XIX - Pai

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Cesare se arrumara com um terno que usara para a audição da orquestra e que havia sido cuidadosamente costurado por Francesca para que parecesse novo. Ele tomou o braço de Letizia. Tentava sorrir mas não conseguia. Não se sentia bem com a ideia de visitar Cesário Delatorre. Ele só conseguiu sorrir ao ver a esposa tão bonita, arrumada como nos tempos de Veneza.

O elevador também impressionaria o jovem. Ele riu e brincou com Letizia enquanto subiam. Cesare entrou e cumprimentou o homem. Ele permaneceria em pé até ser convidado a se sentar. Retornara aos tempos da humildade na qual crescera.

- A vida tem sido boa para nós senhor Delatorre. Eu e Letizia estamos felizes e como o senhor bem sabe entrei na orquestra. E meu irmão e Beatrice, tem noticias deles?

- Ah sim, tenho ótimas notícias.

Guiaria o casal para a mesa de jantar. Ao contrário do que poderia se imaginar, não havia gastança exagerada com alimentação. Havia comida boa o suficiente para as três pessoas. Imaginando que estes pudessem estar saudosos de sua terra, pediu que o cardápio fosse de massas italianas. O vinho era da melhor qualidade. Assim que todos fossem servidos, o homem continuaria a falar.

- Beatrice teve um bebê saudável. Giovanni. É a cara dos Sforza. - Sorriu, levando um pouco de comida até os lábios e mastigando com calma, logo tornaria a falar. - Seu irmão Lorenzo é um homem muito feliz. A sintonia que tem com a esposa é impressionante... Ela mudou toda a casa. Abrimos uma tecelagem para empregar as mulheres de Veneza.

Falaria como se a ideia fosse dele e aquilo traria um sorriso para Letizia, que o observava de maneira atenta e admirada. Por fim mudou de assunto e perguntou para jovem como andava sua vida. Se ainda tocava piano, se ainda pintava. Prometeu ajudar o casal quando Cesario começasse a trabalhar na Orquestra. Conhecia muitas pessoas.

- Tenho um pequeno piano na saleta ao lado. Não é um piano forte, mas... 

- Será um prazer.

Letizia se aproximaria das teclas e começaria a tocar. Seus dedos eram destreinados, mas era adorável. Era evidente que estava tímida na frente de Cesario. Este, por sua vez, deu mais vinho para Cesare e começou a beber, fitando a moça.

Cesare não conseguia relaxar nem por um momento. Ouviu com uma alegria tensa as novidades de seu irmão . Por um lado se animava com as notícias de Lorenzo e Bea. Por outro se lembrava da profecia sombria que viera no sonho de Francesca. O rapaz deu um longo gole no vinho para tentar esquecer aquela história e pousou os olhos em Letizia ao piano. Aquilo acalentou seu coração e o fez sorrir.

  - Tens uma dívida comigo, sabes?  

Logo viria aquela observação de Cesário e o rapaz o fitou. Conseguia entender o fundamento do que ele dizia...Mas temia como aquele ser nefasto iria querer cobrá-los.

- O...O que o senhor quer dizer com isso? - perguntou o jovem amedrontado.

Cesário era do tipo que sabia ler as pessoas. Havia perdido este dom ao afundar-se nas drogas e ao se deslumbrar com o mundo de dinheiro abundante que a herança dos Delatorre lhe proporcionara. Até então havia sido um pobre diabo que vivia de jogos de cartas, trapassas e estelionatos. Agora não precisava jogar. Ele distribuía as cartas. Por fim daria um tapinha amigável nos ombros do rapaz e lhe ofereceria um charuto.

- Ora, não fique tão preocupado. Apesar de tudo... Sua dívida não me deixou numa situação ruim.

Letizia ergueu os olhos do piano e sorriu. Cesário fez um sinal para que esta continuasse a tocar. Por fim ele tragaria seu charuto e seguiria na direção de sua varanda, esperando que o rapaz o seguisse.

Sob o Signo da SerpenteDonde viven las historias. Descúbrelo ahora