Paixão Quase Perfeita

Capítulo 32 (parte1)

Taylor

A revolta de Yasmim com o pai não era em vão, quando ele tentou remediar a conversa o tom de voz autoritário da minha pequena deixou claro que ela cansou de ser feita de idiota. Parece que até o velho Paul, acostumado com sua ditadura percebeu que a filha nunca falou tão sério

- Filha, não conheci sua mãe de forma aleatória. Eu sempre fui um amante da arte, e a galeria de Van Gogh era meu lugar preferido as quintas feiras. No entanto, ao contrário do que você deve estar pensando, sua mãe não trabalhava lá como pintora, ela era acompanhante dos homens mais ricos que frequentava aquele lugar. Extremamente inteligente, e instruída, sabia tudo da arte desde os primórdios até os últimos lançamentos.

- Uma espécie de prostituta de luxo ?- ela questionou com um tom de voz que soou perplexo.

- Sim, mas meu primeiro contato com sua mãe não foi assim. Eu a encontrei em uma farmácia após a exposição. Fui à galeria, e ela não estava por lá, sei porque fazia tempo que a arte não me interessava mais, não tanto quanto aquele par de olhos azuis.

- Na farmácia? Ela já estava surtando ?- questionei e Yasmim concordou com a cabeça, aparentando ter a mesma dúvida que eu.

- Não. Era uma tuberculose. Pode parecer estranho, mas ja estava apaixonado por aquela mulher, então me dispus a cuidar dela. Levei ao médico, deixei ela passar a recuperação na minha casa, tendo tudo do bom e do melhor. Desde daí fui conhecendo a mulher incrível que era, mas foi apenas após ela me contar que a maioria daqueles quadros eram de sua autoria que eu tomei a iniciativa de conhecê-la a fundo. Ofereci um quarto da minha casa para que ela pudesse pintar, comprei tudo que era necessário. Além, é claro, de usar minha posição de advogado para reivindicar o direito autoral dela judicialmente.

- Então como foi para você perceber que ela estava doente, digo, surtando?- ela questionou

Talvez isso tenha sido demais para Yasmim, passar por tudo que passou durante a infância e adolescência, o pai reprimido seu desejo íntimo da arte, além de ser extremamente ausente, deixando para empregados o papel de pai. Agora, ela descobre que sua mãe morta, fato que ouviu durante toda a sua vida, agora está viva. Para qualquer pessoa isso seria no mínimo interessante, mas para minha pequena é só mais um fardo para carregar, haja vista que a mãe é doente e quer matá-la mais que tudo.

Segurei sua mão em forma de apoio, ela apertou, olhou nos meus olhos e sorriu. Não um sorriso de "está tudo bem"mas um sorriso de "vou ficar bem". Assim espero.

- Ela enforcou uma cozinheira com a cortina. E em seguida pintou um quadro. Quando eu cheguei em casa, ela estava jogada no chão da cozinha, com vários empregados ao redor. Laura chorava e chorava, acho que deveria ter caído em si. Alguns reivindicaram a polícia, porém eu paguei o silêncio de todos- ele parou, coçou a cabeça, aparentava vergonha do que fizera - Ela começou a surtar com mais frequência. Dizia que precisava disso para pintar, eu a prendia para que não machucasse ninguém. Resolvi levá-la ao médico, iniciar o tratamento.

- Então ela te traiu, certo? - questionou meu pai

- Sim. Ela conheceu um aproveitador e se apaixonou perdidamente, pelo menos era isso que ela dizia, mas na verdade ele so queria dinheiro. Então negociei para que ele ficasse bem longe da minha esposa. Sei que isso parece, no mínimo, doentio, porém ela era uma mulher doente, precisava de cuidados e nada que ela fizesse me faria odia-la, até hoje.

Yasmim nem pareceu se comover com o que o pai falou. Ela realmente estava revoltada por ter sido enganada.

- O cara foi para a Argentina com dinheiro o suficiente para viver bem pelo resto da vida, e eu pensei que as coisas tenderiam a voltar ao normal, mas não. Laura estava grávida, sim! Grávida! Fazia questão de ressaltar que a criança não era minha. Isso me fazia mal, porém larguei alguns empregos e me dediquei inteiramente ao tratamento de Laura, ela necessitava ficar bem para cuidar da criança, que tempos depois descobrirmos ser gêmeos.