Capítulo 20

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"O amor servia apenas para destruir nossa defesa." (Trilogia A SELEÇÃO ♡)
QUEM NÃO LEU ESSE LIVRO, LEIA! É UMA ORDEM!

Nosso beijo estava quente, aquela sensação mexia com meu corpo. Eu queria me afastar, mas meu coração dizia que não. Eu queria poder expulsa-lo dali, mas meu corpo pedia para ele ficar.

A medida que nos aproximavámos, o meu instinto pedia mais, mas eu não podia. Não podia demonstrar meus sentimentos, eu estava confusa. Era como uma grande roda gigante que não parava.

Eu não podia demonstrar meus sentimentos.

Medo, mágoas, alegria, decepções, confusões e uma carreta de pensamentos positivos e negativos tomavam conta de minha mente.

Então me afastei. Aquilo não podia continuar.

- Para! Eu não posso, não posso. -Foi tudo que consegui dizer.

Ele me olhou confuso, se afastando.

- Desculpa, eu só... -Tropeçou nas palavras sem saber o que falar.

- Não é sua culpa. -Ajoelhei em cima da cama.

- Eu me deixei levar pelo momento. Não pense mal de mim.

- Claro que não! -Implorei. - Eu que dei a deixa, eu queria, mas eu só...-Parei para analisa-lo. - Só estou confusa.

Ele assentiu e pegou as xícaras, saindo as pressas do quarto.

Fiquei olhando para a porta, arrependida.

Desculpa. Sussurrei baixo.

***

Minha irmã tinha chegado de viagem junto com meu pai e tia Luísa. Passamos a metade do sábado juntas, até eu cansar da peste e despacha-la para longe.

Não tinha visto Felipe desde a noite anterior.

Se passou sexta, sábado, metade do domingo e nada. Carolina voltaria da casa do namorado a noite. Sai com Pedro no fim de semana mas não comentei sobre todo o ocorrido.

Ouvi a porta do quarto da frente abrir. Pulei da cama e fui até lá. Felipe estava entrando com uma mochila nos ombros.

- Oi. -Disse acanhada.

- Oi. -Falou quase sem voz.

- Não te vi esses dias, tá tudo bem?

- Aham, eu tava na casa do meu pai. -Disse com tristeza.

Parou de encarar a fechadura e começou a me encarar.

- Ele está com leucemia.

Abri a boca e minhas palavras fugiram. Fiz uma cara dolorosa e me aproximei. Eles nunca tiveram um bom relacionamento desde a separação com sua mãe, mas ele o amava.

- Eu sinto muito.

Apenas o abracei. Não tinha palavras certas para se dizer, nem atitudes. Mas eu queria abraça-lo. Sabia que aquilo não resolveria, mas senti a necessidade.

- Ele está em estágio terminal. -Disse com a voz abafada.

Me afastei e segurei suas mãos. Olhei seus olhos que demonstravam tristeza.

- Meu Deus, eu não sei o que dizer, de verdade.

- Não precisa falar nada, seu abraço foi o suficiente. -Disse entre um sorriso triste.

Sorri de volta.

Apertei a sua mão esquerda com forças e fiz carinho com o polegar nas costas da mesma.

- A Carolina já sabe? -Perguntei fitando suas mãos.

- Não, e nem sei como contar.

- Eu posso, você sabe... Mas é tão triste, ela ama tanto aquele pai.

- Você pode? Eu não tenho coragem, minha irmã vai ficar desesperada.

- É tão grave assim?

Ele assentiu e grudou suas mãos na minha, me puxando para seu quarto. Me sentei na beira de sua cama e ele puxou uma cadeira de rodas, colocando a na minha frente e assentando-se.

- Ele descobriu há três anos. Piorou nos últimos meses e quando fui lá na sexta que descobri.

- Três anos e ele não contou?

- Não, só minha vó que sabia. Ele não quis contar com medo.

- E agora que ele está em estágio termjnal que ele decidiu contar? Isso não é justo. Nem com ele, nem com os filhos.

- Minha irmã vai ficar arrasada, isso não podia acontecer. -Seus olhos se encheram de água.

- Não chora. -Coloquei a mão em seu rosto.

"Não chora" era duas palavras que não era apropriada para esse momento.

- Meio difícil, não é? -Riu fraco.

- Eu sei, foi meio idiota. Desculpa.

Piscou pra mim.

- Tá tudo bem.

Fiquei muda por alguns segundos.

- Como você vai contar pra Car? E sua mãe, ela sabe?

Ele debochou.

- Minha mãe é o menor dos meus problemas, ela nunca se importou com ele depois do divórcio. -Pausou.

- Mas ele é pai dos filhos dela. Ela vai sofrer com o sofrimento de vocês.

- Talvez.

Tia Luísa se divorciou de Roberto depois de descobrir uma traição. Duas, ou três. E o pior de tudo foi que era dentro de sua própria casa, na sua própria cama. Ela perdeu as estribeiras, arremessou pratos e copos nele, segundo relatos dos filhos. Felipe e Carolina tinham apenas onze anos na época e ficaram desesperados. Depois daquilo, Felipe cortou relações com o pai, o suficiente para ignora-lo algumas vezes. Carolina já era moderada e ainda o contatava, apenas o suficiente também, mas ainda era muito apegada ao pai, como sempre foi. Por isso Felipe estava com medo de contar sobre toda a situação.

Felipe me contou sobre como descobriu a doença, sua reação e a de seu pai. Apesar de tudo, ele estava devastado. Ele amava o pai, não demonstrava de uma maneira correta, mas sua atitude no momento demonstrava todo seu afeto.

- Você precisa contar pra sua mãe e pra sua irmã.

- Vou contar pra minha mãe amanhã cedo. Vou pedir pra ela contar pra Carolina, eu não quero ver o sofrimento da minha irmã. -Parou e respirou fundo. - Ele pediu para contar tudo e irmos lá para se despedir. -Falhou a voz e olhou para o teto.

- Não tem nada que se possa fazer?

- Ele fez todos os tratamentos, mas não foi forte o suficiente. Agora ele não consegue sair da cama, está fraco. Quase não fala direito, pois cansa.

Suspirei fundo e pensei em meu pai. Toda aquela história me dava uma tristeza. Eu não conseguia e nem queria imaginar meu pai nem uma situação parecida com aquela.

Ele arqueou as sobrancelhas e fitou o chão.

- Você vai comigo?

- Pra onde?

- Quando eu for me despedir de meu pai. A Car não vai suportar e eu não vou ter forças suficiente para dar a ela. Ela vai precisar de você. E preciso de você.

Cerrei os lábios, assenti e sorri fraco.

- Serei sua super heroína agora?

- Nada mais justo. -Abriu um sorriso. O primeiro verdadeiro da noite. Eu senti aquilo.

Me despedi e fui para meu quarto. Quando cheguei próximo a porta de meu quarto, voltei para o de Felipe. Entrei rápido e o abracei. Abracei o mais forte que podia.

Ele retribuiu meu abraçou, surpreso.

- Eu também preciso de você. E eu vou estar aqui pra tudo que você precisar.

E então sai sem esperar sua resposta.

Mudados pelo Destino (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora