Confissões

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Naquele mês tudo havia corrido bem na casa dos Sforza. Rosa era obviamente grossa com Lorenzo, mas aquele comportamento da cigana era uma piada entre os dois. Sua gravidez, agora de três meses ficava mais aparente. Ela estava mais bonita do que nunca estivera. Por um lado a prisão a deixara ainda mais forte, por outro as roupas e cuidados que Beatrice lhe arranjara ela nunca tivera antes. Seus seios estavam maiores, seus cabelos mais brilhosos e ela andava perfumada e maquiada. Soledad e a filha se davam muito bem. Passavam o dia inteiro juntas. Rosa cuidava da mãe com um afeto e uma delicadeza que nem Francesca conseguia arrancar daquela mulher dura e fechada.

Lorenzo correra com o processo para conseguir para Rosa o direito de voltar ao Brasil. Certo dia chamou o embaixador brasileiro em sua casa. Era um conhecido da alta roda da sociedade. O senhor Cavalcanti era filho de italianos, nascido no Brasil e se dedicava à diplomacia entre os dois países. Lorenzo lhe ofereceu algumas doses de conhaque e lhe contou o caso de Rosa. 

Fez toda uma cena sobre o terrível engano de tratar uma moça trabalhadora como criminosa e que aquilo o ofendera ao ponto de que poderia parar de investir em algumas empresas brasileiras já que não podia confiar num pais com uma justiça tão equivocada. Chamou Rosa para que o embaixador visse aquela jovem bonita, bem vestida e perfumada, carregando um filhinho de um marido , um italiano que chorava sua ausência no Brasil.

Os dois riram e beberam juntos quando o embaixador saiu atordoado. Dentro de um mês, a justiça brasileira havia retirado a acusação contra Rosa. Agora só esperavam seu visto com documentos verdadeiros para que ela pudesse voltar, em companhia de Soledad.

Mas naquela tarde a visita seria outra. Uma vez avisado que Cesário voltara, Lorenzo mandou chamá-lo para o jantar. Cesário ficaria surpreso com o convite de Lorenzo. Imaginava que iria encontrá-lo na tecelagem,que o homem lhe daria umas frases feitas sobre honra e aquelas conversas que pareciam tão inúteis. Findaria com a parceria de negócios destes e diria para que ficasse longe de Beatrice. Um jantar soava como uma armadilha. Não hesitou em aceitar o convite. Vestiu-se com empenho, muito bem limpo e arrumado. Era alto e elegante, tudo parecia lhe servir bem.

- Que abram as cortinas, que comece o teatro. - Anunciou ao adentrar o carro.

- Senhor? - O chofer indagou, confuso. Cesário fez um sinal para seguir para a casa dos Sforza.

Chegaram pontualmente no horário do jantar. Cesário havia avisado que levaria companhia. Beatrice imaginara que poderia ser Elena, já que sabia que vivam juntos sob condições nunca muito claras. Infelizmente, frustrou-se. Cesário adentrou a casa de braços dados com Gaetana, que nunca mais tivera coragem de ir ver a irmã. Seus encontros com Beatrice sempre eram rápidos e furtivos, em cafés ou confeitarias. 

Lorenzo já o esperava na saleta, e não apenas com a esposa, mas com Rosa ao lado. A cigana usava um belo vestido carmim, tinha os cabelos negros presos num coque e os lábios muito grossos pintados de vermelho. Nem parecia a mesma operária briguenta que Cesário mandara prender. O perfume que um dia fora de Francesca a envolvia.

- Infelizmente Elena não pode vir, então trouxe a senhora Delatorre.

A loira estava lindíssima. Trajava um vestido feito em camadas de renda em tons de azul. Moldavam seu corpo de forma sensual, pouco da pele era mostrado. Lembrava uma sereia. Nas orelhas, um par de brincos que Lorenzo havia lhe dado na época em que foram amantes.

- Espero que a substituição não seja tão decepcionante assim. - Pontuou a mulher, fazendo uma mesura.

Cesário cumprimentou a todos, e então fitou Rosa. Arqueou as sobrancelhas pontudas e começou a respirar fundo, inflando de leve as narinas como se procurasse algum cheiro. Somente a espanhola reparara naquela conduta do homem. Ele sorriu de modo divertido.

Sob o Signo da SerpenteDonde viven las historias. Descúbrelo ahora