Tentei dormir mas não consegui. Eu chorava desde o momento que tinha voltado.
Olhei para o relógio e ele marcava onze e meia da noite. Afastei meus lençóis, amarrei meu cabelo, coloquei um casaco moletom e caminhei até o quarto de Felipe.
A porta estava entre aberta. Bati uma vez e entrei. Em toda sua glória iluminada, ele estava sentado na varanda. Se virou e quando me viu, voltou a encarar o nada.
Afundei minhas mãos no bolso do casaco e fui até ele. Permaneci em silêncio por uns minutos, procurando as palavras certas a se dizer, mas ele as achou primeiro.
- Esfriou a cabeça? -Indagou, parecendo irônico e eu suspirei.
- É, um pouco. -Fiz o possível para não olhar em seus olhos e me sentei ao seu lado.
- Eu não queria que aquilo acontecesse. Eu gosto de você pra caralho.
- Mas aconteceu. -Balancei a cabeça e ele negou.
- Não por minha parte! -Quase gritou. - Não vou ficar me desculpando com você, se sentindo culpado. -Voltou a encarar a noite.
Olhei para o seu rosto em perfil por um tempo e senti meus olhos arderem.
Eu queria acreditar que aquilo era verdade. Queria acreditar e curtir com ele os últimos dias até minha ida para Londres. Mas então aquela cena do beijo invadiu minha mente.
Aquele beijo no meio de todos os meus amigos e conhecidos, o jeito em que ela o segurava. Aquilo era uma droga.
Eu o odiei por tanto tempo e depois me apaixonei. E quando tudo se torna recíproco, a vida dá uma rasteira. Porque sempre que tudo está indo bem, a vida decide colocar uma pedra no caminho como obstáculo?
A única coisa que me impedia de beija-lo naquele momento, foi o meu orgulho. Tentei conseguir forças para falar.
- O que acontece agora? -Falei quase sem voz, com medo da resposta.
- Não sei. -Respondeu ríspido e tive vontade de chorar, mas não tinha mais lágrimas para isso. - Você não acreditou em mim. Como que isso pode continuar?
Mordi os lábios.
- Eu não quero terminar algo que nem começou direito. Vou embora em poucos meses, quero aproveitar tudo que posso. -Pausei. - O que você queria que eu fizesse quando vi aquela cena? Aplaudisse? Caramba, se ponhe no meu lugar.
- Se fosse com você, eu acreditaria na sua palavra, pois é assim que um relacionamento funciona, Beatriz. -Falou grosso.
- Desculpas! -Cuspi. - Eu não acreditei em você, me desculpa. Eu estava errada, era isso que você queria ouvir? -Resmungo com raiva.
Ele me encarou e vi fogo em seus olhos. Sua expressão era de raiva. Segurou minhas mãos, fazendo carinho.
- Você sempre complica as coisas mais fáceis. -Falou amargo. - Eu estou de cabeça quente e você também. Amanhã a gente conversa. -Falou se levantando e custei a me levantar também.
Ele parou em frente a porta, a abrindo. Ele estava me mandando ir embora, praticamente.
Antes de passar pela porta, o abracei, prendendo meus braços na sua cintura. Eu precisava daquilo, mesmo com toda a situação e por causa da situação. Ele apenas apertou meu ombro.
Me senti uma nada com aquilo. Ele não retribuiu meu abraço.
Talvez eu tenha merecido aquilo.
Fui para meu quarto e afundei meu rosto no travesseiro, gritando.
***
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Mudados pelo Destino (EM REVISÃO)
Teen FictionMágoas de infância de Beatriz podem voltar dolorosamente quando Felipe retorna ao Rio de Janeiro. Beatriz é obrigada a lidar com sua "raiva" pelo menino, mas as coisas podem mudar quando descobrem uma notícia nada agradável. Será que toda essa raiva...