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No dia seguinte, Cesário despertou e já encontrou Elena tomando seu café da manhã bem cedo. Ao seu lado, Penélope era alimentada com uma papinha e mais se sujava do que comia. Ao vê-lo sorriu e abriu os braços. Era visível que a menina sentia verdadeiro afeto pelo Delatorre. Talvez fosse a única.

- Como vai a ressaca?

- Grm...

Cesário não respondeu e achou irritante o bom humor daquela mulher. Ela o tratava como se nada tivesse acontecido na noite anterior. Sorria para a filha e a deixava fazer bagunça. Não se importava com aquilo.

- Tomei uma decisão ontem. 

Cesário tomou um longo gole de chá e não a olhou. Estava mal humorado e taciturno. Elena continuou, como se ignorasse os modos do primo. 

- Irei para o Brasil. Amanhã.

- O quê?! 

- É isso mesmo que ouviu. Irá partir um navio amanhã e como sobrou uma das cabines de luxo, resolvi ir. Vou com Penélope e Alfreda. - A velha criada ouviria aquilo com surpresa, mas nada disse. A ideia certamente a agradava, nunca havia viajado na vida, nunca havia pensado em tal luxo.

- Posso saber o que a madame vai fazer lá...? - Indagou Cesário, sério.

- Vou levar Penélope para conhecer o pai. Também quero ver Letízia. - Respondeu como se soubesse que seria indagada sobre aquilo. 

Cesário ergueu-se da mesa, sem comer mais nada. Quando finalmente adentrou o seu carro, ouviu as palavras de Elena, que parou na porta do casarão. Seus olhos brilhavam, parecia divertida.

- Ei. Nesse exato momento todos os Sforza devem estar te odiando. Cuidado. O único Sforza que gostava de você deve estar no inferno.

Deu de ombros. Elena estava certa, apesar de suas palavras terem sido ditas em tom de brincadeira. Cesário seguiu para o cabaret, que naquela hora da manhã estava sendo limpo. Adentrou o escritório e ligou para seu secretário. Conhecia bem o moralismo de Lorenzo e o coração meloso de Beatrice. Naquele momento aquela cigana idiota já havia dito tudo que acontecera no Brasil. 

*****

A família almoçava quando o secretário de Lorenzo entrou, pedindo licença e se desculpando por interromper aquele momento de paz.

- Senhor Sforza. Procurei pelo Senhor Delatorre, mas ao que parece ele deixou Veneza hoje. Parece que voltará logo mas não consegui fazer contato.

Lorenzo balançou a cabeça e riu, tomando um gole de vinho e zombando.

- Olha só. Isso tudo é medo de mim. Vou muito bem na sociedade ao que parece.

- Covarde. Queria ver a cara dele e se possível socá-la. - praguejou Rosa.

- Acho que o medo não era bem de mim - Lorenzo riu - Estou rindo agora, mas quando eu vê-lo não vai ser bem assim. A sorte deste homem é ser primo de minha amada Bea ou ele iria saber o que é irritar um Sforza.

- Deus proteja esse homem de aparecer na minha frente.

O assunto Cesário logo seria encerrado. Era por volta de duas da tarde quando o médico chegou para examinar Beatrice. E logo foi orientado a examinar também Rosa. A cigana pediu pela companhia de Beatrice. Não confiava em nenhum homem, nem em um médico para ficar sozinha com ele e permitir que a tocasse.

- O que a senhorita sentiu ontem a noite?

- Eu desmaiei, mas olha...Fazia quinze anos que eu não via a minha mãe. Só fiquei emocionada. Lorenzo inventou de dizer que eu estou doente só porque viajei de navio. O senhor pode ir para sua casa que estou muito bem.

Sob o Signo da SerpenteDonde viven las historias. Descúbrelo ahora