenzo,sentia vergonha após tantas coisas que o homem já havia feito por elas. Rosa tampouco, se utilizara dos recursos de Lorenzo naquela situação emergencial, mas não pretendia pedir dinheiro.

Era a noite antes da manhã em que partiriam quando ele a chamou em seu escritório. Sentado na escrivaninha, estava como sempre afundado em planilhas. Naquele dia avaliava se era lucrativo comprar metade de um banco brasileiro. Lorenzo jamais admitiria aquilo em voz alta, mas sabia em seu coração que ele poderia ter destruído Cesário Delatorre na Itália mas que o homem era poderoso no Brasil, onde estava a parte mais frágil de sua família.Ouviu a porta se abrindo. Apagou o cigarro e tirou os óculos de grau, fitando Rosa. Ele abriu a gaveta trancada com uma pequena chave e tirou um bolo de notas.

- Pegue. Você pode precisar.

- É para mim que quer dar esse dinheiro, cabrón? Tem certeza que é mesmo para mim? Eu não o quero. Se me mandar levá-lo para outra pessoa eu posso considerar.

Rosa estava bela num vestido ocre que parecia fundir-se à sua pele. Os cabelos como sempre presos numa trança lateral. O cheiro do perfume de Francesca

- É claro que é para você. Mas que pergunta! Pegue.

- Poderia não ser. Você tem um filho no Brasil.

Lorenzo fechou os olhos negros e massageou a testa, suspirando, cansado. Queria mesmo que ela partisse, já há muito aquela conversa constrangedora se ensaiava, e Rosa jamais deixaria de cobrar-lhe a paternidade do garoto que criava como seu.

- Aquela coisa não é meu filho e você sabe disso. Não passa de um corpo sem alma, ocupado por um demônio, o mesmo que fez isso à minha irmã. Não me culpe por...

- O que sei é que você está muito enganado. - Rosa puxou a cadeira mas não se sentou. Na verdade apenas apoiou o pé em cima dela, debruçada no encosto, devorando Lorenzo com os olhos. - Eu pus as cartas no navio e eu preciso lhe advertir de uma coisa. Aquele diabo está em Giovanni...Lorenzo...Eu te vi morto, assassinado. - A cigana falava muito sério. Não era uma zombaria, nem uma provocação.

- ROSA COMO SE ATREVE?!- ele sobressaltou, indignado - Até que ponto vocês duas vão chegar? Isso tudo é para voltarem? Aquela aberração que ela chama de filho nunca pisará nessa casa ou colocará os olhos em minha família. Não importa a mentira infame que queira me contar.

- Não se atreva você a chamar meu menino de aberração, se não o considera seu filho, eu o amo como meu. Eu poderia ralhar e gritar. Deveria bater na sua cara por ser tão covarde. Mas não vou. Vicenzo está bem. Ele tem muito amor e não precisa do seu dinheiro e da sua mansão. Você vai descobrir da pior forma que estamos falando a verdade.

Sob o Signo da SerpenteDonde viven las historias. Descúbrelo ahora