Mãe

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Soledad não havia conseguido dormir aquela noite. Ansiosa por seu encontro com Rosa. O resultado daquilo é que pela manhã ela dormia um sono profundo.Lorenzo não queria que aquela senhora encontrasse a filha num uniforme de prisioneira e suja. Tão logo entraram no salão da mansão, ele olhou para Beatrice e enunciou:

- Bea...Antes de mostrar a Rosa nossa surpresa para ela...Deixe-a tomar um banho quente e lhe arrume roupas bonitas.

- Surpresa?! - a cigana desmontou sua expressão de furia anterior e sorriu, como uma criança.

- Sim Rosa. Mas primeiro faça o que estou dizendo. Juro que lhe mostro antes de comermos.

Beatrice não era do tipo que discutia ou brigava, mas evidentemente não havia gostado dos modos de Rosa para com seu esposo no porto.No entanto, diante das palavras de Lorenzo, fez um sinal positivo com a cabeça. Estava séria.

- Venha, Rosa.

Guiou-a até o andar de cima, onde a levou para um quarto de hóspedes. No caminho, passaram pelo antigo aposento de Francesca, que agora possuía uma placa com motivos infantis, escrito "Giovanni". Quantas vezes Rosa haveria arrumado aquele aposento onde dormiria naquela noite? A mulher devia admitir que tudo no casarão havia mudado. Não parecia a mesma casa. Havia luxo e bom gosto mas a ostentação dos Sforza havia sido atenuada. Tudo era muito mais claro e prático. 

- Bem, pedi para que deixassem uma banheira cheia de água, sabonete e tudo que precisar.

Mostrou também que havia roupas novas para a mulher. Tivera a delicadeza de escolher roupas que imaginava condizerem com os gosto de Rosa. De certo seriam as vestes mais caras e bem feitas que a cigana vestiria em sua vida. Na penteadeira poderia se reconhecer o perfume de Francesca e suas maquiagens. Beatrice havia guardado tudo e agora tentava acalentar a saudades da espanhola com aqueles detalhes íntimos.

- Até mais tarde.

Quando preparou-se para partir, finalmente parou e engoliu seco. Voltou-se para Rosa e a fitou com seriedade. Os modos animados e gentis haviam sumido daquela mulher sempre tão polida e determinada em fazer todos felizes. Era possível ver um brilho triste nos olhos da moça.

- Espero que trate meu marido ao menos com respeito. Não pode querer culpar alguém pelos erros dos outros e você sabe muito bem do que estou falando. 

Talvez falasse de Cesário. Talvez falasse do pai de Lorenzo. Talvez falasse do demônio que assumiu o corpo do homem por tanto tempo. A verdade é que Beatrice agia como uma leoa para defender aqueles a quem amava. 

- Me desculpe.

Beatrice poderia ouvir Rosa dizer antes de sair do quarto. Ela sabia que Rosa não era do tipo que voltava atrás ou se desculpava. Aquela última frase, tão curta, significava muita coisa.

Partiu sem dizer mais nada. Estava magoada. Havia imaginado tudo tão diferente na sua cabeça. Passou pelo seu quarto e ficou tentada em tomar uma boa dose de conhaque. Por fim lembrou seu estado e respirou fundo. Desceu as escadas com calma e seguiu para o aposento de Soledad, onde esperava que esta já estivesse pronta.

Rosa ficara sozinha, pensativa. Havia visto qual dos quartos ficara para Giovanni, a criança que Francesca acreditava ser a morada daquela criatura.  Por que logo o quarto dela? Queriam mesmo apagar sua memória daquela casa. Suspirou e antes de se banhar, tocou nas coisas de sua amada. Sentiu um aperto no peito. Jamais pensara em usar aquelas coisas. Mas pelo menos o seu perfume...Sentir outra vez o cheiro dela em sua pele lhe provocava uma sensação indescritível. Queriam apagá-la, mas para Rosa tudo naquela casa lembrava Francesca. Lembrava-se da jovem calada e pensativa, chorando pelos cantos. De seus momentos de felicidade com os músicos e poetas no salão. Do banho que lhe dera em seu quarto...

Sob o Signo da SerpenteDonde viven las historias. Descúbrelo ahora