08:47am
O frio no hospital é quase doloroso. Andar de um lado pro outro talvez ajudasse, se meu corpo não estivesse quase congelando. Me fizeram aguardar por quase quatro horas até o horário de visita, e bem, até que eu ficasse melhor, já que assim que cheguei, estava chorando e respirando como se lutasse para isso.
Não consegui ir mais devagar. Não consegui parar e esperar um ônibus. A imagem dela em minha mente fazendo com que eu corresse como se não houvesse mais tempo.
-Lauren? - Ouço a voz conhecida bem ao meu lado. Sinuhe tem uma expressão de pena e dor estampada no rosto. Nos olhos vazios. Nós não trocamos nenhuma palavra antes do abraço. Um abraço longo, carinhoso. Abraço de mãe. Eu sinto falta daquilo.
-Preciso vê-la. Eu preciso falar com ela. A senhora precisa deixar...
-Quarto 97, minha querida. Ela vai ter alta logo. E então apenas o tempo dirá.
Algo dentro de mim alarma. Apenas o tempo dirá. Isso é ruim. Não confio no tempo. Mas Sinu tem uma expressão tão triste, então eu apenas guardo minhas perguntas para mim.
O quarto 97 fica um andar acima. Subo até lá devagar, minhas pernas quase parando de funcionar. Estou tão nervosa que poderia desmaiar. Minhas mãos estão suando, mas ainda fechadas, segurando a única coisa que eu consegui levar até ela. Uma margarida. Pequena e quase morta entre minhas mãos. Uma margarida que havia crescido na rua asfaltada de alguma forma, e que agora pertence a ela.
Minha margarida parece menor ainda quando entro no quarto, e vejo dois enormes e belos buquês de flores. Tudo o que consigo fazer é observar todas aquelas flores que não pude trazer, e depois desviar o olhar para a pequena flor quase morta na palma de minha mão.
Não é o suficiente.
Penso em jogá-la pela janela do quarto e fingir que nunca existiu. Mas assim que olho para a maca no centro do quarto hospitalar, paralizo, simplesmente porque Camila pode ser dolorosamente linda, às vezes.
É injusto que o seu cabelo pareça tão maravilhoso mesmo que talvez não tenha sido lavado nos últimos dias. É injusto que ela pareça tão bonita mesmo usando aquelas roupas largas do hospital. É injusto que a luz do sol bata nela e faça-a brilhar mais do que o próprio sol. É tão injusto.
- Hm, mãe? - Ela chama, olhando em minha direção mas não diretamente para mim. Parece olhar para algo em cima de mim ou ao lado.
- O-Oi, eu sou L-Lauren. Eu vim... vim ver você - Droga. Aquela frase havia saído um completo desastre. É claro que eu havia vindo para vê-la, mesmo que ela nem olhasse para mim.
- Eu sabia que você iria voltar, Lolo. Vem cá!
Tento me convencer de que ela fala assim tão docemente com todos e que a animação em sua voz não é apenas porque sou eu, mas minha mente estúpida já está enviando arrepios por todo o meu corpo. Me aproximo devagar, fazendo barulho no chão já que ela não parece querer olhar diretamente para mim.
- Você está usando botas? - Ela perguntou, de repente, estendendo a mão em minha direção - Achei você.
Ela me alcança e segura minhas mãos entre as suas, sorrindo suavemente, brilhando como o sol. Por que eu quero tanto acariciar seu cabelo? Por que eu me importo tanto com aquela coisa que parece uma lua em seus olhos? É como se a pupila tivesse crescido e se tornado branca, e agora parecia com uma pequena lua cheia, afogando no castanho. Eu me preparo para perguntar algo, mas antes que eu fale, noto um pouco tarde demais que ela encontrou a flor murcha em minhas mãos. Camila sorri e levanta-a então eu consigo ver.
-Razões para sair com Lauren Jauregui. Ela te traz uma flor. Adorável, não é? - Ela faz a propaganda enquanto tenta segurar a risada infantil. E eu tento não corar.
-Hmm, não tem nada de especial. É só uma...
-É especial desde que você me deu, Lo. E eu não sou a melhor adivinhando, mas é uma margarida?
Eu não sou a melhor advinhando, mas posso advinhar que estou certa sobre tudo. Ela não pode me ver, nem pode ver a flor em suas mãos. O câncer, a lua em seus olhos, o desmaio. De repente, eu me sinto sufocada.
-Você tá aí, Lo?
Ela soa assustada. Uma criança assustada. A pequena Camila Cabello, minha melhor amiga. Olho-a com lágrimas nos olhos.
-É-É. É uma margarida e eu não consigo aceitar o fato de que você está doente e tudo o que eu posso fazer é esperar que você vá. Quer dizer, eu sei que não posso exigir muito já que nós claramente não temos mais nada a ver mas eu só queria saber o que diabos está acontecendo e por quê. Por que, Camila, porque você não merece nada disso.
Ela espera. Espera e ouve meu monólogo. Ouve minha voz triste, minha voz quebrada. Eu estou quebrada. Eu não entendo.
Depois de tudo, ela cheira sua margarida e sorri suavemente.
-Eu amo margaridas, sabe? Um monte de pessoas me trouxe flores, mas você me trouxe uma margarida - Ela ainda sorri com seus olhos fechados e tudo o que eu quero é admirá-la pelo resto da minha vida - Você me trouxe minha flor favorita. Obrigada, Lo.
- Eu posso te trazer margaridas para sempre se você quiser, mas e sobre o fato de você estar doente? Você se recusa a me contar sobre isso e eu...
- Você continua se preocupando comigo enquanto esteve doente por anos - Camila ri como se fosse algo simples para dizer naquela situação - Quer dizer, eu nem sei se você está viva o suficiente para estar doente. Eu sei que eu estou aqui, e sei que as coisas serão difíceis agora, mas aqui dentro, Lo - Ela apontou para o próprio peito e eu senti o meu pesar - eu ainda estou viva. Eu... me preocupo com você, Lolo.
É perturbador. É como se ela estivesse arranhando meu rosto com suas unhas, tentando arrancar a máscara que precisei usar por anos. É como se seus olhos arrancassem meus segredos, e toda a minha resistência. Seja resistente, Lauren. Seja resistente. Seja sincera. Droga, Lauren.
- Você está morrendo - É tudo o que eu consigo cuspir, porque é tudo o que passa pela minha mente. Essas palavras foram as mais dolorosas que eu disse, e ainda assim, Camila abriu um sorriso de canto, triste e cheio de pena, antes de quase sussurrar as palavras que pareciam estar na ponta da sua língua.
- Você está morrendo.
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Hi, como vocês (falando sozinha?) estão?
Eu tenho alguns capítulos prontos. Vou postando devagarinho. Espero que estejam gostando. Ou entendendo.
E a propósito, camren ainda é meu otp, apesar de tudo, hehehe.
@cabellsfairy
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La Vie
RomanceCamila e Lauren se reencontram em um hospital, depois de oito anos. As duas estão doentes, e o tempo está passando mais rápido do que deveria. Mas sempre há mais tempo. Tempo de consertar; tempo de amar. E essa é a vida.