Capítulo 26

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Taylor

Inacreditável. Apesar de haver chance dessa mulher não fazer ideia do que está falando, talvez tenha falado a verdade quando disse que não tem filhos. Durante anos fiz análises psicológicas levando em conta a aparência, a expressão, os gestos, respiração para identificação de suspeitos. Nada deixou evidente que essa senhora está mentindo.

- Tudo bem, desculpe o incômodo - Yasmim respondeu após a mulher deixar claro que não conhece Bryan.

Seguimos rapidamente de volta ao carro, sem olhar para os lados e sequer suspirar um pouco mais alto. Entramos ofegantes e relativamente desacreditados.

- E agora?- ela questionou jogando a cabeça para trás.

- Você conhece mais alguém que tenha informação sobre o passado do seu ex - falei um pouco baixo a última parte.

- Vai pergunta! - ela gargalhou virando de frente para mim.

Sem retirar os olhos da estrada consegui perceber um certo sorriso de deboche, o que me fez retribuir.

- O que você quer que eu pergunte?

- O que você quer perguntar. Algo do tipo: Yasmim, você ficou com seu provável primo?

- Yasmim, você ficou com seu provável primo? - repeti sua sugestão de pergunta.

- Nenhuma vez. Ele era como se fosse meu melhor amigo, dormimos na mesma cama e nem sequer um toque. Uma pena, aquele corpo era maravilhoso - Yasmim falou so para provocar.

- Interessante, mas agora que já descobrimos esse desperdício de oportunidade, para onde vamos? Tem alguma sugestão?

- Na verdade tenho. Acho que a ex esposa dele está em algum hotel próximo da casa do Bryan, a garotinha tem medo de avião, então precisa de autorização médica para usar sedativo. Isso demora, então provavelmente não viajou ainda.

- Nossa, que mulher inteligente.

- Eu sou. Mas você seria mais se me desse o carro e dormisse um pouco.

- Nem pensar, você reprovou em todas as provas para tirar a carteira.

- Foram só duas tentativas.

- Não minta para mim, foram cinco. O computador central do FBI não mente.

- Bom, quem sabe atirar? Você. Quem tem chance de salvar minha vida? Você. Quem é o adulto treinado? Você. Entretanto, você não vai ser você se o cansaço te dominar.

- Argumentação coerente, sou incrível - falei e ela revirou os olhos.

Yasmim levantou, sentou no meu colo, tirando graça na comparação do meu amigo com a marcha do carro. Ela ligou o rádio para não cochilar, e em minutos eu apaguei.

Acordei com ela fazendo pedidos em um Drive Thur, já era quase 8 horas da manhã. E ainda estávamos relativamente longe da casa de Bryan.

- Até que você não dirige tão mal.

- Até que você não ronca tanto.

Pegamos os sanduíches e refrigerantes, trocamos de lugar e foram mais meia hora para chegar no primeiro hotel próximo da casa do garoto.

- Gostaria de conversar com a hóspede Mary West - Yasmim falou com uma voz doce, nem parecia ela.

Pelo menos o tempo que ela passou com o suposto assassino foi útil, estranho, no mínimo.  Entretanto, ele falou sobre sua vida pessoal , contou sobre a ex mulher e a filha... psicólogos, ou futuros psicólogos, que seja, possuem o dom de arrancar informação de maneira imperceptível. Acho impressionante a forma como eles conseguem deixar o paciente relaxado a ponto de expor sua vida. Essa é uma hipótese, a outra é que ele achava essas informações irrelevantes, afinal, é típico de psicopatas a  indiferença.

- Não há nenhuma hospede com esse nome - a recepcionista respondeu

- Desculpe, devo ter confundido o hotel, tem outro aqui por perto?

- Sim, no final da rua depois da academia de luta.

Fomos mais que de pressa. E não é que Yasmim tinha razão, nem precisamos pedir informação, ela logo identificou a garotinha tomando café.

- Com licença, meu nome é Yasmim, esse aqui é meu amigo. Se você puder ajudar, salvará a vida de duas pessoas inocentes.

A mulher era jovem, talvez uns quatro anos mais velha que Yasmim. Loira, com cabelo cacheado, idênticos aos da garotinha que logo correu para os braços de Yasmim.

- Você conhece essa moça de onde? - a mulher perguntou à garotinha.

- Ela é minha amiga, sempre me ensinava a desenhar e pintar quando passou um tempo morando lá em casa.

- Então você é namorada do Bryan?

- Não, ela é amiga dele - respondi - E ela corre risco de vida, e tudo que você falar aqui pode mudar o rumo da nossa situação.

- Vocês são da Polícia? - questionou e eu puxei o distintivo do FBI

- Não quero atrapalhar a viagem de vocês duas. Basta me tirar alguma dúvidas e pode ir.

- Tudo bem. É sobre Bryan não é?

- Sim. Fale sobre a família dele, o que ele te contou sobre o orfanato? - perguntei.

- Orfanato? Ele nunca me falou de orfanato, até porque a maluca da mãe dele é viva. Foi ela o motivo da nossa separação.

- Não foi por causa dos seus estudos?- Yasmim questionou

- Também. Na verdade decidi não abrir mão de estudar justamente pela minha situação com o Bryan e a mãe dele. Aquela mulher sempre se metendo na nossa relação, uma pessoa completamente desequilibrada. Antes de eu partir, fiz ele me garantir que não ia criar nossa filha com a mãe dele na mesma casa, então ele a internou no asilo.

- Meu Deus! Eu fui ao asilo com ele, mas em nenhum momento falou sobre sua mãe.

- Sim, funciona assim, ele sabe da vida de todo mundo, mas ninguém pode saber da dele.

- Quando eu ia visita-lo na biblioteca, esperando ele terminar o expediente...- Yasmim tentou mas a moça interrompeu.

- Biblioteca? Ele é um agente do FBI, o que fazia na biblioteca?

Yasmim arregalou o olho, colocou a mão no peito e me olhou incrédula. Eu já tinha essa suspeita, obviamente ele mudou todos os dados ao seu respeito, mas conseguiu mexer em tudo a respeito do caso.

- Você acha que a mãe dela sabe para onde ele foi?- perguntei

- Com certeza, ela sabe de absolutamente tudo da vida dele. Acho que não cortaram o cordão umbilical.

Saímos em desparada para o tal asilo, a partir de meia noite Yasmim correrá 10 vezes mais perigo. Será o dia exato de sua morte programada por aquele psicopata, mas qual o motivo? Por que matar pessoas inocentes que tem o dom da pintura? Óbvio que ele tinha acesso a tudo desses artistas, daí o crime perfeito, obviamente não tão perfeito, não é mesmo?

O asilo estava fechado para visitas, talvez pelo horário de almoço, mas ainda assim entramos pelos fundos. Começam os a ir de quarto em quarto procurando pela mãe de Bryan, até que cheguei no último do segundo corredor, enquanto Yasmim estava no primeiro. Era um senhor, então voltei para procurar junto com a maluquinha. No entanto, nem sinal dela, em um dos quartos a porta estava escancarada, entrei correndo, não havia mais ninguém , apenas o relógio de Yasmim todo rachado no chão, parecia ter sido pisoteado. Bem ao lado um cartão de felicitações com a seguinte frase:

"Quem procura acha, acha um passado perdido, acha um amigo doente, acha parentes perdidos, acha a morte. YASMIM JÁ ACHOU, SÓ FALTA VOCÊ!"

Filho da puta!

Paixão Quase PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora