Infernos.

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" Feche a porta do quarto criança, faça a sua oração e nunca esqueça de encolher as pernas ao se deitar, senão ele terá por onde arrastar."

Daniel ajudou a jovem bruxa a se recuperar do esforço que havia feito, a garganta de ambos queimava como se quilos de areia as tivessem tapando.

- Estou morrendo de sede - falou Tiana.

-Eu também - respondeu Daniel - Parece que esse ar não tem umidade.

-Você trouxe água? - perguntou Tiana.

Daniel respondeu em afirmativa com um aceno de cabeça, então ele recolheu um garrafa dentro de sua sacola e tomou um gole, depois repassou a garrafa para Tiana que repetiu o gesto e devolveu ao dono.

- Eu também trouxe, mas vamos usar sem exagero, acredito que a facilidade de evaporação aqui seja fora do normal. - falou ela.

O rapaz concordou com um sorriso tímido, eles fizeram uma curta parada analisar um mapa que Tiana havia trazido. O sol ou seja lá o que fosse que iluminava aquele céu vermelho vibrante era latejante, não demoraria muito para que os dois fossem ter fortes dores de cabeça, mas não havia nada que eles pudessem fazer para evitar já que não existia um único caminho com sombra.

Depois de definirem a rota de procura, os dois começaram a jornada.

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Henry não queria nem sair da cama, mas as necessidades haviam o obrigado a levantar e fazer apenas o que era preciso para se manter limpo. Quanto tempo que estou aqui no quarto? Pensou ele e depois se convenceu de aquilo não importava. Emilly não havia aparecido para visitá- lo e isso o preocupava.

Estava lembrando do último verão com a noiva, os dois tinham ido à praia apenas por dois dias, mas aqueles dias ficariam eternizados na memória de Henry, pois fora ali que ele se declarou para ela.

Ficaram noivos naquele dia, quando Henry decidiu dizer que o que sentia por Emilly era mais que amizade, a moça havia retribuído de seu modo.

- Levanta! - a voz de Amanda inundou o quarto.

Henry levantou assustado não havia percebido a entrada da tia em seu quarto, estava ocupado e distraído revivendo através das memórias os maravilhosos dias na praia.

- Se eu fosse uma bruxa o teria matado! - esbravejou Amanda.

- Sinto muito, prometo ser mais atento - falou o rapaz.

- Promessas não o manteriam vivo se eu fosse uma bruxa! - falou firme a mulher.

- Uma bruxa não mataria alguém com sangue bruxo. - Henry respondeu baixinho.

Amanda escutou aquilo com tamanha fúria que desferiu um forte tapa no rosto do sobrinho. Henry recebeu a pesada mão da tia no rosto com um estalo, se não estivesse minimamente escorado em sua cama com certeza teria caído, o rosto do rapaz ficou vermelho e ardido.

- Você não é como eles! - gritou Amanda perto do rosto do sobrinho. - Você é meu! Meu! Foi criado sob minhas regras!

Tomado por tamanha revolta Henry não conseguiu se controlar e respondeu de forma inconsciente.

- Sob suas regras cruéis! - gritou ele de volta - Duvido que se eu tivesse crescido com eles eu teria sofrido tanto como sofri com você! Eu cresci em um inferno.

Amanda saiu do quarto, mas retornou com um chicote e dois criados que traziam cordas.

- Prendam - no ! - ordenou ela aos dois criados.

Em outro quarto no mesmo corredor, Emilly escutava o gritos de seu noivo, podia imaginar a terrível Amanda rasgando a pele de Henry com chicote e agressões enquanto o rapaz ficava imobilizado por cordas. Emilly pediu um chá a criada e ficou confortável na poltrona acolchoada, Henry soltava gritos de agonia por ter sua pele rasgada e sua dignidade jogada fora.

Aquele era o inferno dele, o inferno no qual havia crescido.

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Daniel e Tiana emitiam sons estranhos pela boca, muito parecido com o que Daniel havia feito mais cedo quando quase morrera sufocado, parecia que a garganta de ambos havia se transformado em um osso velho e seco, eles já tinham entrado em um acordo de economizar água, já que mais de um terço tinha acabado nas primeiras horas de caminhada. Pandora, porém, parecia indiferente ao local e respirava tranquilamente.

- Eu preciso de água, estou quase desmaiando. - falou Tiana.

- Está bem, vamos tomar a minha. - completou o rapaz.

Quando Daniel pois a mão dentro da sacola e recolheu a garrafa, sentiu que o objeto estava mais leve que deveria, a garrafa devia ter dois terços de água mais parecia vazia.

- Está... Vazia...- falou com força o rapaz.

Tiana se apressou em conferir a própria garrafa e se deparou com a mesma situação que Daniel.

- Estamos sem água. - disse ela.

- Vamos continuar! Não podemos desistir.

E eles seguiram caminho, mesmo que sedentos e quase desmaiando eles persistiram.

Já se passara horas de caminhadas, o dia parecia não ter fim. Daniel e Tiana perceberam pouco antes que seus rostos haviam se enrugado e dois pareciam idosos, parar e descansar estava fora de questão não havia sombra ali, tinham tentando as frutas que trouxeram para viagem, mas aconteceu com elas o mesmo que aconteceu com os rosto.

Daniel caiu de joelhos, não tinha a menor força para continuar, seu rosto se enterrou na areia e Tiana começou a soltar guinchos e ficou puxando o braço dele, mas era inútil Daniel não podia com o próprio peso.

Eles estavam afundando na areia, Tiana reconheceu seu esforço como insuficiente e sentou ao lado do rapaz. A ruiva sentia a areia envolver seu corpo cada vez mais, e chamou Pandora para acompanhar aquele desprezível fim.

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Estou muito feliz com as visualizações e comentários! <3 Se possível repitam isso neste capítulo. Obrigada por ler!

Ordem de SalemOnde histórias criam vida. Descubra agora