Taylor
Inacreditável. Apesar de haver chance dessa mulher não fazer ideia do que está falando, talvez tenha falado a verdade quando disse que não tem filhos. Durante anos fiz análises psicológicas levando em conta a aparência, a expressão, os gestos, respiração para identificação de suspeitos. Nada deixou evidente que essa senhora está mentindo.
- Tudo bem, desculpe o incômodo - Yasmim respondeu após a mulher deixar claro que não conhece Bryan.
Seguimos rapidamente de volta ao carro, sem olhar para os lados e sequer suspirar um pouco mais alto. Entramos ofegantes e relativamente desacreditados.
- E agora?- ela questionou jogando a cabeça para trás.
- Você conhece mais alguém que tenha informação sobre o passado do seu ex - falei um pouco baixo a última parte.
- Vai pergunta! - ela gargalhou virando de frente para mim.
Sem retirar os olhos da estrada consegui perceber um certo sorriso de deboche, o que me fez retribuir.
- O que você quer que eu pergunte?
- O que você quer perguntar. Algo do tipo: Yasmim, você ficou com seu provável primo?
- Yasmim, você ficou com seu provável primo? - repeti sua sugestão de pergunta.
- Nenhuma vez. Ele era como se fosse meu melhor amigo, dormimos na mesma cama e nem sequer um toque. Uma pena, aquele corpo era maravilhoso - Yasmim falou so para provocar.
- Interessante, mas agora que já descobrimos esse desperdício de oportunidade, para onde vamos? Tem alguma sugestão?
- Na verdade tenho. Acho que a ex esposa dele está em algum hotel próximo da casa do Bryan, a garotinha tem medo de avião, então precisa de autorização médica para usar sedativo. Isso demora, então provavelmente não viajou ainda.
- Nossa, que mulher inteligente.
- Eu sou. Mas você seria mais se me desse o carro e dormisse um pouco.
- Nem pensar, você reprovou em todas as provas para tirar a carteira.
- Foram só duas tentativas.
- Não minta para mim, foram cinco. O computador central do FBI não mente.
- Bom, quem sabe atirar? Você. Quem tem chance de salvar minha vida? Você. Quem é o adulto treinado? Você. Entretanto, você não vai ser você se o cansaço te dominar.
- Argumentação coerente, sou incrível - falei e ela revirou os olhos.
Yasmim levantou, sentou no meu colo, tirando graça na comparação do meu amigo com a marcha do carro. Ela ligou o rádio para não cochilar, e em minutos eu apaguei.
Acordei com ela fazendo pedidos em um Drive Thur, já era quase 8 horas da manhã. E ainda estávamos relativamente longe da casa de Bryan.
- Até que você não dirige tão mal.
- Até que você não ronca tanto.
Pegamos os sanduíches e refrigerantes, trocamos de lugar e foram mais meia hora para chegar no primeiro hotel próximo da casa do garoto.
- Gostaria de conversar com a hóspede Mary West - Yasmim falou com uma voz doce, nem parecia ela.
Pelo menos o tempo que ela passou com o suposto assassino foi útil, estranho, no mínimo. Entretanto, ele falou sobre sua vida pessoal , contou sobre a ex mulher e a filha... psicólogos, ou futuros psicólogos, que seja, possuem o dom de arrancar informação de maneira imperceptível. Acho impressionante a forma como eles conseguem deixar o paciente relaxado a ponto de expor sua vida. Essa é uma hipótese, a outra é que ele achava essas informações irrelevantes, afinal, é típico de psicopatas a indiferença.- Não há nenhuma hospede com esse nome - a recepcionista respondeu
- Desculpe, devo ter confundido o hotel, tem outro aqui por perto?
- Sim, no final da rua depois da academia de luta.
Fomos mais que de pressa. E não é que Yasmim tinha razão, nem precisamos pedir informação, ela logo identificou a garotinha tomando café.
