41. it's a cold and it's a broken hallelujah

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Todas as vezes em que eu ouvi Camila ressonar enquanto dormia, resmungando algo e me puxando mais perto, quando nós conversamos sobre coisas engraçadas, quando ficamos em silêncio segurando as mãos. Em todas as milhares de vezes em que ela me salvou de mim mesma, ou quando fazíamos amor, e eu sentia seu corpo tremer sob o meu, e então, nossos corações batendo juntos, ao mesmo tempo; eu acreditei que havia conhecido o amor. O amor era o que fazia parecer que meu coração estava expandindo até não caber mais no corpo. Então, quando meu coração sangrou e quebrou e eu senti mesmo assim, descobri que havia mais para conhecer.

Caí sem perceber em uma das fases de anestesia profunda. Em janeiro, enquanto as chuvas de inverno caíam, passei a maior parte do resto das férias no hospital lendo livros, falando sobre qualquer coisa, contando piadas e tentando estudar e fazer exercícios para o SAT em maio. Camila sorria para mim da forma mais doce, me ouvia falar assentindo de vez em quando, e se esforçava muito para responder, mesmo gaguejando, e travando com palavras difíceis. A melhor parte do meu dia era aquela. Quando estava em outros lugares com outras pessoas, estava pensando em estar naquele quarto, ao lado daquela garota. Quando precisava sair do quarto para deixar outras pessoas terem algum tempo a sós com ela, ficava andando de um lado para o outro, inquieta, pensando em formas de entrar lá de alguma forma, de novo. Era um tanto egoísta mas por Deus, o que mais eu poderia fazer?

Quando as aulas começaram, foi difícil manter minha cabeça ali. Era como se estivesse vivendo apenas para o fim de todas aquelas aulas, quando eu levaria uma margarida até o hospital. Conseguia fazer as tarefas e os trabalhos, conversar com algumas pessoas, mas o dia inteiro, era como estar apenas observando. Às vezes, experimentava repetir para mim mesma o que estava acontecendo. Da forma mais crua possível. O tempo está acabando. Camila está morrendo. Vou perdê-la. Mas nada. Nem uma lágrima caía e que doloroso é não conseguir sentir absolutamente nada.

Os dias continuaram sendo os mesmos, se arrastando em uma monotonia tão torturante que eu ousava me perguntar se esse era o fim. Se acabaria dessa forma. Não que fosse ruim. As dores podiam ser acalmadas com remédios, e Camila parecia genuinamente feliz em todas as vezes que eu podia vê-la. Mas eu gostaria de sentir, implorava desesperadamente para sentir. A dor, que seja. Camila Cabello é o amor da minha vida e está morrendo, e a coisa mais desesperadora era não chorar ou sentir algo ao pensar nisso.

No último dia da tortura monótona, quando eu estava me despedindo á noite para ir para casa, ela segurou meu rosto com uma mão de cada lado. Seus olhos com uma lua brilhante no meio focaram nos meus de forma perfeita como se pudesse ver onde estavam. Ela passou alguns minutos assim, olhando de forma indecifrável. E então finalmente, o som dos anjos deixou seus lábios. E foi a última vez que eu a ouvi cantar.

Love is not only a victory march
(O amor não é apenas uma marcha de vitória)

It's a cold and It's a broken hallelujah
(É um frio e sofrido aleluia)

Quando ouvi aquela voz quebrada, tudo em mim quebrou e gritou em voz alta. E então eu soube que aquele era o começo do fim. Não compreendi o que as palavras queriam dizer, no entanto. Não ali. Não naquele momento. Minha mente estava em como ela conseguiu forças para cantar sem gaguejar nenhuma vez, e em quanta sinceridade eu podia ver em sua expressão, e eu não pude ver o que aquelas palavras queriam dizer. Achei que fossem apenas um trecho aleatório de uma música de Leonard Cohen. Um trecho que quebrou a cela de pedra gelada em que estavam aprisionados todos os meus sentimentos, e os fez correr por minhas veias, esquentando, queimando. Por aquela noite, era tudo que aquelas palavras fariam. E já era muito.

...

Um dia depois do fim da monotonia torturante, entrei no quarto para encontrar uma Camila transtornada. E todo um transtorno em volta.

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