O Telefonema

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- Francesca, você não devia ter feito isso. Ele poderia ajudá-la. Agora Rosa está à própria sorte...

- Nada que esse homem faça de bom para alguém não vai ser cobrado depois, Cesare.Já lidei muito tempo com demônios e maus espíritos para não reconhecer alguém que se tornará um deles depois que morrer. Agora por favor, me deixe descansar. Pretendo visitar Rosa ou ao menos tentar antes que lhe façam algum mal.

Francesca então olhou para Letizia. Talvez aquela fosse a primeira vez em que a senhorita Sforza não a olhava com benevolência. Era aquele olhar sério, muito raro na jovem, mas que quando acontecia, era verdadeiro e um pouco impassível.

- Acho que você deve uma conversa a seu marido. Nem que seja para dizer-lhe de uma vez que não o quer mais e ir para Itália atrás de Cesário implorar pelas migalhas dele e se lamentar de não te-las pego antes. Já que permitiu que ele atacasse Cesare como se você não tivesse subido naquele navio por livre e espontânea vontade . Nem uma palavra em favor de seu marido e assumindo seus próprios desejos. - Francesca estava irritada desde que percebera a postura de Letizia em relação àquela história, e a prisão de Rosa deixara seu humor ainda pior. - Não há lugar para santos em minha família, senhorita, e já sabia disso quando decidiu entrar nela. Agora se me dão licença.

Francesca lhes deu as costas, pegou o bebê no colo e seguiu para o quarto, sem dizer mais nada. Aquela fora sua despedida.

Cesare olhou para esposa, ainda vermelho por toda aquela situação.

- Vamos para casa.

Letizia não respondeu a Francesca, saiu de supetão e seguiu na direção do lugar onde viviam. Subiu as escadas do cortiço e esperou que Cesare destrancasse a porta. Abriu as janelas e então se sentou numa cadeira, fitando o lado de fora com uma expressão cansada.

- Sua irmã foi muito rude comigo, Cesare. Foi muito rude com meu primo. Eu realmente chego a acreditar que ela não gosta de nenhum dos Delatorre. Maldito o dia que Beatrice casou-se com Lorenzo!

Praguejou, se erguendo e começando a andar pelo quarto de maneira nervosa. Apoiou os braços na cintura e então postou-se na frente de Cesare, séria.

- E você? Também acha que devo me mandar para a Itália? - Por fim se aproximou deste e o fitou nos olhos, agora parecendo mais calma. Era evidente que havia visto que exagerara em sua reação. - Acho que devíamos ter ficado por lá. 

Cesare fitava Letizia, o rapaz também estava sério. Não queria dizer, mas achava que apesar do modo que Francesca usara para falar ser grosseiro, ela tinha razão. No entanto ele não se atrevia a verbalizar tal coisa. O rapaz se sentou na cama e passou as próprias mãos pelo rosto cansado de dias tensos.

- Letizia...Por que espera que eu responda esta pergunta? Eu obviamente não suportaria de dor se você me abandonasse e voltasse para a Itália. Mas devíamos ter ficado lá? Você viu o que este homem fez com a vida de Francesca e Rosa em algumas semanas? Uma vida que corria bem, sadia e feliz como jamais fora a vida que tínhamos na Itália? - Apesar de questioná-la, o rapaz mantinha seu tom de voz baixo e até delicado, não perdera a noção de que falava com uma moça - Eu não me arrependo de ter vindo para cá. Não me arrependo de ter me casado com você. Se é este o seu caso, eu realmente não posso lhe responder. Meu erro foi não ter percebido o mal que fiz a Elena, quanto ao resto, não me arrependo, Letizia. 

Letizia fitou Cesare e então fez um sinal negativo com a cabeça, se erguendo e começando a andar pelo aposento. Não era do tipo que discutia, nem que colocava para fora o que pensava ou o que sentia. Até a chegada de Cesário tudo havia sido assim. Era difícil saber se a moça havia mudado sua personalidade para agradar Cesare. Talvez estivesse cansada de manter a imagem de esposa exemplar.

Sob o Signo da SerpenteDonde viven las historias. Descúbrelo ahora