- Com licença, meu nome é Yasmim, esse aqui é meu amigo. Se você puder ajudar, salvará a vida de duas pessoas inocentes.
A mulher era jovem, talvez uns quatro anos mais velha que Yasmim. Loira, com cabelo cacheado, idênticos aos da garotinha que logo correu para os braços de Yasmim.
- Você conhece essa moça de onde? - a mulher perguntou à garotinha.
- Ela é minha amiga, sempre me ensinava a desenhar e pintar quando passou um tempo morando lá em casa.
- Então você é namorada do Bryan?
- Não, ela é amiga dele - respondi - E ela corre risco de vida, e tudo que você falar aqui pode mudar o rumo da nossa situação.
- Vocês são da Polícia? - questionou e eu puxei o distintivo do FBI
- Não quero atrapalhar a viagem de vocês duas. Basta me tirar alguma dúvidas e pode ir.
- Tudo bem. É sobre Bryan não é?
- Sim. Fale sobre a família dele, o que ele te contou sobre o orfanato? - perguntei.
- Orfanato? Ele nunca me falou de orfanato, até porque a maluca da mãe dele é viva. Foi ela o motivo da nossa separação.
- Não foi por causa dos seus estudos?- Yasmim questionou
- Também. Na verdade decidi não abrir mão de estudar justamente pela minha situação com o Bryan e a mãe dele. Aquela mulher sempre se metendo na nossa relação, uma pessoa completamente desequilibrada. Antes de eu partir, fiz ele me garantir que não ia criar nossa filha com a mãe dele na mesma casa, então ele a internou no asilo.
- Meu Deus! Eu fui ao asilo com ele, mas em nenhum momento falou sobre sua mãe.
- Sim, funciona assim, ele sabe da vida de todo mundo, mas ninguém pode saber da dele.
- Quando eu ia visita-lo na biblioteca, esperando ele terminar o expediente...- Yasmim tentou mas a moça interrompeu.
- Biblioteca? Ele é um agente do FBI, o que fazia na biblioteca?
Yasmim arregalou o olho, colocou a mão no peito e me olhou incrédula. Eu já tinha essa suspeita, obviamente ele mudou todos os dados ao seu respeito, mas conseguiu mexer em tudo a respeito do caso.
- Você acha que a mãe dela sabe para onde ele foi?- perguntei
- Com certeza, ela sabe de absolutamente tudo da vida dele. Acho que não cortaram o cordão umbilical.
Saímos em desparada para o tal asilo, a partir de meia noite Yasmim correrá 10 vezes mais perigo. Será o dia exato de sua morte programada por aquele psicopata, mas qual o motivo? Por que matar pessoas inocentes que tem o dom da pintura? Óbvio que ele tinha acesso a tudo desses artistas, daí o crime perfeito, obviamente não tão perfeito, não é mesmo?
O asilo estava fechado para visitas, talvez pelo horário de almoço, mas ainda assim entramos pelos fundos. Começam os a ir de quarto em quarto procurando pela mãe de Bryan, até que cheguei no último do segundo corredor, enquanto Yasmim estava no primeiro. Era um senhor, então voltei para procurar junto com a maluquinha. No entanto, nem sinal dela, em um dos quartos a porta estava escancarada, entrei correndo, não havia mais ninguém , apenas o relógio de Yasmim todo rachado no chão, parecia ter sido pisoteado. Bem ao lado um cartão de felicitações com a seguinte frase:
"Quem procura acha, acha um passado perdido, acha um amigo doente, acha parentes perdidos, acha a morte. YASMIM JÁ ACHOU, SÓ FALTA VOCÊ!"
Filho da puta!
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Paixão Quase Perfeita
RomanceDurante o casamento de sua melhor amiga, o advogado Taylor Hadfield recebe uma proposta irrecusável. Irrecusável não pelo fato de ser boa ou tentadora, mas sim por ser uma resposta de gratidão ao homem que teve um papel paterno em sua vida. Paul Sh...