Beatrice segurava as mãos roliças de Giovanni, enquanto o ajudava a dar seus primeiros passos. Riu e as palmas da babá soaram. Ele tinha uma expressão séria na face, como se estivesse realmente determinado em fazer aquele percurso. Era gracioso apesar de sua expressão turrona. O primogênito do casal Sforza pouco brincava como uma criança comum, era sério, e talvez soturno em sua palidez e em seus olhos negros, estáticos.
- Venha, venha filho!
A mãe sorriu e ficou feliz em ver que ele forçava suas perninhas e por fim conseguiria caminhar. Voltou a face para trás e fitou Lorenzo, feliz. Era uma pequena vitória do filho deles, aquele bebê tão amado. Sua gravidez do segundo filho já estava um tanto quanto avançada. Tinha engordado e estava sempre com as faces róseas. Mais bonita do que nunca. Trajava um vestido amarelo bebê, que contrastava com seus cabelos soltos e castanhos.
Lorenzo quase pulou de alegria ao ver o pequeno Giovanni andar. Aquele traço sério , concentrado e gracioso era algo típico de sua família, que ja se expressava com tamanha força em um menino tão pequeno. O pai gostava de discursar sobre como aquele seria o homem da família, um grande Sforza. Quanto mais o menino crescia e ganhava consciência, mais o pai o cobria de mimos. Lorenzo mandara separar um quarto imenso na casa apenas para guardar os brinquedos de Giovanni que já não cabiam mais em seu gigantesco quarto, que um dia fora de Francesca. Suas roupas eram feitas pelos melhores costureiros, e seu aniversário de um ano se aproximava, uma festa monumental estava planejada.
- Senhora? Ligação para ti. É da tecelagem. - A governanta surgiu.
A mulher fez um sinal positivo com a cabeça e seguiu na direção do telefone, não sem antes deixar o pequeno Giovanni apoiado no sofá e próximo de seus brinquedos. Atendeu o telefone sorrindo, estava muito feliz com os primeiros passos de seu primogênito.
- Pois não?
- Bea, sou eu, Cesário. Não pense que minto por medo de seu marido, mas não quero causar problemas. - Seu tom de voz era firme e ao mesmo tempo zangado. - Elena partiu para o Brasil, acredito que esteja se envolvendo com alguém por lá, a julgar pelo telegrama que recebi de um de meus homens, temo que seja com o maldito Sforza. Vai acabar com o casamento de Letízia e afundar ainda mais o nosso nome na lama.
- Cesário! Mas ela não é casada contig...
- Estou avisando. Vai haver uma tragédia.
Desligou o telefone bruscamente. Beatrice engoliu em seco e respirou fundo. Elena traindo Cesário com o marido de sua irmã. Parecia tão imprudente, tão errado. Já havia se surpreendido com o fato de que a filha dela era de seu cunhado, agora aquilo. Seguiu para o próprio quarto e se deitou, fitando o teto. Não sabia o que fazer. Pela ira de Cesário ele seria capaz de matar alguém. Crime de honra, sem punição legal.
- Não sei que tipo de problema na tecelagem poderia te-la deixado com essa cara. Houve uma revolução lá ou existe algo que você não queira me dizer?
Lorenzo sorriu, não era um tom inquisitório, mas a expressão da esposa o preocupou. Ele envolveu Beatrice num abraço, deitando a seu lado, e acariciou seu ventre, trazendo-a para perto de si.
Beatrice suspirou e se aninhou nos braços do marido, pensativa. Não estava desesperada, só não sabia o que pensar ou fazer. Também evitava falar dos problemas de sua família para o homem, era como se trouxesse mais um peso para alguém que tinha tantos problemas. No fim foi sincera, como sempre. Naquele momento fazia uma careta. Estava por demais desgostosa com toda aquela história. Os encontros furtivos da irmã, o rapaz fugindo com Letizia e aquela gravidez de uma moça solteira. Além do mais, devia favores para Cesário, que não tardaria em cobrar todos da ruiva.
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Sob o Signo da Serpente
Mistério / SuspenseUm segredo de família guardado a sete chaves, em um teto onde alguém pode não ser o que parece. A história de um clã que carrega uma sina maldita. Em meio a luta pela sobrevivência e o amor encontrado entre as frias paredes da mansão de Veneza, uma...