Capítulo 4

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Yasmim

Há dois anos, depois de muita insistência, meu pai permitiu que eu aprendesse a dirigir. Ele pediu para eu esperar em uma hora na garagem da mansão. Assim eu fiz, no entanto, ao invés dele aparecer e fazer o que qualquer pai faria, ele simplesmente mandou o Michael. Na hora fiquei com tanta raiva que comecei a fazer curvas fechadas, afinal eu já sabia dirigir um pouco, meu namorado na época havia me ensinado.

Sei que o pobre Michael não tinha culpa, aliás, muitas vezes ele foi mais pai que o seu Paul, mas minha intenção era fazer a notícia da minha falta de diciplina no volante chegar à papai. Engano o meu, eu apenas fiz o pobre mordomo se contorcer ao meu lado, exatamente como eu estou fazendo agora.

- Taylor não estamos no Hally, sou muito jovem para morrer, ainda nem tive minhas primeiras experiências - falei e ele gargalhou.

- Você não é pura nem aqui nem na casa do...- ele não terminou.

- Sabia que eu quase fui freira? - falei passando entre os bancos para frente e ele me segurou para não bater a testa no vidro.

- Senhora de Deus ponha seu cinto - Taylor pediu sorrindo.

- Não, prefiro morrer à amorratar minha roupa. Não sei nem para onde estou indo.

- Acredite, vão reparar na sua roupa, mas não por ela estar amarrotada. Alguém ja te disse que você se veste estranhamente? - ele comentou rapidamente.

- E você acha que eu me importo? O que as pessoas mais fazem é falar mal de mim. Falam do quanto eu sou mimada, mas não sabem o que é crescer sem mãe e com um pai que não tem tempo nem para perguntar se eu to bem. Dizem que não valorizo o que tenho, o que eu tenho? Dinheiro? Não faço questão dele, acho que viveria bem com um pai garçom e presente do que com um ricaço ausente.

Falei calmamente, mas Taylor me encarou e eu fiz o mesmo.

- Não precisa ficar com pena de mim, fique com pena se sua falta de atenção me matar. Olha pra frente - falei e ele não esboçou reação. Que homem estranho!

Chegamos em frente à um prédio alto e totalmente espelhado, Taylor passou direto para o estacionamento, sem parar para dar informações aos seguranças.

- Eles deixam qualquer um entrar? - Questionei.

- Você acha que eu sou qualquer um? - Esnobe? Claro que sim - Isso aqui é FBI, e antes de chegarmos na entrada do prédio, fomos investigados, revistados e autorizados.

- FBI? Isso só pode ser brincadeira!- falei supresa.

-Yasmim, escute, só te trouxe até aqui porque a partir do momento que me convocam a participar de uma investigação minha vida é estudada não só pelo FBI como também por pessoas de alta periculosidade. Agora você faz parte da minha vida, digo, você está sob minha responsabilidade, preciso primeiro ver se é seguro.

- Isso é assustador.

- Isso porque você ainda não viu a Alice quando souber que eu voltei a ativa.

- Ela tem razão, isso é perigoso.

Descemos do carro, entramos no elevador, e Taylor apertou no 17 andar. Meu coração estava acelerado, e ele me observava atentamente.

- Perdeu algo em mim?

- Chega a ser engraçado ver você com medo, sempre tão mandona, respondona e confiante.

- Não estou com medo, senhor agente, apenas preocupada com a minha segurança.

- Te garanto que sair de madrugada para uma boate cheia de idiotas é muito mais perigoso do que estar dentro da agência, ainda mais acompanhada de um agente altamente treinado.

- Tão treinado que eu consegui te enganar - gargalhei e ele apenas revirou os olhos.

O elevador abriu e um homem alto, branco, de olhos amarelados estava parado nos aguardando.

- Quanto tempo, Taylor - o rapaz falou, e me olhou - Quem é ela? Você já achou uma substituta para Alice? Ela não pode ficar aqui, você sabe.

Eu ia retrucar, mas o general segurou minha mão e apertou.

