Capítulo 5/ Hellen

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No dia seguinte acordei cedo e do nada decidi ir fazer uma visita para a mãe e o pai da Cláudia.

Quando me vejo naquele bairro familiar me sinto um pouco estranha.
Afinal o que diabos eu estava fazendo ali?
O que eu queria cutucando a ferida?

Ao descer do Uber na frente da casa, respiro fundo de olhos fechados. Bato na porta, algumas batidas leves.
Quando a porta enfim é aberta vejo o pai da Cláudia. Tenho a leve impressão de que seus olhos se enchem de lágrimas ao me ver.

— Hellen ? — Nos abraçamos. Um abraço desconcertado. Ficamos presos nele por alguns instantes. — Vem, entra!

Ao entrar na casa vejo como tudo ainda era igual, reparo que agora tinha mais fotos da Cláudia espalhadas pelos móveis da sala de estar.

— Faz um bom tempo que não nos viamos...

— É verdade. Eu fiquei muito mau quando a sua filha partiu, estou tentando voltar com a minha vida agora.

Ele me olha parecendo sentir pena de mim. Ultimamente eu sempre recebia aquele olhar, e admito, aquilo me incomodava.

— Hellen, a minha mulher não está, então eu queria que fosse ao quarto da Cláudia. A minha mulher não deixa ninguém entrar lá.
Mas você não é qualquer pessoa e se veio até aqui é porque quer alguma resposta, certo?

O sigo até o quarto da Cláudia. Tudo permanecia no seu devido lugar.
Me lembro da última vez em que estive ali.
Também me lembro que havíamos ficado sozinhas e que foi a semana antes dela partir. Se eu soubesse que ela morreria eu teria aproveitado muito mais. 
Em cada centímetro do quarto que olho vem acompanhado de lembranças.

Ele abre uma caixa pequena de madeira. Me aproximo e vejo várias fotos da Cláudia ali. Tinha fotos dela até sem o seu belo cabelo azul, algo que eu nunca tinha visto antes.

— Para minha mulher foi muito difícil perder dois filhos, ela parece estar presa à essa dor.
Eu a vejo todos os dias se perdendo um pouco mais, se lamentando também.
Mas Hellen, você é tão jovem! Você tem a vida toda pela frente!
Eu sei que você e a minha filha tinham um vínculo grande e forte. Dava para ver de longe como o amor de vocês era puro e você tornou ela numa pessoa melhor.

— Sim, a Cláudia foi o meu primeiro e único amor.

— Não diga isso... O único não! Acredite, ela ficaria feliz em te ver seguindo em frente.
Eu vou deixar você aqui à vontade, pegue o que quiser da Cláudia, se isso for te confortar, afinal você não ficou com muita coisa dela, não é mesmo?!
Pode ficar à vontade!
Mas Hellen, não se esqueça de que você está viva. Você não pode ficar presa à essas lembranças e nem a Cláudia para sempre.
Se ela estivesse aqui seria tudo diferente, mas ela não está e tudo tem um porque.
Nada acontece por acaso.
Pegue qualquer coisa da Cláudia, fotos, cartas, roupas, qualquer coisa, mas me prometa que vai deixar ela descansar em paz? Me prometa que nunca esquecerá os momentos de vocês, mas que seguirá em frente?

Depois de tantas palavras sobre a filha, o vejo se desmanchando em lágrimas. Não consigo me controlar e faço o mesmo.

— Eu queria ser capaz de ajudar a minha mulher dessa forma, mas... eu não consigo!
Me pergunto, o que será dela quando eu partir?
Por favor Hellen, me prometa que vai seguir em frente?!

Controlo minhas emoções. Lhe dou um abraço forte e digo: — Eu prometo!

Minha vida depois de vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora