Barreira.

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" Uma briga ou guerra, ambos são causados por um conflito interior. Convenhamos, existe coisa mais ameaçadora à alma que um conflito? "

Emilly olhava para Henry com os punhos apertados, aquele garoto. Não, aquele homem. Era um sujo.

As têmperas de Emilly pulsava, seu sangue corria em um fluxo rápido e irreverente, o corpo inteiro da garota estava entorpecido.

Hopkins. Você é uma Hopkins, tem a obrigação de manter o mundo livre dessa infestação de sujeira, mate-o! - a mente da garota corria em plena agonia. Seu corpo todo começou a tremer como se estivesse em convulsões, e um feito inédito aconteceu, a água excessiva encheu seus olhos juntamente com um forte ardor no nariz.

Eram lágrimas, pela primeira vez em toda sua vida Emilly Hopkins chorava, seus joelhos cederam e ela se viu em posição fetal abafando seus soluços na manga do vestido. Finalmente, Emilly tinha demonstrado humanidade, aquela seria a primeira e também a última vez que aquilo aconteceria.

Saiu do quarto junto com o punhal, aquela decisão não era definitiva.

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Susanna sentia-se cansada, muito cansada.

E uma sensação muito estranha havia lhe tomado a algum tempo, agora Susanna sentia seu corpo, nunca o havia sentido. Tudo era só a caixa, mas agora ela tinha um braço com uma dolorosa dormência e pernas latejantes. O que havia acontecido?

Haviam se passado três noites após aquela grande confusão na Ordem, onde Susanna lembrava-se da grande agonia que havia tomado sua alma todas aquelas pessoas amedrontadas morrendo sem motivo, os gritos, as lamentações ainda lhe torturavam e mortificavam seu ser.

- Susanna!? - Daniel a chamou em voz alta.

Susanna iria responder Daniel, mas não conseguiu. Tentou com todas as forças, usou todo o seu poder mental, mas não conseguia, era como se houvesse um grande muro de concreto entre Susanna e Daniel que os impedia de estabelecer uma comunicação.

- Susanna?! - chamou mais uma vez.

O rapaz se aproximou da caixa que descansava dentro do baú, Pandora distribuía olhar entre ambos.

- Susanna!- chamou pela terceira vez ainda mais preocupado - Por favor Susanna responda! Eu tenho novidades, boas e ruins.

Silêncio...

Pandora desceu da mesa e se aproximou da caixa dentro do baú, colocou a pata macia em cima da caixa e soltou um miado agudo.

- Susanna?! - chamou uma voz feminina clara.

Susanna ouviu a voz assustada, uma mulher, Pandora era uma mulher ou conseguia falar?

- Susanna, por favor querida responda se puder. Se esforce! - falou a voz.

- Sim - conseguiu falar Susanna apenas para a gata.

- Ainda bem - suspirou aliviada a voz - Você está bem?

- Quem é você? - perguntou a garota da caixa assustada.

- Está tudo bem? - insistiu a voz.

- Sim...

A gata retirou a pata e lançou um olhar de empatia para Daniel. Havia algo errado, mas Susanna estava bem.

O rapaz deitou-se na cama e seus olhos foram se fechando, estava cansado e no dia seguinte teria que ir a uma viagem às cegas para encontrar uma solução, a Ordem não podia ficar desprotegida.

Que dias eram aqueles, como as coisas haviam mudado de forma tão depressa. Até ontem, ele era apenas um rapaz e agora ao que parecia tinha o dom da vidência havia perdido um irmã e ganhado uma irmão. O que estava acontecendo?

Por mais que o rapaz tentasse permanecer acordado o sono lhe veio e roubou sua consciência.

"Preparem as cordas, amarrem os nós...
Onde estão as malditas, onde elas estão?"

Daniel se viu em espaço enevoado, não conseguiu encontrar um fim, nem ao menos se defrontar com um horizonte. Apenas uma voz infantil cantava abafada.

" Procurem -as! Procurem -as!
A lenha está pronta, o fósforo também... "

Daniel procurou a voz que cantava aquela canção macabra, uma canção de morte. Bem longe ele enxergou uma garotinha de costas, ela se aproximava como se estivesse sentada em uma esteira e Daniel podia ver as mãos dela em movimento.

" A fogueira está acessa, a força está pronta. Pronta para matar as bruxas.
Peguem as bruxas e lhe rasguem a carne, furem e deixem o sangue escorrer.
Queima, arde e mata. "

A garota estava sentada bem na frente de Daniel, mais ainda estava de costas e seus braços ainda se moviam. Daniel pôs a mão no ombro da garota, quando a menina já havia parado de cantar.

E quando ela se virou o coração do rapaz se comprimiu ao máximo, a menina estava costurando os próprios lábios, ambos os olhos estavam fechados pelos pontos da linha negra.

Como se o braço da menina tivesse sido tomado por um motor, a velocidade com que costurava a própria boca dobrou, pontos apertados.

A imagem era aterrorizante, a agulha furando a pele e dando passagem para a grossa linha preta, a menina parecia indiferente a dor que aquele procedimento deveria causar. Ela apenas continuava costurando pontos bem próximos, os pontos nos olhos da menina pareciam uma versão obscura de olhos humanos e isso tirava o fôlego de Daniel.

Ele se viu puxando o ar com força, era como se o lugar tivesse sido fechado e oxigênio tivesse acabado, Daniel estava sufocando. Ele emitia um barulho muito parecido com um som de peixe fora da água.

Então acordou, ainda puxando ar e sem conseguir respirar. Em cima de seu peito uma figura suja e nojenta encontrava-se de cócoras. Os olhos brancos da criatura o encarava com indiferença.

Os pulmões do rapaz estava comprimidos pelos peso da monstruosidade imunda em seu peito. O rosto de Daniel já estava arroxeado.

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Oii, como estão?!
Publiquem mais cedo, sei que o final parece confuso, mas no próximo vai se esclarecer.
Fiquei muito feliz com os votos e comentários, não estou lendo nada, então se tiverem sugestões deixem nos comentários!!
Leiam Academia Maxime é um livro de uma amiga, acredito que vocês irão gostar.
Obrigada!

Ordem de SalemOnde histórias criam vida. Descubra agora