- Não Harry, se ela não puder ficar eu certamente não ficarei também. Aliás, esta é Yasmim, uma amiga, e não, ela não é substituta da Alice, caso você não saiba o que significa, eu vou exemplificar. As pessoas geralmente são substituídas quando não possuem competência de fazer seu trabalho, como é seu caso, para isso estou aqui, para substitui-lo.

Pensei em cantar "turn down for what?", mas o clima ficou tenso. Harry deu dois passos a frente e Taylor deu três, tentei puxa-lo mas ele não saiu do lugar. Em seguida eles se abraçaram fortemente como velhos amigos, pelo visto é exatamente isso.

- Desculpe Yasmim, você deve ter ficado assustada com a nossa brincadeira, meu nome é Harry, prazer - ele me cumprimentou e seguimos pelo corredor.

Chegamos à uma sala imensa cheia de pessoas em computadores, subimos uma escada de vidro até uma porta de vidraçaria preta. Uma loira de saia até o joelho e blusa social estava saindo, deu bom dia e seguiu.

- Nem pense nisso garanhão, esta é Vivian, filha do Johnny. Olhar para ela é assinar seu atestado de óbito - disse Harry.

- E não olhar é assinar um atestado de idiota - retrucou Tay.

- Esse você já têm!- falei passando entre eles para finalmente abrir a porta, não aguentava mais tanta merda vinda da boca do senhor general.

Era uma sala escura, com uma visão privilegiada das pessoas trabalhando. Havia um senhor sentado em uma poltrona lendo alguns papéis.

- Até que enfim as donzelas resolveram parar de se agarrar, e finalmente apareceram.

- Desculpe chefe - Harry deu uma olhada para mim e em seguida voltou para o homem grisalho - Yasmim vai ter que ficar, pois...- o senhor não deixou ele terminar de falar.

- Desculpe a minha falta de educação, prazer, sou Johnny. A senhorita pode sentar ali - ele apontou ata um sofá - Tem biscoitos e capuccino.

- Prazer, Yasmim. Obrigada, senhor - respondi e sentei para não atrapalhar.

- Cadê meu abraço Johnny? - falou Taylor que até então observava as imagens de cadáver espalhadas no local.

- Eu te abraçar? Não sei por onde você passou- Johnny retrucou mas mesmo assim abraçou Taylor.

- Vejo que vocês estão desesperados por ajuda, até deixaram uma leiga participar de uma reunião fechada.

- De fato precisamos, e eu sei da responsabilidade que você têm em mantê-la em segurança.

- Em resumo você pesquisou toda a vida dela e sabe que ela não é ameaça.

- Taylor, Taylor agora lembrei porque você largou a vida de agente. Odeia hierarquia, odeia ser mandado. Isso quando tinha apenas 16 anos, imagina agora.

- De fato odeio, mas vamos ao trabalho. Vejo que as vítimas - ele apontou para as fotos espalhadas pela sala - São de fato de um único assassino. Ainda arrisco mencionar que este é adepto da arte pós expansionista, mais específico Van Gogh.

- É, disso nós sabemos. Ele deixou claro ao cortar a orelha delas.

- Não, Johnny, eu não disse que ele é um grande admirador. Eu disse que ele é adepto. Observe o desnível de assassinato, um cadáver expressa tranquilidade, calmaria, o outro desespero e medo. Isso caracteriza as obras paradoxais de Vicent Van Gogh, que sofria de transtorno de bipolaridade. Não estamos lidando com um mero assassino, estamos lidando com um possível intelectual transtornado.

- Liga para os legistas, Harry. Fico feliz de saber que sua inteligência, sobrepõe o egocentrismo, só assim consigo me acostumar com a ideia de trabalhar com você - disse Johnny e Taylor sorriu sentado - se onde o senhor estava quando chegamos

- Por favor começa a me falar tudo que vocês sabem.

Uma mistura de surpresa e curiosidade invadiu minha mente. Surpresa por saber que eu consegui enganar um agente, e curiosidade para saber onde isso vai acabar. O general querendo ou não, eu vou participar disso.

Paixão Quase PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora