Quando pulo os degraus e chego no andar de baixo, minha mãe está colocando o café na mesa. Já usa o uniforme do restaurante, e sua expressão é cansada e triste como se já tivesse trabalhado por horas.
- V-Você vai sair h-hoje? - Ela pergunta assim que eu me aproximo. Nem consegue levantar os olhos para me encarar, como se eu fosse um monstro terrível.
- Eu... Hm... - Camila. Minha mente avisa, mas os olhos dela encontram os meus, tão cheios de dor e exaustão... eu não consigo dizer - Você quer que eu faça algo?
A mulher suspira como se estivesse prestes a dizer algo muito difícil. Então coloca seus olhos nos meus. E eu posso sentir a intensidade das suas palavras.
- Você está se dando bem com os Cabello? - Ficamos em silêncio, e eu me pergunto o quanto ela sabe sobre o que está acontecendo. Quer dizer, nem eu sei o que está acontecendo. Quase não consigo responder. Huh, sim, eu estou me dando bem com os Cabello, e com uma deles em especial.
- Eu só estou... É, eu... Desculpa - Não sei bem porque peço desculpas, mas peço. E ela ri. É a primeira vez que eu a vejo rir em alguns meses, e aquilo me faz sentir vontade de rir também - O que houve?
- Você não tem que pedir desculpas, Lauren. Eu estou feliz por isso.
Sorrio, sem mostrar os dentes. Faz tanto tempo que não temos uma interação com algum sorriso que eu não sei mais o que fazer depois. Acabo decidindo que tomar o café é a melhor opção e minha mãe sai para o trabalho, quase que imediatamente. Tomo uma xícara de café com rosquinhas enquanto me olho no espelho pelo menos 30 vezes, de todos os ângulos possíveis. Nervosismo. Eu estou nervosa e não faço ideia do porque.
Antes que Camila tenha que me ligar, estou no quintal vizinho. Eu posso vê-la dali, na janela, com um sorriso suave nos lábios, como se pudesse ver tudo dali. E droga, Camila Cabello me faz querer gritar.
- Jogue as tranças, Rapunzel - Tento gritar alto o suficiente apenas para que ela escute. Ela escuta. E sorri, pura e cheia de luz.
- Uh, eu sinto muito - Grita de volta, mostrando o cabelo que, mesmo longo, não alcançaria o chão - Procure outra princesa. Ou a porta.
- A porta, Camz.
Seu sorriso é totalmente radiante antes que saia da janela, e meu coração quer voar. É tão assustador que uma das pessoas por quem meu coração pareceu parar, agora faz com que ele bata enlouquecidamente. Droga, Lauren.
É difícil para mim bater em portas. A ansiedade me faz quase desmaiar pensando em quem vai atender. Mas é apenas Sofi, de novo, e isso me faz respirar aliviada.
- Minha irmã está te esperando igual uma Julieta - Anuncia com um sorrisinho de canto, antes de vir me abraçar. Seu abraço é tão puro, que me faz sentir honrada por recebê-lo. Ainda estou abraçando o pequeno corpo de Sofi quando ouço aquela voz familiar de algum lugar perto da escada.
- Lolo?
Perto da escada. Me desvencilho do abraço e corro até a escada, orando para que ela não tenha tentado descer como descia antes. Eu me lembro da pequena Camila pulando os degraus e agora isso não parece nem um pouco seguro.
- Camz, por favor, fica parada - Minha voz é puro desespero, e não melhora quando vejo Camila com um pé no primeiro degrau - Camila, não dá mais nem um passo, pelo amor de tudo que é sagrado, você vai descer essa escada rolando, eu não vou me perdoar por isso.
Sofia gargalha atrás de mim, deitada no chão, e Camila ri baixinho, mordendo o lábio como se estivesse se controlando para não gargalhar.
- Você está toda vermelha, não é? Eu aposto que está. Vem aqui.
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La Vie
RomanceCamila e Lauren se reencontram em um hospital, depois de oito anos. As duas estão doentes, e o tempo está passando mais rápido do que deveria. Mas sempre há mais tempo. Tempo de consertar; tempo de amar. E essa é a vida.