Capítulo 2/Paula

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Não sei se devo levar à sério o que a Hellen falou; que quer sair desse estado depressivo que ela se encontra pós morte da namorada.
Desde o acidente de carro há anos atrás, eu não a reconhecia mais.
Senti um aperto tão grande em meu peito ao vê-la se desmanchando na minha frente.

Pego os produtos de limpeza e começo à limpar o quarto dela.
Não demoro muito, até porque no quarto dela não tem muitas coisas. Apenas seu guarda-roupa, cama de casal, uma estante com muitos livros e um pequeno móvel com algumas maquiagens, secador de cabelo e chapinha... ela nem sequer usava mais aquilo.

Por um momento breve sinto pena dela.
Troco os lençóis de cama e tiro a poeira acumulada dos móveis. Embaixo do travesseiro dela encontro o tal diário que foi da Cláudia.
Abro numa página aleatória.

"Ela é totalmente diferente de mim , mas por incrível que pareça isso me encanta.
Quando olho no fundo dos olhos dela, sei que a amo e que é recíproco.
Será que um dia teremos mais que isso?
Uma família talvez..."

O fecho com força e me sinto culpada por ter lido aquelas palavras sem permissão.
Arrumo o restante do quarto rapidamente e coloco o diário no lugar de antes.
Deixo as janelas abertas e a porta também.
Vira e meche me pergunto, será que se eu tivesse morrido no lugar da Cláudia, como será que a Bia ficaria?

Ao sair do quarto, vejo a Hellen tomando café na sala. Ao me olhar, reparo que seus olhos estão vermelhos, era óbvio que ela havia chorado durante o banho.

— Já terminei de arrumar seu quarto.

— Não precisava, Paula.

— Claro que precisava!

— Vou deitar então.

Era óbvio que ela queria voltar e se fechar no quarto longe de todos. De repente tenho uma idéia. — Vou tomar um banho e como estou de folga, vou te levar pra sair. Vai se arrumar!

— Sair pra onde? Eu não sei se...

— Nem ouse terminar essa frase!
Eu vou tomar um banho, me arrumar e vamos para o shopping.

— Eu não sei se quero.

— E aquele lance de "um passo de cada vez"?
Vamos começar com isso agora!

— Tudo bem. — Ela fala desanimada.

Me arrumo correndo antes que a Hellen desista e se deixe dominar pela tristeza novamente.

Já ia dar 15:00 hrs quando a Bia entra no nosso quarto, a recebo com um longo beijo.

— Posso saber aonde você vai linda desse jeito?

— Shiuuuu Bia, fala baixo.
Eu tive uma conversa séria com a Hellen, vou leva-la para sair.

— Quer que eu vá com vocês? Caso as coisas saiam do controle?

— Tipo a Hellen surtar ou algo do gênero? Relaxa, não precisa.
Você acabou de chegar do serviço, precisa descansar um pouco. E eu tenho tudo sob controle.

—  Tudo bem, mas qualquer coisa me liga!
Agora, sinceramente... você acha que é mesmo uma boa idéia sair com a Hellen, quer dizer... faz muitos meses que ela não sai daqui de casa.

— Não sei se é uma boa idéia, mas quero minha amiga bem e feliz de novo. E eu fazer de tudo por ela!

— Eu te entendo, queria poder ajudar ela também. — Havia uma certa dor em suas palavras. — Bom, é melhor você ir indo lá.
Juízo viu!

— Sempre mozão.

— Eu te amo!

— Eu também te amo. — Desde a morte da Cláudia, começamos a dar mais valor uma à outra, afinal nunca sabemos quando vai ser a última vez que vamos ver alguém.

Nos despedimos com um beijo, logo em seguida sigo para o quarto da Hellen.
Ela ainda estava de pijama. Conto até 10 para controlar minha raiva.
Abro o guarda-roupa dela, separo uma roupa básica: um short jeans, uma regata preta e uma blusa xadrez. Mando ela vestir e por incrível que pareça, ela obedece sem falar nada. Ela coloca um tênis e faz um coque desgrenhado com seu cabelo loiro. Pego algumas maquiagens dela. Jogo um batom rosa para que ela passe e um delineador de olhos.

— Pronto, vamos! — Falo animada.

*

Seguimos para o shopping de uber, ao chegar lá, reparo que a Hellen parecia estranhar tantas pessoas, mas enfim, era melhor do que vê-la deitada como se estivesse doente ou sei lá o que. Pego na mão dela e ela parece relaxar, então entro em várias lojas e compro alguns mimos para ela, e claro, pra mim também.
Eu queria anima-la e acho que consegui, vez ou outras a vi esboçando um sorriso tímido.

Quando chegamos na praça de alimentação, não sei como, a perco de vista.

Minha vida depois de vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora