43. la vie

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Eles levam o amor da minha vida para algum lugar, correndo. E eu me mantenho parada, olhando para o lugar onde ela estava. Os sons em volta de mim parecem distantes. Tudo parece distante. As últimas palavras ecoam em minha mente e me mantém de pé.

Vejo o pai dela entrar de volta no quarto com o celular na mão e um olhar preocupado. Está chorando, e eu posso ver em seus olhos o quanto se segura para não desabar.

— Filha, eu... Nós... — O homem parece sem jeito, rodando o celular na mão trêmula — Precisamos que vá até nossa casa ficar com Sofia. Sei que pode ser pedir demais nesta situação, mas ela está sozinha em casa e é melhor que não venha até aqui agora. Já... Já houveram despedidas o suficiente, não é? Camila não consegue respirar ou suportar a dor, ela está...

Alejandro Cabello desaba em um choro forte como uma tempestade antes mesmo de terminar a fala. E eu me sinto tentada a fazer o mesmo.

— Eu vou. Cuidarei dela, eu prometo.

Foi como fazer uma promessa pra mim mesma. Pensei na promessa enquanto dava um abraço apertado em minha mãe, dentro do táxi para casa, e quando entrei na casa dos Cabello, o que me causou um arrepio. Apesar de tudo, pensar que alguém estava ali em um dia e então não está mais é terrível. Tão terrível.

Sofia não responde quando chamo. Não está na sala, na cozinha, em nenhum banheiro, no quarto dos pais ou no seu. Quase me desespero até olhar para a porta do quarto de Camila. Quando tento abrir, está trancada.

— S-Sofi? Você pode abrir?

— N-Na-Não! — Os soluços são altos e violentos, e eu quase posso ver o corpo pequeno se balançando com tanta dor. Encosto a testa na porta e sinto as lágrimas voltando a cair. A tempestade se aproxima — P-Porque é que a mi-minha ir-mã p-pre-cisa m-mo-morrer? Ela e-era a melhor irmã d-do mun-do. Era m-mi-minha melhor amiga. P-Por que ela n-não p-pôde melhorar?

— Eu... Eu não sei, Sofi. Eu não sei.

Quando a porta se abre e ela se joga no meu colo, abraçando apertado e chorando como um bebê, eu sei que isso aconteceu apenas porque eu parecia desarmada. Porque ela soube que não escutaria frases prontas ou conselhos que ninguém é capaz de seguir em um momento de dor. Ela soube que quando abrisse aquela porta, teria uma amiga e apoio. Alguém para apenas sentir a dor com ela.

Eu a levo de volta para o quarto de Camila e nós choramos juntas. Apenas choramos e sentimos a dor, por um tempo que parece enorme. Parece que nosso corpo nunca vai parar de tremer com os soluços. Os da garotinha quebram meu coração, mas é tão necessário, eu sei. É tão necessário deixar pelo menos parte daquilo sair de uma vez. Então nós deixamos. Está tudo bem em dizer coisas ruins, quase gritando. Está tudo bem em não conseguir ver as coisas de um jeito bonito. Ela entenderia. Ela entende.

O choro diminui gradativamente. Consigo dissipar a névoa de anestesia dolorosa apenas para balançar o pedacinho de Camila nos meus braços, e fazer um cafuné lento. Ela tem os dedos enrolados nas pontas do meu cabelo e mexe devagar.

— V-Você ai-ainda v-vai f-ficar c-comigo? — Ela pergunta, soluçando tanto que dói ver. Os olhos castanhos e avermelhados encontram os meus, e então o mindinho que estendi em sua frente. Ela entrelaça nossos dedinhos e é a primeira coisa que me faz sorrir depois da perda.

— Vamos ficar juntas, pequena. Eu e você. Vamos ficar firmes, e vamos fazer todas as coisas que Camila gostaria de ter feito. Você é como uma irmãzinha pra mim, Sofi. Eu estarei aqui, e cuidarei de você. É uma promessa.

Sofia me abraça com força, e eu só quero ficar parada ali para sempre, sentindo o amor e a confiança. Mas ela soluça tanto que algo em mim se agita para tentar resolver aquilo. Carrego a garotinha até a cozinha nas costas e faço um copo de leite quente. Algumas lágrimas caem de repente, e subitamente, eu só quero me afundar na cama. Mas me mantenho firme pela Cabello mais nova, que se esforça para me mostrar um sorrisinho enquanto toma o leite quente. Os soluços param gradativamente.

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