UMA BREVE HISTÓRIA DAS BRUXAS

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            Lucy a líder da Ordem havia morrido, a morte não era uma coisa ruim considerada para as bruxas. Era o fim de um ciclo no mundo natural, e o início de outro em mundo desconhecido. Elas não a temiam ao contrário dançavam com ela como se fossem colegas, exceto a morte pelo o fogo, essa era mais cruel e eficaz contra bruxas. Era uma morte antinatural, que desobedecia às ordens dos espíritos mágicos.

          — O que aconteceu? – perguntou Daniel curioso.

             Ele se lembrava de Lucy, uma bruxa forte demais para sucumbir a uma morte banal. Sabia que algo devia ter acontecido.

            — O que sempre nos acontece, saímos para buscar o sustento e somos postas em fogueiras – respondeu sua mãe calmamente.

             Por mais que odiasse, não podia negar que estava acostumada a esse tipo de tragédia. Vira muitas irmãs serem assassinadas de maneira impiedosa, sem sequer terem tempo de defesa.

            — Quem assumirá agora? – instigou Lana.

              A moça não podia hesitar ter um novo rol de informações para fofoca, ainda que não gostasse muito de gente vinda de fora.

            — Pelo que sei a nova bruxa não é deste país, nasceu na Inglaterra, muito amiga de Lucy disse que assumirá em respeito a amizade – a mãe falou tudo que sabia.

            Sempre acontecia do mesmo jeito quando a líder de uma Ordem morria, a bruxa com quem ela possuía laço de afeto mais forte assumia seu lugar. Na maior parte das vezes, a bruxa ascendente era da mesma Ordem. Uma estrangeira assumir a liderança não era comum, mas também não era proíbido.

              — Como era antes, mãe? – Liz questionou pela centésima vez na semana.

              Khalissah cortava fatias de pães duros para fazer o jantar, relembrar os tempos antigos sempre a deixavam melancólicas. As lembranças boas também podiam machucar, quando pareciam ser distantes demais da realidade atual.

               — Fantástico, mesmo que os humanos naturais não soubessem de nossa existência.

                  — Até que aquela idiota da Tituba resolveu abrir o bico – falou Lana exasperada.
  
                  Liz deu um pulinho da cadeira quando sua irmã mais velha bateu os punhos nas mesas. Daniel já estava acostumado, então simplesmente pôs as mãos atrás da cabeça para escutar a contrapartida da mãe.

                   — Tituba não sabia que iria tomar essas proporções, Lana – continou a mãe. – A verdade querida é que tudo isso de seu por intolerância as diferenças. Antes não existiam religiões ou leis, mas a bruxas já existiam, somos pagãs.

                    — Os humanos dizem que pagãs são satânicas mãe – Liz deixou escapar involuntariamente o que escutara de algumas pessoas do vilarejo vizinho.

                  Lana se sentou numa das cadeiras frágeis e antigas da mesa, arrumando as botas. Pegou uma laranja do cesto e começou a descascá-la no ar com um encanto, movendo os dedos lentamente perto do peito.

                   — Os humanos têm medo de tudo que é mais poderoso que eles, por isso precisam mentir para nos matar – a moça disse. – Eles sabem que somos melhores que eles.

               Khalissah lançou um olhar de esguelha para a filha. Aquele pensamento era perigoso, era uma ambição como a de Lana que podia fazer as bruxas saírem das sombras.

                — Se consideram tão espertos e nem sabem o significado da coisas, pagã são adoradores da natureza a igreja fez com as pessoas acreditassem que era más. Por isso, fomos perseguidas. Pobre Tituba! – contou para a filha mais nova.

                 — O que fez Tituba? –Liz já conhecia a história, mas quando sua mãe narrava ela parecia mais verdadeira.

                  — Ela era uma escrava, mas também bruxa certa vez decidiu mostrar algumas garotas de quem gostava, um pouco de magia. Por alguma razão, uma delas teve pesadelos horríveis, o pai desta garota era um reverendo e chamou um médico. O médico disse que a pobre menina estava embruxada, Tituba foi acusada e levada ao tribunal por Samuel Sawell. Ela estava revoltada por ter sido expulsa de seu clã, afinal ela revelara o segredo.

      “ Tituba não só confessou como entregou as outras integrantes do clã ao tribunal, houveram terríveis confusões. Até homens foram acusados de bruxaria, enquanto mulheres era acusadas de heresias. Os maridos não confiavam em suas esposas, iríamos todas morrer, mas decidimos criar a Ordem. Para fugir dos caçadores de bruxas, perdemos a liberdade mas ganhamos a vida.”

           — Isso aconteceu há vinte anos Liz- falou Lori, que tinha se mantido calada até então. –  Perdemos muitos privilégios,não vivemos mais em sociedade e não podemos ir e vim entre uma Ordem e outra. Clãs foram separados e objetos místicos destruídos, no entanto ainda estamos vivas.

            Lori era evidentemente mais ponderada que a desbocada Lana, isso muitas vezes causava conflitos entre as duas irmãs.

            — Credo quanto positivismo, não podemos mas sai para dançar na floresta com as amigas, nem usar poções do amor, da cura, feitiços...– Lana falou.

             Daniel ficava em silêncio sempre que o assunto era a história bruxa, sentia-se deslocado por não ter nenhum poder. Pensava o quanto devia ter sido difícil para seus pais, sendo seu pai humano, sem nenhuma ascendência mágica, abriu mão de tudo para viver com uma bruxa. E no fim, quando foi buscar comida para família tinha sido acusado de heresia e morto enforcado.

             Ele ainda lembrava dos gritos da mãe ao ver os corvos devorando o seu marido, ela até tinha tentado trazê-lo de volta chamando a morte para um acordo, as outras bruxas da Ordem descobriram. E trazer os mortos de volta a vida era um feitiço proibido. Necromancia era uma área perigosa e instável. A punição de sua mãe foi a retirada dos bens, por isso tinha um vida humilde.

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