05:25am
Meu corpo me obriga a acordar. Me obriga a pular da cama e correr até o banheiro. Então me curvo sobre a pia, e espero.
Nada. Meu estômago balança violentamente e repuxa várias vezes como se fosse expulsar algo. Mas nada sai. Nada além de lágrimas e pequenos gemidos, como se meu grito se perdesse em algum lugar e se transformasse em gemidos fracos e desesperados. E depois não eram mais gemidos. Eram palavras.
— Desculpa — Uma respiração desesperada — Camila — Um gemido fino, quase um grito — Não morra.
O câncer voltou.
Meu estômago finalmente decide parar de empurrar, e deixa só uma sensação incômoda, um vazio. Meu corpo está gelado, mas eu estou suando como se tivesse corrido uma maratona. Minha mente é um borrão. Vou desmaiar.
O sonho que tive foi dolorosamente real. Aquelas memórias que eu lutei para adormecer, acordaram. E está doendo. Doendo como a pancada mais forte. Mas eu preciso vê-la. Eu preciso.
05:50am
—Mãe, estou saindo — Aviso, tentando andar mais rápido pela sala para evitar qualquer palavra. Mas não consigo.
—Lauren? Você não me disse nada sobre ter tido alta. Precisamos falar sobre o que aconteceu, eu... — Clara suspirou quando percebeu que não deveria falar sobre aquilo. Ela não teria tempo para conversar, de qualquer forma — Para onde você vai, Lauren? Eu achei que fosse pagar as contas. Vou precisar trabalhar três turnos hoje, eu sei que você odeia quando eu preciso fazer isso mas nós...
—Precisamos do dinheiro. Eu sei. Está tudo bem. Eu vou pagar as contas.
Penso em perguntar se ela está bem. Perguntar sobre as olheiras, sobre a respiração cansada. Falar sobre Camila. Sobre o aperto em meu peito. Mas não tenho coragem. Não vendo ela vestir o uniforme do restaurante em que trabalha como cozinheira. Não vendo sua expressão triste. Ela já tem o mundo nos ombros, e eu não preciso piorar isso.
Saio sentindo um aperto doloroso no peito. São sete anos. Sete anos desde que meu pai morreu de uma parada cardíaca repentina. Desde que minha mãe precisou carregar o peso da casa em seus ombros, pegando todos os turnos que podia pegar para trazer o máximo de dinheiro para casa. Eu queria ser grata. Eu adoraria. Mas nós não somos muito próximas. Não somos próximas de jeito nenhum. Parecemos mais como pessoas que foram colocadas na mesma casa de repente do que como mãe e filha.
Mas não penso nisso agora. Só penso no caminho até o hospital, na garota da doce gargalhada, e nas peças perdidas do quebra-cabeça da Monalisa.
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Ei, espero que as peças não estejam muito perdidas pra vocês.
@cabellsfairy97
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La Vie
RomanceCamila e Lauren se reencontram em um hospital, depois de oito anos. As duas estão doentes, e o tempo está passando mais rápido do que deveria. Mas sempre há mais tempo. Tempo de consertar; tempo de amar. E essa é a vida.