10. The band-aid

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-"Tae, não vamos falar sobre isso, por favor"

-"Foi seu pai, não foi? Foi ele quem fez isso com você"-O Tae já estava alterado, não apenas porque tinha bebido, mas também por raiva.

Todos esses anos, escondendo isso de tudo e de todos. Nunca falei sobre as agressões que eu sofria com ninguém, não estava pronto para isso, e ainda não estou.

Como explicar isso para o Tae? Explicar que meu próprio pai me agride sem compaixão, que muitas vezes já dormi chorando e com dor, e depois fui para a escola como se nada tivesse acontecido. Como se não sentisse minhas costas queimarem e estivesse tudo bem.

Suspirei fundo e coloquei meus cabelos para trás, olhando para o teto e pensando.

-"Tudo bem... eu falo" -Decidi.

Eu gosto do Tae, e confio nele, sinto que posso falar sobre isso, porque acima de tudo ele é meu amigo, amigos devem ouvir, mas também falar. Sem contar que eu não teria saída, iria ser questionado até colocar tudo para fora.

O mais novo se sentou na cama e me olhou. Me sentei também e juntei todas as palavras. Deveria explicar, mas de modo que não deixasse o Tae pior do que já está.

Como se isso fosse possível, ele já estava afundado em preocupações.

Suspirei e pus o que eu podia para fora.

-"Desde pequeno, minha mãe trabalha fora, viajando para vários países diferentes." -Comecei e brinquei com os meus dedos -"Como ela viajava sempre, e demorava meses para voltar, eu ficava com meu pai."

Parei por alguns segundos, o Tae colocou sua mão no meu ombro, para me transmitir confiança. Sorri fechado e continuei.

-"Ele sempre foi muito crítico, e preza a perfeição, não suporta erros. A primeira vez que sofri uma agressão, foi quando eu tinha seis anos. Eu estava brincando com meus amigos de futebol, e acabei acertando o retrovisor de um dos carros ridiculamente caros do meu pai. Quando ele viu aquilo quebrado, ele me pediu para ir imediatamente para dentro, e foi quando tudo começou."

Lembrar daquilo era difícil, eu era apenas uma criança, querendo brincar e ser igual a todo mundo. Até hoje tenho uma cicatriz daquele dia. Foi doloroso, como todas as vezes. Em nenhuma delas foi mais leve, só piorou.

-"Desde aquele dia, se eu faço algo que meu pai não concorde, eu sofro, durante alguns minutos, e não posso falar nada, senão é pior. Uma vez perdi a consciência e tive que ir para o hospital." -O Tae me olhou horrorizado.

-"Os médicos não perguntaram nada sobre as marcas?"

-"Meu pai disse que foram alguns delinquentes da rua, então nada aconteceu com ele" -Suspirei.

-"Por que você não o denuncia, Hobi? Isso não te faz bem, olha tudo o que você passou, e está passando" -Ele me olhou ainda mais preocupado que antes.

-"Não adianta, ele tem influência, você entende?" -O Tae assentiu e abaixou a cabeça.

-"Eu queria poder te ajudar" -Sussurou. Levantei seu rosto e sequei suas lágrimas.

-"Não faça nada, não quero que se machuque, ok?" -O puxei para perto de mim e o abracei.

Leve. Era como eu estava me sentindo. Mesmo que não tenha contado tudo, me senti melhor, o Tae me transmitiu confiança, me escutou.

Não sei como ele irá reagir depois disso, mas preciso protegê-lo de qualquer ameaça que envolva o meu pai.

O mais novo colocou suas mãos por dentro da minha camisa, levando seus dedos até minhas costas.

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