A ORDEM

4K 291 25
                                    

Os dois já estavam acostumados com o olhar do corvo, a expressão do pássaro já não surtia tanta intimidação, mesmo que os olhos do corvo demonstrasse uma vontade fora do normal de devorar os olhos dos dois aquilo já era rotineiro. E até cansativo.

- A senha - disse a criatura negra abrupta, mais impaciente do que a vez anterior.

- Bom dia, senhor corvo! - disse a menina alegremente, sem dar importância a exasperação da ave.

- Liz não fale com essa criatura deplorável - a repreendeu Daniel, ele odiava o desdém do corvo.

- A senha! - o corvo gralhou novamente, mais alto dessa vez.

- Queima, arde e mata - disse Daniel, depois de pingar uma gota de seu próprio sangue no batente da porta.

Ele guardou o alfinete que sempre usara para abrir o portal no bolso da calça velha, seu dedo já estava cansado dos golpes continuados.

A porta abriu e os dois passaram, Daniel viu o ambiente tão familiar as casas gigantesca e imponentes pintadas de cores variadas, jardins bem cuidados e coloridos, pessoas felizes. Olhou para cima e viu a gigantesca placa de ferro que ostentavam as palavras "Ordem de Salem".

Se as pessoas normais vissem aquele pequeno oásis na floresta morta, provavelmente se negariam a acreditar que ali era o lar de bruxas. A cabeça humana era fechada para ver no sobrenatural apenas a maldade latente, e Salem mostrara que os homens estavam dispostos a acender fogueiras grandes para tudo que fosse diferente.

- Mamãe vai ficar feliz pela vaca Daniel - falou Liz.

- Sei que vai, agora teste seus poderes e tente nos levar para casa - as pernas de Daniel doíam, então ele resolveu aproveitar a porta para ver as habilidades de sua irmã.

A menina fechou os olhos e se concentrou, em alguns minutos Daniel sentiu a fumaça e a sensação de flutuações. Era tão diferente se usar o anel de âmbar, do jeito que as bruxas fazia era possível ver o trajeto, como um filme acelerado. Tinham passado pelas casas, agora estavam no santuário com a estrutura imponente e circular, um palco rodeado de arquibancadas, onde os grandes anúncios eram dados.

Mas algumas casas ricamente ornamentadas e finalmente haviam chegado sua humilde casa, era pequena e parecia um pequeno rancho. Existia muitos lares daquele estilo na Ordem de Salem, apesar da Ordem ser uma das mais ricas, abrigando uma intensa fonte de magia.

Era na Ordem de Salem que as bruxas mais poderosas haviam se refugiado. Vinte anos após o acidente que segundo a história havia resultado nas mortes de cerca de cento e cinquenta pessoas a maioria mulheres. Os grandes vilões dessa história Samuel Sewall o juiz que condenou as pessoas, e Cotton Mather o pregador que acreditava em bruxaria e se encarregou das acusações.

O nome dos dois eram amaldiçoado sempre que possível, as bruxas não perdiam oportunidades de encarregar que todos aqueles que ferissem sua espécie sofressem pequenas amostras do inferno. Salem era uma ferida na história mágica, um evento cruel e assassino, que mostrara a impossibilidade do mundano e bruxo se misturarem.

A mãe de Daniel era parecida com sua filha, na verdade mãe e a três meninas pareciam as mesmas pessoas só que em etapas diferentes da vida. Daniel e Liz foram recebidos por sua mãe Kalissah e as duas irmãs Lori e Lana, tão parecidas todas com cabelos e olhos claros e corpos esbeltos.

As quatro mulheres irradiavam uma aura espectral e diáfana, cheiravam a magia latente. Caminhavam em encantamentos, fazendo os vestidos simples balançaram sob o vento fraco.

- Mamãe Daniel nos trouxe uma vaca - gritou Liz, o entusiasmo palpável na voz da menina.

- Ótimo, mais um animal nojento para cuidar - atacou Lana, já exaurida das atividades domésticas.

Todos já estavam acostumados com os apontamentos sarcásticos de Lana. Não era novidade a falta de tato da jovem bruxa, as órbitas azuis dela se pareciam com lâminas de cristais. Belas, mas também prontas para atacar qualquer um que lhe torrasse a paciência.

- Lana pare com isso,obrigada Daniel - disse a mãe. - Era tudo diferente antes de termos que fugir do fogo - suspirou nostálgica.

Daniel viu nos olhos azuis cristalinos da mão uma nostalgia dolorosa, além de uma culpa que parecia nunca ter seu fim. A mulher fazia o possível para proporcionar o melhor aos filhos, mas as dificuldades eram muitas. Principalmente, depois do que acontecera com o pai deles.

Lana saiu arrastando a vaca para o estábulo, o bicho reclamou com um mugido e a bruxa ameaçou lançar um feitiço. Era quase cômico ver alguém que reservava tanto poder sofrer para conduzir um animal tão passivo.

- Daniel, tome um banho e ponha a melhor roupa. Lucy morreu e uma nova bruxa assumirá o lugar como líder na Ordem - a mãe pediu.

- Uma bruxa de outra Ordem! - Lana gritou, já retornando do estábulo e limpando a saia do vestido. - Uma patifaria não passarem o controle da Ordem para uma bruxa que já é daqui.

- Foi a decisão mais acertada, Lana. Não discorde do Conselho, eles sabem o que é melhor - a mãe tentou apaziguar o gênio difícil da filha.

Não seria nada bom que vazasse uma suposta desobediência às decisões políticas tomadas pela Ordem.

- Uma ova - resmungou a moça.

Uma nova líder, pensou Daniel. Não podia mentir que se sentia um pouco excitado por novidades, especialmente quando elas vinham de outra Ordem.

Ordem de SalemOnde histórias criam vida. Descubra agora