Capítulo 32 (parte 2)

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Yasmim

Não saber o que fazer nem sempre significa de fato a falta de noção de atitude, as vezes é apenas medo de errar. Passar a vida com medo não me parece vivê-la, tampouco resultará em felicidade, porque as coisas não são como planejamos antes de dormir. Não foram. Nunca serão.

Ao ler de forma precipitada alguns estudos de Freud logo no primeiro semestre, haja vista que as matérias introdutórias eram entediantes, eu percebia por vezes algo relacionado com mundo interno e mundo externo baseado na redenção humana. Claro que não consegui entender de primeira, mas o interessante é que quanto mais dúvidas eu tinha, mais eu queria continuar me aprofundando. Eu poderia não ter noção de como aquelas palavras viriam a se aplicar em um contexto complexo da psicologia, mas eu não queria largar os livros. A questão é que nem sempre as coisas precisam fazer sentido de forma geral, basta fazer sentido para mim.

Viajar para Paris talvez tenha sido a premissa para as dores de cabeça de Tay, do Michael e das pessoas que se importam comigo, no entanto, para mim nunca fez tanto sentindo. Não é questão de querer fugir dos problemas, mas de passar a ter uma visão panorâmica deles.

Chamar a atenção alheia não é mais minha prioridade, como era há alguns meses, eu nem me importo mais com o que vão pensar. Quero passar desapercebida por todos, e perceber em todos o que preciso para mim, ou o que nem de longe preciso na minha vida. Meu objetivo não é mais ser aceita pelos outros, quero me aceitar.

São esses meus motivos, por isso decidi partir, lá não é meu lugar agora, estou muito turbulenta para ser o esteio de alguém. Ao ler aquela carta de Taylor, um mistura de sensações tomou conta de mim. Tenho certeza que o amo, porém não tenho certeza se estou preparada para me arriscar. Peguei tantas quedas esses tempos, que preciso levantar sozinha, sem me apoiar em ninguém, além de ter que deixar algumas feridas cicatrizarem. A decepção não é embasada no como machucam, e sim quem machuca. Estou muito vulnerável.

A vida por aqui está indo bem, estou em um hotel por enquanto. Consegui um emprego em uma Galeria de artes modernas, sou responsável pela organização, no entanto, tenho direito de mostrar de duas em duas semanas alguma tela para o dono do estabelecimento. Duas obras já foram aceitas.

Falo de dois em dois dias com Bryan, que voltou para casa recentemente e sua ex namorada resolveu fazer a gentileza de se mudar com a filha para casa dele, e ajuda-lo até que ele fique bom. Depois disso, ele vai ser preso, espero que não por muito tempo, afinal, apesar do mal que ele fez, ele nunca esteve na linha de frente dos assassinatos. Diferentemente do irmão, que ainda que não sabemos a decisão do juiz, haja vista que o julgamento ainda não ocorreu, duvido muito que ele fique livre.

Laura está em uma clínica psiquiátrica com alta supervisão. Taylor me contou que foi visitar por curiosidade, e mesmo olhando apenas da janelinha da porta de seu quarto, ela parece menos perturbada. Sinceramente, acho difícil uma melhora alarmante, porém prefiro pensar que ela vai ficar boa. E em algum dia, durante um estado de lucidez eu vou poder abraça-la. Só que no momento quero a maior distância possível daquela mulher.

Quanto ao papai... Não mantive nenhum tipo de contato! Ainda guardo uma magoa que apenas o tempo ajudará a minimizar...

Finalmente o celular alertou a video chamada que estou aguardando faz quinze minutos.

- Você demorou muito, minha comida esfriou- falei e percebi algumas pessoas me olhando, já que eu estava em um restaurante falando com um celular.

Havia combinado de almoçar com o Tay virtualmente hoje, porém, como quase sempre, ele se atrasou.

- Para a sua informação eu saí correndo do escritório. Parece que todo mundo resolveu matar um ente querido para ficar com a herança- ele disse.

Paixão Quase PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora