De noite, depois do jantar e de um banho, ligo para Camila. Não espero que ela atenda, quase posso vê-la dormindo, sonhando. Mas depois de estar quase desistindo, ouço sua voz do outro lado da linha.
- Lo!
- Como você sempre sabe?
- O toque é diferente pra você. Sofi fez isso pra mim. Como você está?
- Estou bem - Pela primeira vez em que eu me lembro, não é mentira - Eu fiz uma coisa hoje. Mas é surpresa.
Depois disso, ela fica em silêncio. Achei que tivesse dormido. Mas depois de, pelo menos, quinze minutos, volta a falar.
- Bem, então precisamos nos ver de novo. O que você sugere?
-Lembra daquilo que eu falei sobre um encontro entre sua família e o que sobrou da minha? Hoje eu comi com a minha mãe. Acho que ela está tentando. Isso seria...
- Adorável. Vamos trabalhar nisso. Vou falar com minha mãe, e peço pra Sofi mandar uma mensagem. Não aguento mais ficar em pé, preciso desligar, ok? Boa noite...
A ligação termina de repente. Caio na cama, uma nuvem de preocupação sobre mim. Eu não gosto quando ela está fraca. Quando o câncer toma conta e tenta derrubá-la. Isso me faz pensar que ela é infinitamente finita, e que o tempo é limitado. E dói. E traz lágrimas aos meus olhos. Choro sobre a pulseira especial em meu pulso, sussurrando todas as coisas que eu não tenho coragem de dizer olhando naqueles olhos castanhos com uma lua no meio, até dormir.
...
Acordo cedo, por algum motivo. Meus olhos se acostumam com a claridade e meu cérebro trabalha para lembrar de algo importante. Lembro bem quando vejo meu celular, piscando com uma nova mensagem.
"Hoje a noite você e sua mãe tá Sofia é linda"
Sorri, imaginando a garotinha esperta digitando rápido no celular da irmã, adicionando a última parte da mensagem com um sorriso. Tão esperta.
Chequei o horário. 6:50. Eu preciso alcançar minha mãe.
Não é preciso correr muito; esbarro com ela assim que saio do quarto.
- Oh, Lauren. Você... Acordou cedo? Eu estou meio atrasasada e... não tem contas para pagar ainda, você pode...
- E-Eu precisava... Sabe se vai estar em casa hoje a noite?
Ela pensa por um minuto, passando a mão pelo tecido do uniforme.
- Provavelmente. Tenho conseguido sair mais cedo, adiantando o trabalho. Precisa de algo?
Reúno qualquer coragem que eu tenha no corpo, e respondo.
- E-Eu queria saber se... se gostaria de ir até a casa dos Cabello, hoje. Comigo. Eles nos convidaram para um jantar.
Ela parece perturbada por um tempo. Olhando para mim como se tentasse descobrir se é algum tipo de brincadeira. Tento colocar toda a sinceridade nos meus olhos.
- Ah, Lauren. Faz tanto tempo... Eu não sei se consigo.
- Eu sei que consegue. Eu tenho conseguido, não é? Por favor... Eles estão esperando...
Ela ainda pensa, ainda perturbada com a proposta. Passamos um tempo na mesma posição até que ela respira fundo, e desvia o olhar pra mim.
- Posso responder quando chegar? Eu não consigo...
- Está bem.
Simples assim. Ela desce as escadas quase correndo, sem nem se despedir, e eu fico paralisada, pensando em todas as possibilidades. Ela pode vir. E também pode não vir. Pode se atrasar. Chegar cansada demais. Chegar triste demais. As possibilidades vão me enlouquecer. Ou iriam, se eu não tivesse recebido uma mensagem de Camila, ou Sofia, me chamando para ir até lá.
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La Vie
RomantikCamila e Lauren se reencontram em um hospital, depois de oito anos. As duas estão doentes, e o tempo está passando mais rápido do que deveria. Mas sempre há mais tempo. Tempo de consertar; tempo de amar. E essa é a vida.