Infernos II

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Amanda se certificou de escolher o chicote que causaria lacerações mais dolorosas, chamou dois de seus fortes criados para imobilizar Henry, apesar de ter certeza que o sobrinho nunca resistiria ou a enfrentaria ela queria se precaver de imprevisto. Os dois criados imobilizaram o rapaz magro com facilidade e sem resistência, já era pra evidente o que iria acontecer.

Foi exatamente uma hora de agressão, a carne descoberta de pele pulsava nas costas de Henry, ele não havia poupado lágrimas ou gritos durante a sessão de tortura, não estava preocupado em não demonstrar fraqueza como nas vezes anteriores. Desta vez ele não se importava com as palavras duras e cheias de teor humilhante cuspidas pela tia, eram apenas ele e a dor. A dor que apesar de latejante não o libertava do mar de mentiras no qual ele havia crescido.

Amanda tinha se esforçado para fazer aquele momento o mais doloroso de todos, queria que o sobrinho sentisse o que sua insubordinação era capaz de fazer. Para aquela mulher de coração petrificado, a dor era a melhor solução e melhor maneira disciplinadora. Ela mesmo acreditava que havia passado por isso.

Emilly era apática aos gritos e soluços que Henry havia soltado durante aquela hora, acreditava que talvez mesmo que um pouco, aquele sangue que escorresse dos machucados do noivo fosse um modo primitivo dele exalar sua natureza bruxa e pagã. Ela esperou Amanda sair do quarto rapaz e viu a mulher descer as escadas pelas frestas do próprio quarto.

Então, ela seguiu até o quarto que a poucos minutos eram a fonte de uma trilha sonora cheia de agonia. Encontrou uma figura com lacerações nas costas deitada na posição fetal no piso do quarto, Henry respirava de forma ofegante e sua pele brilhava com a mistura de sangue e suor.

Emilly se prostou na frente do ser machucado e olhou com repulsa o sangue que escorria dos rasgões, seu olfato estava inundado do cheiro de dor.

Henry sentiu a presença de alguém nas suas costas...

- Henry... - falou a moça antes que ele pudesse se virar.

Aquela voz aqueceu seu corpo em um abraço, era sua noiva, a única pessoa a quem podia afirmar com toda certeza que amava. Ele tentou com todas as forças responder, mas tudo que conseguiu emitir foi um gemido comprido.

- Calma, calma meu querido. - falou a garota morena - Fique assim, eu vou cuidar de você.

Emilly pôs as mãos dentro do bolso de seu vestido, de lá retirou uma sacola e pequeno pedaço de flanela. Ela abriu a sacola e com a mão em concha jogou o pó que havia retirado diretamente nas costas de Henry. Como ação imediata o rapaz ferido se deitou de bruços o que facilitou a ação de Emilly de usar a flanela para esfregar as costas machucadas.

A reação dos cortes com o sal jogado pela a moça foi rápida, a dor retornara a imergir no corpo já exausto de tortura e golpes. Henry gritou.

- Por... Que ? - perguntou o rapaz entre os gemidos.

- Estou cuidando de você. - respondeu devagar - O sal é a melhor maneira de tirar a sujeira.

Ele continou gritando. E no andar de baixo Amanda percebeu que já havia encontrado uma sucessora.

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Tiana já sentia seu corpo envolvido por areia até o pescoço, estava calma e relaxada, algo dentro de si mesma dizia que aquilo não se tratava de um fim. Aquilo não podia ser um fim.

Daniel desistira de prosseguir no deserto quando percebeu que estavam sem água, seria impossível seguir o trajeto combinado sem mantimentos, quando caiu com rosto na areia previu sua própria morte e se perguntou como alguém que havia passado por um processo evolutivo tão longo morreria sem nem completar um quinto da missão.

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