Apertei com os meus dedos a minha camisola branca, notando a diferença no tamanho entre o tecido e a minha pele da cintura. Eu sou muito magra, odeio roupas que fiquem demasiado justas, não me dedico a camadas de exercícios e dietas para gostar do meu corpo. Sou feliz desta forma e sorrio sempre que vejo o meu reflexo no espelho em frente a um poste de rua. Mas, essa não era o único motivo pelo qual eu não parava de sorrir. Simplesmente ainda não acreditava que tinha marcado uma saída com o Bryson, mesmo depois de toda aquela paranóica da distância. Nem a mim mesma conseguia enganar, podia ter que escrever mil vezes numa folha ''Manter Distância do Bryson'', logo que o visse ia começar a sorrir e a aproximar-me dele.
Nestes últimos dias tem-me surgido uma vontade enorme por enfrentar o caminho oposto da segurança, como todas aquelas personagens estúpidas dos filmes de terror.
Era uma sensação tão boa poder sair de casa sem precisar responder a um questionário de 1000 perguntas antes de abrir a porta.Neste momento o meu pai já teria batidos à porta incontáveis vezes, com uma cara confusa, perguntando:
"Onde vais a esta hora da noite?"
"Quem vai estar contigo?"
"Por acaso esta saída tem alguma ligação à escola?"
"Quanto é 98-5^2?"Ao contrário dele, a minha mãe responde-me com um sorriso, e, quando estamos a jantar ela própria pergunta:
—Porque não aproveitas para sair com os teus amigos hoje? O tempo está ótimo lá fora!
Ela é muito liberal comigo e por incrível que pareça a única condição que ela coloca-me é que leve sempre casaco nas noites mais frescas. Ao ínicio parecia estranho ter tanta liberdade. Talvez eu não devesse habituar-me este estilo de vida pois, em uma semana o meu pai estará de volta e tudo irá voltar ao dito ''Normal''.
Essa foi uma das questões que me impulsionou a convidar o Bryson para uma simples saída, o facto de que o meu tempo estava a acabar e eu precisava aproveitar ao máximo.Não consigo explicar o quanto eu amo a minha mãe, neste exato momento.
Gosto da mulher que ele esconde ser sempre que o meu pai está presente. E tenho pena de não puder estar com ela mais vezes.
A personalidade forte que eu apenas entrava em contacto de vez em quando, quando o meu pai trabalhava até mais tarde ou dava uma escapada para ir ao supermercado. Agora fico feliz porque convivo com essa mulher vinte e quatro horas por dia, e não me arrependo de todos os momentos que passo ao lado daquela mulher maravilhosa que eu tenho tanto orgulho. E não, não o falo isso dela apenas pela liberdade que ela me deu. Ela era a minha amiga de verdade. E eu amo-a com todas as minhas forças.Esta noite fizemos o jantar juntas e acho que nunca tinha rido tanto na minha vida inteira, tanto sendo devido a todas as vezes que eu confundia os alimentos e acabava sempre por fazer asneira ou quando a minha mãe falava como se fosse os alimentos e repetia os nomes deles bem alto, imitando um pokémon sem controlo.
E quanto á limpeza da cozinha? Suponho que nunca a tinha visto gastar tanto detergente propositadamente como a vi fazer hoje. Ri ás gargalhadas, até não aguentar mais e ter de levar a mão cheia de espuma à boca para sufocar os meus risos altos, enchendo a minha cara cheia de espuma. E, somente ao ouvir a minha mãe chamar-me Pai Natal enquanto ela fazia uma monocelha com a mesma espuma, fez-me ser obrigada a sentar-me no chão da cozinha para conseguir rir em paz encostada á bancada da cozinha sem conseguir sequer respirar de tanta felicidade.
A última viagem de trabalho que o meu pai teve foi à uns 6 anos, quando a sua exigência ainda era tão pouca que eu podia ficar a ver televisão até à hora de ir dormir, impedindo-me de valorizar todos os momentos que estou a passar agora.
Com cautela desci a rua que rodeava a minha escola que estava tão vazia que eu cheguei a ficar arrepiada, mas nunca ao ponto de ponto de sentir medo. Ainda não estava, nem nunca estive, nos braços de Bryson, mas só por imaginar a sua presença já me sentia segura, mesmo sabendo que ele era um sinónimo de perigo.
Desde que saí de casa não parava de questionar-me se Bryson iria aparecer ou não.
Eu sempre tive a pequena paranóia de imaginar o que cada pessoa faz depois das aulas terminarem. Por exemplo, imagino Isa a estudar as suas disciplinas favoritas (sendo elas quase todas), Thomas a ouvir musica alta no seu quarto enquanto os seus pais gritam pelo volume exagerado mas sem saber ao certo o que dizer porque ele é um mimado desgraçado, Tulyus a jogar Chess Master no seu computador enquanto pensava em Isa e em todas as vezes em que ela está com ele a participar do mesmo jogo. Mas, por muito que eu tentasse descobrir, não conseguia imaginar o que Bryson faria? O que mais ele gostava de fazer para além de subir a telhados velhos e ver o pôr do sol?
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Harmful
RomanceNatalie é uma das jovens mais reservadas da escola, apenas tem como companhia a sua amiga Iza, ambas alunas de mérito. Na tentativa de fazer troça delas, o grupo "machão" da escola convida as duas para uma festa de barril no meio da floresta. Para s...