—O teu pai contou-me que a tua prima Jessica vinha de novo para Pullock — Contou-me a minha mãe conduzindo o carro, levando-me a caminho da escola,com o seu olhar por inteiro focado na estrada.
—Definitivamente? — Perguntei com receio de ouvir a resposta.
—Não faço ideia... Vamos torcer para que seja apenas uma visita — Riu-se alto a minha mãe.
—Mãe! Não digas isso! É família — Abri a boca, gargalhei alto junto com ela.
—As irmãs do teu pai odeiam-me, tu odeias a prima Jessica — Afirmou a minha mãe — Por isso, toca aqui — Abriu a sua mão no ar, esperando que eu lhe tocasse com a minha.
Dei levemente uma pequena chapa na palma da sua mão.
—Somos parecidas em mais coisas do que aquilo que eu pensava — Concordou com um sorriso enquanto pousava a minha mão no seu ombro.
—Chega a dar um alívio às vezes — Suspirou a minha mãe — Mas tu nunca me contaste porque odeias tanto a Jessica...
—Não há nada para contar — Respondi sem paciência, não queria falar sobre ela, não costumo guardar rancor, mas com ela penso seriamente em abrir uma exceção.
—Não sei, sempre que ela fala comigo, parece ser bastante querida, mas só de saber o nome que lhe corre no sangue já é um passo a menos para a frente. Nunca devemos esperar muito por atitudes beneficiais vindas de ninguém, e muito menos da tua família. Podes estar na tua pior situação, presa em casa. Ninguém vai bater-te à porta, nem alguém do teu próprio sangue.
—Não te preocupes mãe, um dia eu bato-te à porta — Tentei dar um humor à conversa para exterminar todo o mau ambiente que se estava a instalar dentro do carro.
—Logo que não comeces a fugir de seguida — Riu-se junto comigo.
A minha mãe é e sempre foi perdidamente apaixonada pelo meu pai, e, quando eles ainda eram jovens namorados, o sonho dela era ter Patel no seu nome.
Pois apenas com o meu pai na sua vida ela iria sentir-se uma mulher amada com a sua vida completa, porém, poucos anos depois ela descobriu que as mulheres Patel não são lá muito boa gente, duras como aço e rijas como ferro, para não mencionar que são curiosas como raposas e mais falsas que uma cobra. Talvez eu e a minha mãe sejamos a exceção que vai salvar o ramo da nossa família.
As minhas tias sempre fizeram troça da minha mãe por ela ser uma trabalhador doméstica.
Enquanto elas trabalham em gabinetes pessoais, recepções e hospitais, a minha mãe abdica a sua vida em casa, limpando-a, cozinhando e relaxando.Mas lá no fundo todos sabemos que todos aqueles insultos e piadas são frutos de ataques de inveja ao ver que o irmão delas conseguiu dar a uma mulher uma vida mil vezes melhor do que aquela que elas alguma vez iram ter.
No meio disto tudo eu sou a mais sortuda, a minha mãe faz tudo por mim, sempre que eu estou no quarto a estudar ele vem conferir várias vezes ao dia se eu estou bem, e, nos dias em que ela está mais animada vem até mesmo acompanhada com pequenos lanches, daqueles que só ela sabe fazer.
Tenho o maior orgulho nela, desde a sua personalidade rica e leal até à força que ela instalou em mim, fazendo com que a cada dia que passa eu sinta mais vezes a necessidade de ser como ela.
A minha escola nem fica assim tão longe de minha casa, dava para ir a pé sem qualquer problema, mas desde que mudei de liceu a minha mãe faz questão de me levar e buscar, seja qual for a hora. Como já disse, sou sortuda.
—Pronto querida, chegamos — Sorriu para mim travando o carro mesmo em frente ao portão da escola.
—Obrigada mãe — aproximei-me dela e dei-lhe um beijo na bochecha.
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Harmful
RomanceNatalie é uma das jovens mais reservadas da escola, apenas tem como companhia a sua amiga Iza, ambas alunas de mérito. Na tentativa de fazer troça delas, o grupo "machão" da escola convida as duas para uma festa de barril no meio da floresta. Para s...