Não sei ao certo o que o destino havia programado para mim, mas agora eu tinha certeza que ele ria de mim. Ria com vontade. Ria por ter me dado tudo e depois ter me tirado.
Olho meu celular que indicava ser 13:30 hrs da tarde, e eu ainda estava deitada na minha cama.
Então a Paula entra no meu quarto.
Ela fala séria:— Bom dia, ou melhor... boa tarde.
A Bela Adormecida não vai levantar?Não me dou ao trabalho de responder. Ela anda brava pelo quarto e abre as janelas, aquele sol forte quase me cega.
— Pra quê isso, Paula? Que saco!
Ela para próxima de minha cama, me olha com as mãos na cintura e bate o pé com força contra o piso do quarto.
— Levanta, Hellen. Levanta agora! Você está horrível e o seu quarto fede!
— Caramba, me deixa em paz, Paula.
— Caramba, para de agir assim pelo menos por alguns minutos.
— Paula, não quero discutir com você.
— Mas eu quero uma discussão! Eu estou cansada de te ver assim por algo que aconteceu há anos.
Me sento na cama e já posso sentir a raiva crescendo dentro de mim. — Cala a boca!
— Não, não calo! Você acha que a Cláudia gostaria de te ver assim?
— Tanto faz, até porque ela nem está mais aqui para ver, não é mesmo?!
— Eu entendo que você se sinta assim ainda...
— Não entende não.
E só mais uma coisa: nunca mais se atreva à falar da Cláudia na minha frente!— Por que? Ela era minha amiga, ela também era especial para mim.
Até quando você pretende ficar nessa situação: presa dentro desse apartamento, sem sair, sem trabalhar, sem fazer faculdade. Sem novos amigos ou perspectivas. Você sequer namora. Eu nunca mais te vi com ninguém. Você não tem mais vida. Não se esqueça que não foi você que morreu naquele acidente.— Mas uma parte de mim sim.
— Já faz 3 anos, Hellen.
— Você não tinha o direito de me falar essas coisas.
— Não? Se olha no espelho, você nem se arruma mais. Você não tem mais motivação pra nada. Você tá um lixo. Você nem fala mais com seus pais, a não ser para pedir dinheiro para eles pagarem a sua parte do aluguel e fazerem o seu mercado.
Ouvir aquelas palavras me desmonta. Eu tinha prometido à Cláudia que eu seguiriria por ela e por mim, mas eu não fui capaz, eu não tive forças suficientes para isso.
Ainda sentada, os pensamentos à mil.
Então começo à chorar... à chorar mesmo.
Me lembro da última vez que eu tinha chorado assim, foi depois do enterro da Cláudia. Me sinto pior por lembrar disso. Uma lágrima caí apressada atrás da outra. Eu soluçava alto de tanto chorar.Abaixo a cabeça. Sinto a Paula sentando ao meu lado e me abraçando.
Recuo.— Sai daqui. Eu te odeio!
— Não odeia nada. Eu sou a sua melhor amiga, eu só quero o seu bem e sei que se fosse o contrário você iria querer o mesmo para mim.
Relaxo meu corpo e deixo ela me abraçar e continuo à chorar.
— Eu te amo demais, Hellen, sua dor é minha dor e pode ter certeza que eu vou te ajudar sair dessa!
Já deu pra perceber que minha vida tá uma porcaria, né?!
Eu sabia que a Paula estava absolutamente certa, e isso machucava demais.
Afinal não é tão fácil escutar a verdade ainda mais quando vem das pessoas que amamos.— Tudo bem, Paula. Eu aceito a sua ajuda. Mas vamos devagar?
— Claro, um passo de cada vez.
— E a propósito, quero deixar bem claro que eu não te odeio, ok?!
—Ok, rs. Agora vai tomar um banho e um café pra mim ir limpando seu quarto.
— Uhum. — Concordo secando as lágrimas da minha face. Ao entrar no banheiro ligo o chuveiro, deixo a água quente cair sob meu corpo nu. Por um momento fecho meus olhos e sinto meu corpo relaxando.
Olha no que eu havia me tornado...
Agora eu não era ninguém. Eu que sempre fui confiante demais, agora me via sem chão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Minha vida depois de você
RomanceContinuação do romance Entre Elas. Após a morte de Cláudia, muita coisa mudou, inclusive a própria Hellen. "Não sei ao certo o que o destino havia programado para mim, mas agora eu tinha certeza que ele ria de mim. Ria com vontade. Ria por ter me d...